Quem me lê – dos silenciosos aos superfãs, categoria criada pelo Facebook que me mostrou que os leitores mais assíduos são meus maiores críticos – sabe: tenho a mania de não condenar ninguém, cidadão ou político, usando do mau humor geral da nação para permitir apenas a presunção de culpa e caçar cliques no Grande Tribunal das Redes Sociais.
Para usar dois exemplos distintos, de Gravataí, fiz isso na história do bruxo de Gravataí que ganhou as manchetes por supostamente sacrificar crianças. Tratei disso em um documentário em vídeo, Percorremos os caminhos do ritual satânico, e no artigo-flauta Ritual satânico, o maior mico da história da Polícia Civil gaúcha.
Acertei.
Perdoem-me pela máxima mal colocada pela situação, mas “o diabo sabe não porque é o diabo, mas porque é velho”.
No caso das ‘candidatas laranjas’, que ameaçava os mandatos de três vereadores, e tratei da absolvição em Como vereadores de Gravataí se livraram da cassação; as laranjas kafkianas, fiz o mesmo: li as denúncias e cravei que, caso condenados, seriam os políticos como Josef K., de O Processo, de Kafka, que perguntado se “culpado ou inocente”, inquiriu:
– Inocente de quê?
Faço essa introdução, longa para os padrões do “não escreva além dos caracteres que fazem o Facebook recomendar o LEIA MAIS", porque, você, que sobreviveu até aqui, deve ter o bom costume de ir além da manchete. E sabe que, aqui no Seguinte:, inclusive nos silêncios de nossa equipe, terá contexto, e os fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos.
Chegou ao Conselho dos Direitos da Criança do Adolescente (CMDCA) e ao Ministério Público um ‘dossiê’ com denúncias de irregularidades na eleição do Conselho Tutelar. Chegou também para mim, por meio de uma das denunciantes. De uma forma que me pareceu mais ingênua, do que interesseira, já que interessada o é, porque a fonte concorreu, e não teve sucesso, na eleição do dia 7 de outubro.
Assisti aos vídeos, ouvi os áudios, olhei por minutos para os prints de rede social e não consegui identificar provas de abusos que pudessem levar à uma anulação da eleição, como requerido ao CMDCA e ao MP.
Aqui não estou transformando candidatos e eleitos na Irmã Dulce. Sabemos todos, e tratei disso no artigo pós eleição Quem ganhou na eleição para o Conselho Tutelar de Gravataí, que a eleição para o Conselho Tutelar, em Gravataí, e do Oiapoque ao Chuí, é uma ‘gincana’.
Ganha quem ‘mobiliza’ mais gente.
Se Beltran@ ‘mobiliza’ pela admiração pelo trabalho, Sicran@ pela relação política, e Fulan@ pela média do dinheiro estabelecida entre uma cachaça com bitter e uma cesta básica, como nas ‘gincanas’ tão tradicionais de Gravataí, a turma salta quebra-molas arriscando até matar alguém – e aqui não é uma metáfora política.
Mas isso não importa neste momento. A pergunta é: tem provas?.
Pelo ‘domínio do fato’, anularíamos uma eleição após a outra.
Não vi provas nas denúncias, no que vou decepcionar minha fonte, tão ansiosa nos últimos dias pelo que sairia no Seguinte:, me apontando como a última instância a quem recorrer.
A promotora Juliana Nahas Gavião também não identifica um escândalo.
Quem já teve a chance de conhecê-la, sabe que é uma pessoa direta e que não foge de polêmicas envolvendo a causa que ama: a Infância e Juventude.
– Não estou para palhaçadas ou fofocas. Não vou alimentar intermináveis brigas eleitorais. Não há dossiê, há prints de redes sociais, um áudio que não prova nada e um texto opinativo com o desabafo que uma candidata – resume aquela que é a ‘fiscal’ da eleição para o Conselho Tutelar.
A promotora não esconde a insatisfação com as poucas exigências para candidaturas, mas relata ter percorrido a cidade nas eleições sem flagrar irregularidades como compra de votos.
– Infelizmente o problema está na forma de eleição.
Juliana adianta o entendimento da Promotoria sobre passagem do edital que poderia comprometer candidatos que tiveram vereadores como cabos eleitorais, e alertei no artigo Indicação política pode cassar na eleição para Conselho Tutelar; o que seria isso?, antes da eleição.
– É dos direitos de qualquer um pedir voto – resume, observando que representariam ilegalidades apenas o uso de siglas partidárias ou do fundo eleitoral de partidos para campanhas ao Conselho Tutelar.
Ainda assim, ela questiona sobre a desproporção de cassar um eleito pelo erro cometido por um cabo eleitoral, mesmo que políticos conhecidos na aldeia.
A promotora explica que, independentemente da robustez das provas, a comissão eleitoral recebeu as denúncias e as averiguações estão sendo feitas.
– Estamos tendo todo cuidado, mas não deixaremos coisas sem importância contaminar a eleição. Não há esse show de horrores que alguns propagam.
Patrícia Gautério Dias, presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescentes (CMDCA), não atendeu à ligação do Seguinte:, mas informou por WhatsApp que que não falará enquanto a Comissão Eleitoral, que comanda pela segunda eleição consecutiva, analisa as denúncias “com calma”.
Conforme o artigo 82 do edital que regrou as eleições, e você lê na íntegra clicando aqui, “os recursos eleitorais não terão efeitos suspensivos”.
Não há data definida para diplomação.
Ao fim, os 10 eleitos seguem eleitos.