crise do coronavírus

É tudo com a gente em Gravataí e Cachoeirinha; o Distanciamento Controlado fake não segura a COVID 19

Havan de Gravataí, no último domingo | Foto GUILHERME KLAMT

Sinto-me um crítico praticamente solitário na mídia gaúcha sobre o ‘experimento descontrolado’, que é como chamo o Distanciamento Controlado do Governo do RS, que reclassificou a Região Porto Alegre para alto risco de contágio da COVID-19.

Sem torcida ou secação: a bandeira vermelha é só para assustar, é fake. Estamos por conta. Ou eu faço, e você faz, ou Gravataí e Cachoeirinha seguirão com UTIs superlotadas, contando (ou subnotificando) infectados e sepultando pessoas com velório restrito e em caixão fechado.

Antes, um pouco de contexto, a ‘ideologia dos números’. No último boletim epidemiológico, Cachoeirinha registra 308 casos, com 3 mortes e 1544 testes, o que aplicando sobre os 130 mil habitantes representam potencialmente 25.932 infectados. Gravataí, com 293 casos e 8 óbitos, não divulga o número de testes. Se a proporção foi a mesma do município vizinho, seriam 3.337 testes, e potencialmente 24.672 infectados. Junho, o ‘pior mês da COVID-19’, já apresenta um crescimento de 245% nos casos.

A taxa de ocupação de leitos na Região Porto Alegre é de 74.8 e não chegamos à semana 27, a primeira de julho, e a pior conforme infectologistas, porque superlota UTIs com doenças do inverno.

Como já tratei em uma série de artigos, minha crítica não é relativa ao fechamento de atividades, e sim à forma como foi feita a primeira onda restritiva, pouco cumprida, seguida de uma abertura incontrolável em momento de ascendência da curva de contágio – descumprindo recomendação básica da Organização Mundial de Saúde (OMS). Combinemos: só fechamos de verdade por duas semanas em março, quando duas mãos bastavam para contar casos confirmados em Gravataí e Cachoeirinha. 

No geral, usamos um ‘modelo sueco’, de transferir a responsabilidade para as pessoas, com uma cultura brasileira de desobediência às regras – pilhada por um ‘napoleão de hospício’ que ocupa a Presidência da República e não tem noção de que o peso de suas palavras mata. Vale lembrar que nem na Suécia funcionou, já que em sua vizinhança é o ‘país infectado’.

É inviável o governador Eduardo Leite repassar às prefeituras a fiscalização dos protocolos, um dia mais brandos, noutro mais restritivos e, num terceiro, com uns poucos confusos respeitando. 

Nem Cachoeirinha, nem Gravataí tem fiscais suficientes para cobrir 500 quilômetros quadrados – a soma do território dos dois municípios, e sem fronteiras fechadas com o ‘epicentro’ Porto Alegre, ou o ‘eixo da morte na RS-118’, tema que tratei sábado. Alguém acredita em fiscais entrando em lojas e medindo a área e o número de clientes? No máximo, e é o mais fácil de exigir, teremos ônibus só com pessoas sentadas, mas aglomerações nas paradas, esperando o próximo.

Para piorar, com a bandeira vermelha, as prefeituras, em muitos municípios o equivalente à ‘maior empresa’, têm que reduzir a um terço os funcionários na ativa. 

– A bandeira vermelha é de “pare!”. Pare de acreditar que a pandemia não existe. Sem espírito de comunidade vamos acabar em lockdown, em bandeira preta – apelou o prefeito de Gravataí, Marco Alba, em live.

– Não colaborar é enganar a si mesmo, e não ao prefeito, governador ou presidente. Precisamos de união para sair da bandeira vermelha – apelou o prefeito de Cachoeirinha, Miki Breier, também em live.

Em artigo anterior parafraseei Millôr: “Uma característica curiosa do covidiota se observa em restaurantes. O covidiota está sempre nas outras mesas”.

Ao fim, a covidiotia de muitos, que não entenderam a pior crise da história moderna da humanidade, além do efeito nos ‘CPFs’, tem seu efeito mais danoso nos CNPJs de pequenos empreendedores que, mais uma vez, vão perder o fôlego a cada novo boleto que chega na proporção inversa ao faturamento em fins de mês perpétuos.

Uso dois exemplos-símbolo: na indústria, a GM segue a 75% com o ‘alaranjamento da bandeira’ pelo Governo do Estado; no comércio, a Havan funcionará praticamente da mesma maneira, já que além de ocupar uma grande área, espertamente tem alvará de hipermercado e basta botar um saco de feijão na prateleira para se enquadrar como serviço essencial.

É uma culpa que carregam todos que podem, e não cumprem o distanciamento social. Minha análise vale não só para Gravataí e Cachoeirinha, mas para todo Brasil dos mais de um milhão de casos e 50 mil mortes.

 

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