Nosso colaborador e correspondente do Seguinte: em São Paulo adianta o que é a baita expo com grande acervo do genial J. Carlos. Depois de SP, expo segue para Recife. Sei lá se adianta torcer para que os Correios patrocinem a vinda de J. Carlos a Porto Alegre algum dia, mas nossa torcida já começou! (Fraga)
Desde sábado, 17, o Centro Cultural Correios, no Vale do Anhangabaú, em São Paulo, acorda mais divertido e elegante. Acontece a exposição J. Carlos em Revista que traz cerca de 300 peças do artista carioca. São desenhos, aplicações de grande formato, animações e recortes em madeira.
Com curadoria da designer Julieta Sobral e do caricaturista Cássio Loredano, a mostra já teve uma feliz passagem pelo Rio de Janeiro.
J. Carlos (1884-1950) é um marco na ilustração e nas artes gráficas brasileiras. Com elegância e limpeza no traço, retratou um Brasil – e em especial o Rio de Janeiro – romântico e charmoso do início do século XX.
Em 50 anos de atividade J. Carlos produziu mais de 50 mil ilustrações. Boa parte desses trabalhos foi digitalizada pelo IMGB – Instituto Memória Gráfica Brasileira e abrange toda a produção para O Malho e Para Todos de 1922 a 1930. O material digitalizado foi doado à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro e está disponível para consulta pública.
A exposição está dividida em três módulos distintos: J. Carlos cronista, J. Carlos designer e J. Carlos publicitário.
Em todos eles será possível perceber o quanto o artista mudou a forma de se enxergar o desenho. Não à toa ele influencia ilustradores como Guto Lacaz e o próprio Loredano até hoje.
José Carlos de Brito e Cunha também foi escultor, autor de peças de teatro, letrista de samba, quadrinista e foi o primeiro brasileiro a desenhar Mickey Mouse. Recusou um convite para trabalhar em Hollywood mas enviou para os Estúdios Disney um desenho de papagaio que, segundo pesquisadores, foi o embrião para o personagem Zé Carioca.
J. Carlos morreu aos 66 anos de um acidente vascular cerebral e deixou um legado gigantesco que, por sorte e empenho, está preservado.
Parte dele pode e deve ser visto no belíssimo prédio dos Correios no centro de São Paulo.
Abaixo, entrevista com Julieta Sobral:
blogdoorlando – Para vc, J. Carlos retratou as mudanças que aconteciam no Brasil naquela época ou contribuiu para que elas acontecessem?
Julieta Sobral – Sim, e muito! Na época ainda não havia rádio e as revistas eram o grande veículo de comunicação. Através de suas charges e desenhos ele influenciou a política, a moda e todo o espírito da época.
blogdoorlando – a produção dele é gigantesca. Como foi reunir e digitalizar esse material e como vcs chegaram aos 300 trabalhos da exposição?
Julieta Sobral – Foi mesmo uma tarefa hercúlea, digitalizamos 9 anos de duas revistas semanais, O Malho e Para Todos, disponíveis no site jotacarlos.org. O material reunido na exposição é fruto da minha tese de mestrado que revela uma atuação até então ignorada como designer gráfico. As outras áreas foram de curadoria do Cássio Loredano e revelam a atuação dele como cronista e como publicitário, tudo com o objetivo de mostrar o âmbito (imenso) de atuação desse gigante!
blogdoorlando – J. Carlos fazia parte das boas rodas da sociedade carioca. Ao mesmo tempo ele tinha um olhar bastante popular. Como se davam essas leituras?
Julieta Sobral – Acho que o Jota era um grande flânneur, um observador dos costumes que transcendia o circulo social no qual estava inscrito.
blogdoorlando – A exposição traz originais? Como foi o trabalho de diagramar essa mostra
Julieta Sobral – A exposição não traz originais e preza por isso, já que todo o material é proveniente de revistas dos anos 1920 que hoje se encontram encadernadas e cujo papel se desfaz ao toque.
A grande brincadeira é manter a ideia da reprodutibilidade, jogando com escala e o movimento, tirar de dentro da revista coisas que mal seriam percebidas ao serem folheadas.
blogdoorlando – Por falar em originais, como eles estão sendo conservados? Há interesse de se recuperar desenhos que estão em coleções particulares?
Julieta Sobral – Até onde sei o Instituto Moreira Sales fez um acordo com a família e tem a guarda do acervo, o que é uma garantia de preservação.
blogdoorlando – A exposição já esteve no Rio. Depois de São Paulo ela já tem outro destino?
Julieta Sobral – Queremos levá-la a Recife, pelos Correios.
J. CARLOS EM REVISTA
Local: Centro Cultural Correios Endereço: Av. São João, s/nº, Vale do Anhangabaú, São Paulo
Abertura: 17 de setembro (sábado), às 11h30 Visitação: até 20 de novembro
Horário: terça a domingo, das 11h às 17h
Classificação etária: Livre para todos os públicos | Entrada Franca
Como chegar: Metrô – Estação São Bento, saída para o Vale do Anhangabaú
Acessibilidade: Rota acessível, com elevador e banheiro adaptados.
Patrocínio: Correios
PARA SABER MAIS
Para mais informações e agendamento, ligue (11) 2102-3690, escreva para centroculturalsp@correios.com.br ou acesse www.correios.com.br/cultura
Para conhecer a trajetória, consultar o acervo do projeto e se deslumbrar com a arte de J. Carlos em Revista, acesse o site oficial.
Orlando Pedroso vive em São Paulo. É ilustrador, cartunista, chargista e fotógrafo. Mantém o Blog do Orlando e todos esses outros aqui.