oi, filho

É preciso desromantizar, também, a paternidade

Existe um movimento forte na internet que fala sobre a desromantização da maternidade, uma expressão relativamente nova que poderia ser traduzida em: nem tudo são flores meus amores. Vamos fazer um exercício juntos? Abra seu Facebook agora e procure uma mãe que acabou de ter bebê em sua lista de amigas. Olhe as fotos dela e perceba que, via de regra, as postagens serão sobre como a vida de mamãe é maravilhosa, linda, como os nenéns são fofos e o mundo é cor de rosa. Falar sobre os nossos filhos é algo lindo, mas essa romantização da maternidade não é algo muito justo com o trabalho de ser mãe, propriamente dito.  É como se você tivesse uma empresa e anunciasse uma vaga na internet: dirá que a sua é a melhor empresa do mundo e que seus funcionários são os mais competentes que existem. Ou quando uma agência de publicidade bola um novo anúncio para uma marca. Os defeitos são escondidos em detrimento das qualidades.

Cadê os relatos das vezes em que o bebê acordou chorando horrores durante a madrugada? Que você precisou adiar o canudo, a promoção no emprego, a festa de aniversário de uma amiga por conta do novo bebê? As incertezas sobre o corpo, sobre a carreira, sobre a vida que você levava e que jamais será a mesma depois que o bebê chegou em sua vida? Falar sobre essas coisas com amigas, parceiro ou até psicólogo é fundamental para que a peteca não caia e que este processo não seja martirizante, e sobretudo: faz com que as outras mães entendam que não estão sozinhas, que embora amem seus filhos com todo o coração não está errado se sentir desconfortável e insegura sobre a maternidade. Desromantizar a maternidade está longe de demonizá-la, é apenas uma forma de deixar as cosias mais transparentes e reais.

A mesma coisa vale para a gente, o grupo dos papais. Quando criei o blog decidi falar sobre “as gostosas aventuras de um pai de primeira viagem”, e é o que eu tenho tentado fazer desde então. Das coisas boas e maravilhosas às coisas ruins e desagradáveis, como quando o Beni comeu o próprio cocô e de tão sujo que ficou achamos que era chocolate.

Ontem, enquanto eu voltava da creche, depois de um dia cansativo de trabalho, fiquei pensando na quantidade de coisas que eu tinha para fazer quando chegasse em casa: comida, banho no Beni, lavar roupa… Enquanto eu caminhava até a feira repassei mentalmente todas as coisas que de certa forma foram perdidas desde que o Beninho nasceu. As baladas a menos, as farmácias a mais. A DINHEIRAMA que vai em fralda, leite, creche e roupa mesmo com toda a ajuda da família. O desgaste físico e emocional que é ter que pensar e ser responsável por outra pessoa 24 horas por dia, sete dias por semana. Se pegar pensando como vai fazer para pagar a faculdade dele, daqui a 18 anos e como vai estar o mundo daqui a 18 anos.

Pensei que talvez o meu blog pudesse estar fazendo um desserviço ao passar a impressão que a paternidade/maternidade é a coisa mais linda e fácil do mundo. Linda é, fácil nem pensar. Então este texto serve justamente para isto: desromantizar a paternidade, pois ela não é fácil e agora eu entendo completamente o meu pai por todas as broncas e castigos e principalmente, por todas as coisas que ele abriu mão para que eu pudesse crescer com saúde, educação e senso de cidadania.

As mamães precisam entender que essa relação entre pai e filho nem sempre vai ser gostosa e proveitosa para os caras e nem todos vão amar ser pais como eu amo. Ou vão até amar mas não vão saber demonstrar este amor, e tudo bem. Quando uma mulher engravida ela vê a gravidez e sente a gravidez acontecer dia após dia dentro dela e homem não. Ou ele participa desde o início, ou ele não consegue se fazer sentir parte disto tudo. Já vi pais nascerem depois dos próprios filhos, alguns anos depois. Outros que nem pais são e nunca serão, por não ter empatia, habilidade, responsabilidade e principalmente: culhões. Para ser o indivíduo precisa ser muito valente e destemido. Ô se precisa!

Eu abriria mão mil vezes, de tudo isso e passaria por todos estes perrengues novamente se preciso fosse para ter meu filho sorrindo ao meu lado. É difícil, mas não impossível. Não são só flores tampouco somente espinhos. É preocupante, estressante e esgotante mas o melhor momento do meu dia é quando o Beni pula na minha cama, uma hora antes do horário que eu preciso acordar, e ao me ver despertando sorri o sorriso mais lindo e revigorante do mundo.  

– Vamos lá Beni, mais um dia nos espera!

 

 

 

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