entrevista

É o PT com cara de povo, pobres, negros, mulheres e LGBTs, diz Almansa, eleito presidente

David Almansa com apoiadores após a vitória de domingo no Processo de Eleições Diretas do PT de Cachoeirinha

Como informei na noite do domingo, no artigo Almansa vence no PT de Cachoeirinha, Alex Borba é consenso em Gravataí; o 2020 em duas tuitadas, e agora atualizo os dados, o sociólogo David Almansa foi reeleito presidente do partido com 54% (264) dos votos. O professor João Evangel fez 46% (213). Brancos e nulos somaram 26. No diretório a chapa do eleito fez 12 cadeiras e outras três forças dividiram as demais 10 vagas.

O Seguinte: foi ouvir Almansa.

 

Seguinte: – A vitória de teu grupo significa uma vitória do BOM, o Bloco de Oposição Municipal, do qual é um dos principais entusiastas?

Almansa – Primeiro gostaria de dizer que o PT saiu vitorioso. Em um feriadão, sem estarmos em governos ou com mandatos, 500 filiados foram às urnas votar, em um momento de conjuntura desfavorável e…

 

Seguinte: … quando falas da conjuntura adversa te referes também a ‘crise das esquerdas’ e a Cachoeirinha ter dado sete a cada dez votos para Jair Bolsonaro em 2018?

Almansa – Também. São tempos de fascismo, rejeição à política, criminalização dos partidos de esquerda… porém, observo aos poucos uma reversão desse ambiente hostil. Mas gostaria de dizer que o recado dessa eleição no PT é que hoje erra aquele que medir a representação partidária por mandatos. Até porque só não temos pelo menos uma cadeira na Câmara por um erro tático e organizacional. Domingo tivemos mais filiados nas urnas do que Gravataí, Novo Hamburgo, chegamos à metade de Alvorada que tem três vereadores e uma ex-prefeita e ex-deputada. Enfim, representamos um dos maiores colégios eleitorais do PT gaúcho. Estamos muito vivos!

 

Seguinte: Mas é, ou não, uma vitória do BOM?

Almansa – Sim, minha candidatura, que representava o Muda Mais, a maior chapa, foi clara ao dialogar com os filiados e abrir essa estratégia política e eleitoral: a criação de uma frente para derrotar esse governo, ampla, democrática e com participação popular. Mas avalio que o principal é que o resultado mostra uma nova classe dirigente no PT, com cara de povo, pobres, negros, mulheres, militantes LGBT, uma galera que militou sempre na base e hoje ocupa a gestão. É um PT enraizado nos movimentos sociais e comunitários. Foi bonito termos uma renovação aliada ao resgate de companheiros históricos.

 

Seguinte:  PT é hoje o maior partido de oposição. Como convencer os filiados a não ter candidatura própria à Prefeitura em 2020?

Almansa – Alguns tentam antecipar o debate ou me creditar falas que nunca fiz. O BOM é um bloco de atuação conjunta da oposição. Nunca debatemos candidaturas. O que não quer dizer que não há pessoas dispostas a concorrer. Mas é uma mentira linkar a imagem da minha vitória com a certeza de que o PT não terá uma candidatura própria. O que o Muda Mais sustenta é que sozinhos não chegaremos a lugar algum. Precisamos dialogar. Não é só no PT que há pessoas boas. Faremos o debate democrático em relação a 2020, mas minha opinião e da chapa, que tem a maior parte do diretório, é de que é necessária uma unidade da oposição. Se a cabeça de chapa não for do PT, sem problemas. Precisa é comprometimento com um programa conjunto.

 

Seguinte:  Então a vitória de Almansa não é uma vitória de Antônio Teixeira (Rede).

Almansa – Nada a ver. Respeito o Antônio, foi segundo colocado na última eleição, trilhou um caminho sempre pela oposição após o rompimento com o PSB. Mas é importante lembrar que foi a gestão passada que aprovou no diretório, por 19 a 3 votos, que o PT indicaria o vice dele. Depois as coisas mudaram… Mas ainda não tive oportunidade de dirigir o partido em ano eleitoral. O próprio Antônio respeita a autonomia dos partidos. O que todos do BOM queremos hoje é aproximação e diálogo para que, se uma aliança eleitoral acontecer, seja natural. Garanto que farei de tudo para dar certo.

 

Seguinte: Quem está hoje no BOM e quem gostarias de atrair para o bloco?

Almansa – O BOM reúne hoje PT, PCdoB, Rede e lideranças sem partido, como Ana Fogaça. Gostaríamos de ter ao nosso lado o PSol, o PDT e outras forças políticas que defendam a democracia e os direitos trabalhistas.

 

Seguinte: O PSB, do prefeito Miki Breier e dos ex-prefeitos Vicente Pires e José Stédile, não é de esquerda?

Almansa – Li tua análise (A esquerda possível de Miki é impossível; canhotos unidos só na cadeia) sobre o artigo do prefeito, mas entendo que só no passado o Miki foi de esquerda. É uma história que não se apaga, mas de esquerda hoje não tem nada. Não é esquerda desde quando assumiu como deputado posturas neoliberais, foi secretário de um governo violento com o funcionalismo como o de Sartori, é um prefeito que retirou direitos de trabalhadores e não fez nada pela participação popular, além de pedir voto para o SartoNaro e sustentar uma agenda privatizante, mascarada em ‘esquerda moderna’. Enfim, o PSB gaúcho não tem nada de esquerda. O é no Nordeste, em alguns lugares. Diferente do PT, é um partido regional, como o MDB, vice do Miki.

 

Seguinte:  inviável uma aproximação com o governo Miki?

Almansa – Impossível.

 

Seguinte:  Brinco, usando a frase de Frei Betto “a esquerda só se une na cadeia”, que arrisca a divisão entre ‘canhotos’ em Cachoeirinha permitir o bolsonarismo “eleger até uma laranja”. Nem um eventual avanço de uma candidatura de direita, ou extrema direita, possibilitaria o BOM mudar de nome e conversar com o PSB e o governo Miki?

Almansa – Os governos do PSB em Cachoeirinha já representam a direita! O BOM é a representação do campo democrático e popular para fazer essa disputa.

 

Seguinte: Não temes o surgimento de uma extrema direita em Cachoeirinha já em 2020?

Almansa – Murcharam muito. Não surfarão a mesma onda de 2018. A reprovação de Bolsonaro é recorde entre os presidentes. Mas avalio que possam fazer 10% do eleitorado. É possível ter duas candidaturas do governo, uma de extrema direita e o BOM.

 

Seguinte: Aline Cruz, apoiadora da chapa que enfrentaste, ao agradecer filiados, postou assim no perfil dela no Facebook: “quero que o PT tenha candidato a prefeito em 2020. Não vejo partido de oposição mais forte na atual conjuntura”. E concluiu: “se venderem o nosso partido, a fim de apoiar candidatura que não nos represente por planos pessoais, estaremos aqui para dizer com todas as letras: Essa Culpa Eu Não Carrego”. Parece algo como o “Eu Avisei”, que dizem antibolsonaristas. O PT está partido, como diz aquele refrão “partido, partido, é dos trabalhadores”?

Almansa – Lamento alguém que já teve tanta estatura política ir para rede social dessa forma. A eleição acabou ontem. Há uma nova maioria. Não foram números, mas pessoas que depositaram o voto na urna, que decidiram por uma nova cara para o PT. É preciso respeitar a democracia na prática, não só no discurso! Foi uma disputa equilibrada, já parabenizei João Evangel, que sai maior do que entrou, e espero que utilize esse prestígio na reorganização do PT, num trabalho conjunto pela unidade partidária, com respeito a maiorias e minorias, como manda o estatuto do partido, que sempre cumpri à risca. A riqueza do PT não está em consensos, mas no debate qualificado. Percebes que disputamos com grupos políticos que dirigiram o PT por 15 anos, e já derrotaram um prefeito no exercício do mandato (Stédile), que acabou saindo do partido? Mas a eleição acabou ontem. Na democracia não existe o ‘quem ganhou leva tudo’. Já convido a todos para arregaçar as mangas. Vamos ganhar a Prefeitura e eleger pelo menos três vereadores.

 

Seguinte: Se pudesse escolher a manchete para esta tua entrevista, qual seria?

Almansa – PT se consolida como grande partido popular e democrático em Cachoeirinha!

 

Seguinte: Para concluir: Lula livre?

Almansa – Óbvio! Logo veremos esse homem viajando o país e devolvendo a esperança aos brasileiros.

 

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