Erra a Associação Comercial, Industrial e de Serviços de Gravataí (Acigra) ao convidar Luis Carlos Heinze (PP) como palestrante de seu tradicional almoço. Poderiam ao menos esperar terminar a CPI da Pandemia, onde o senador já restou chamado de ‘Sr. Fake News’ por Randolfe Rodrigues e é o principal defensor do curandeirismo ineficaz do ‘kit covid’, o que reputo o torna cúmplice de mais de meio milhão de vidas perdidas – 919 delas de gravataienses, incluindo o vereador Robertinho Andrade, que era presidente de seu partido e usou o ‘kit covid’, como reportei em Vereador de Gravataí luta pela vida: colega ’medicou-o’; Parem com curandeirismo, por favor!.
O convite, ao custo de R$ 90, para ouvir o político falar nesta sexta-feira no Alvi-Rubro sobre “Cenário político e desenvolvimento do RS”, já provocou reações na aldeia.
– Lamentável a @acigra convidar para o seu tradicional evento, o "Almoçando com a Acigra", o senador @SenadorHeinze. Durante toda a pandemia se mostrou um ferrenho negacionista, sustentando Fake News. Segue sendo uma respeitadíssima entidade, mas errou! – tuitou o jornalista Gabriel Siota Ganzer, do Giro de Gravataí.
– A @acigra convidar o @SenadorHeinze para seu tradicional almoço não significa que a cidade compactue com a homofobia e o racismo contido no discurso do parlamentar. Com este gesto, a entidade não representa a cidade. #desconvidab – postou Luis Felipe Teixeira, do Poder 24H.
– Não adianta nada colocar nota de pesar quando meu tio faleceu, pois fazia parte da entidade, e agora convidar um negacionista que ajudou o vírus desde o começo da pandemia. Quem apanha nunca esquece, Acigra! – tuitou o sobrinho Lucas Denicol, lembrando a perda em consequência da covid de Luiz Leonardo Denicol, o Didio, professor, empresário e diretor da entidade.
Com o convite, repito, inadequado para o momento, a maior entidade da quarta economia do RS permite a percepção de que concorda com o discurso negacionista do senador que foi acionado no Conselho de Ética do Senado pelo colega Alessandro Vieira por possível “disseminação de informações falsas” na CPI da Pandemia, onde o relator Renan Calheiro já admitiu a possibilidade de indiciá-lo no relatório final por “comunicação enganosa em massa”.
É o mesmo político que se tornou caricatura nacional ao ‘denunciar’ a atriz pornô Mia Kahlifa como CEO de companhia de fachada que patrocinou estudo falso sobre uso da cloroquina.
Ainda não tive resposta da mensagem que enviei para a artista que, ao ser citada pelo gaúcho, debochou no Twitter publicando meme com montagem onde prestava depoimento sob os dizeres “a woman of people”.
Perguntei: "Dear @miakhalifa, the Brazilian senator who has always mentioned you in Covid's CPI is going to speak in my city. Got a message for him?"
É Heinze um dos cinco senadores que Maira Pinheiro, a ‘Capitã Cloroquina, disse em live ser do “grupo de apoio” que, nas perguntas a ela na CPI, “chutariam” para ela “fazer o gol”. Ele diz não lembrar, mas, resguardando toda a presunção de inocência, foi uma das ligações captadas para Emanuela Medrades, executiva Precisa, empresa que deu calote de R$ 20 milhões em testes no Ministério da Saúde e ainda assim intermediava a compra da indiana Covaxin com 50% de superfaturamento, e para a qual foram feitos 11 telefonemas enquanto a Pfizer era ignorada.
Em Ao defender 'tratamento precoce', Heinze falseia fatos e distorce dados na CPI da Covid-19, a agência de checagem Aos fatos aponta que Heinze “repetiu informações enganosas de que a cloroquina seria antiviral e responsável, junto a outras drogas sem eficácia comprovada, pela redução da letalidade da doença em regiões do país”.
Clique aqui para ler o estudo, feito antes do escândalo mengeliano de morte assistida da Prevent Senior, tão defendida pelo esquadrão da morte do bolsonarismo durante a pandemia e onde, mesmo com cloroquina e ozônioterapia, perderam a vida a mãe de Luciano Hang e o Dr. Wong.
Antes de concluir, impera o alerta aos desinformados, não aos informados do mal.
– Infelizmente não há nenhuma comprovação da eficácia do ‘kit covid’. Apenas cria uma falsa sensação de prevenção, de que tomar antes ajuda e tomar depois da infecção também. As evidências científicas não recomendam o tratamento com essas drogas, como alertam sociedades científicas nacionais e internacionais – resume o infectologista do Instituto Emílio Ribas e coordenador cientifico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Sergio Cimerman.
– Só a vacinação e medidas protetivas, como uso de máscara, ajuda a salvar vidas, por diminuir as internações e óbitos, por aplacar a gravidade da doença – concluiu, à CNN, após o deprimente da república apoiado por Heinze dizer em uma de suas lives AlQaeda que contrair o vírus é mais eficaz que a vacina.
Ao fim, poderia também lembrar a repugnante fala de Heinze como presidente da Frente do Agro na Câmara Federal:
– Ali (em setor do governo Dilma) estão aninhados quilombolas, índios, gays, lésbicas, tudo que não presta está ali aninhado – disse, em audiência pública, depois justificando que “as pessoas de bem entenderam o tudo que não presta”.
Mas isso, entendo, não vem ao caso neste artigo: o erro da Acigra está em convidá-lo para palestrar neste momento de pandemia e CPI, quando as palavras tem uma força fatal.
Se a estratégia da direção da entidade é já se aproximar de candidatos ao Palácio Piratini seria mais prudente aguardar o ano eleitoral, até para não submeter o pré-candidato a um inevitável artigo como este.
Gravataí pode ser historicamente conservadora e ter dado 7 a cada 10 votos para o bolsonarismo em 2018, mas é a quarta economia gaúcha, não é Rancho Queimado, ou um “rancho fundo bem pra lá do fim do mundo”, de Chitãozinho e Xororó, para restar tão desconectada da polêmica que causa badalar Heinze e seu curandeirismo neste momento triste que vive o Brasil.
Agora a cloroquina está derramada.
Desconvidar – foi lançada por LFT a hashtag #desconvida – seria uma deselegância que não cometeria a presidente Ana Cristina Pastro Pereira. Pouco ou nada muda, e talvez até esteja fazendo um involuntário favor a alguns, mas minha parte cometerei: não vou.
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