política

Em artigo bomba, Marco Alba apela para MDB deixar governo Leite; o ’capitalismo de compadres’

Marco Alba, prefeito de Gravataí

Artigo-bomba de Marco Alba pede a saída do MDB do governo Eduardo Leite. O título já é provocador: “LEVANTA-TE, MDB!”.

Aos que não perceberam a perspicácia política, na ‘guerra híbrida’ que trava com o governador desde a perda do Mercado Livre, em lives e entrevistas o prefeito de Gravataí criticou o pelotense por “não levantar da cadeira” – mesma alegoria usada por Leite contra José Ivo Sartori, na campanha de 2018.

Siga na íntegra e, ao fim, analiso.

 

(…)

LEVANTA-TE, MDB!

O MDB é gigante. Partido com o maior número de filiados, maior número de prefeitos e vereadores do Brasil, o MDB existe em todos os Estados da nação, em todos os municípios e rincões de nosso país. E o MDB gaúcho não é apenas gigante; é também diferente. Gigante por sua natureza democrática, pela virtude de seus homens e mulheres, pela responsabilidade com que constrói diariamente a política nos municípios do Rio Grande, se faz diferente pela coragem e altivez de seus líderes.

É impossível falar da história política recente do Rio Grande do Sul sem mencionar o MDB. Modernização, transparência, austeridade, lucidez, coragem no trato da coisa pública, são legados indeléveis de nossa história. Quando as circunstâncias exigiram decisões difíceis, politicamente perigosas até, coragem não faltou aos nossos governadores. As construções de consenso, os diálogos responsáveis e consequentes com aliados, opositores, entidades e a sociedade em geral, foram atributos de nossos governos e por estes somos lembrados até hoje.

Se hoje temos um polo petroquímico em Triunfo, uma GM instalada, duplicada e triplicada em Gravataí; se hoje temos passos dados em direção à modernização do Estado, à racionalização da máquina pública e ao pleno conhecimento pela sociedade da real condição econômica do Rio Grande, devemos a Pedro Simon, Antônio Britto, Germano Rigotto e José Ivo Sartori, governadores que foram capazes de fazer a diferença e, descruzando os braços, construíram verdadeiros pontos de inflexão na condução política do RS.

A lembrança de nossos governos indica nossa grandeza. Nosso partido é gigante e diferente.  Por gigante que é, não pode se apequenar ao servir de mero apoio de plenário e, por diferente que sempre foi, não deve se igualar por mero adesismo. As reformas que iniciamos – e cuja implementação apoiamos – já foram aprovadas. E, após estas, o que se vê, a cada dia, é um governo sem agenda, personalista, que revive o patrimonialismo que tanto combatemos.

Já é hora de o MDB do Rio Grande restabelecer seu tamanho, em homenagem às qualidades de seus homens e mulheres. É hora de independência, senhoras e senhores.

MDB, LEVANTA-TE  E RETOMA O PROTAGONISMO DA  HISTÓRIA  DO RIO GRANDE.

Marco Alba, prefeito de Gravataí

MARCO ALBA

(…)

 

Analiso.

Reputo que o trecho mais forte não é aquele no qual Marco Alba reclama do adesismo do partido, mas sim o que identifica no governo “patrimonialismo”, que é uma forma de corrupção.

– As reformas que iniciamos e cuja implementação apoiamos já foram aprovadas. E, após estas, o que se vê, a cada dia, é um governo sem agenda, personalista, que revive o patrimonialismo que tanto combatemos.

Como jornalismo é dar nome às coisas, inevitável linkar a citação ao artigo Maior doadora de Eduardo Leite, família Jereissati é concorrente do Mercado Livre no e-commerce; o shopping da política, sobre negócio ligado ao clã Jereissati anunciar investimento em e-commerce no RS logo após a perda do investimento de meio bilhão e 2 mil empregos do Mercado Livre, que tinha alvará, endereço e já contratava para centro logístico na ERS-118, em Gravataí.

O que se torna mais evidente pelo artigo ser distribuído pelo prefeito um dia após a entrevista de Carlos Jereissati, que trato no artigo, à Marta Sfredo, principal articulista de economia do Grupo RBS.

No conceito desenvolvido por Max Weber, o patrimonialismo é a doença de um Estado que não possui distinções entre os limites do público e os limites do privado. Em “Males do patrimonialismo”, Rubens Goyatá Campante, cientista político, observa que “corrupção e ineficiência administrativa são tendências intrínsecas da dominação patrimonial, os governantes e as elites enxergam a coisa pública como direito privado deles”.

O também pesquisador da Escola Judicial do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 3ª região cita Raymundo Faoro, histórico presidente da OAB nacional à época da ditadura, que adaptou, de forma original, o conceito de patrimonialismo para compreender o Brasil e suas mazelas.

Segundo Faoro, em obra clássica “Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro”, “comandando o Estado, fazendo-o funcionar para atender somente aos seus interesses, a elite patrimonial brasileira institui um tipo de capitalismo que não se funda em uma racionalidade metódica, calculável, em que os lucros acontecem por meio da exploração livre das oportunidades de mercado. É, ao contrário, uma espécie de ‘capitalismo de compadres’, em que os grandes e milionários esquemas de ganho originam-se da proximidade com o poder político e das vantagens legais e extralegais que isso proporciona”.

Ao fim, Marco Alba, que encerra com popularidade em alta seus oito anos frente à Prefeitura de Gravataí, aparece cada vez mais como um dos nomes do MDB para disputar o Palácio Piratini, como já antecipei em artigos como Perder Mercado Livre é pior que Ford, diz Marco Alba a Eduardo Leite; o ’delivery’ de 2022 e O café frio que custou 2 mil empregos para Gravataí. Como defende o partido com candidato em 2022, acerta ele em pedir a saída do governo. Um borrão na imagem do MDB sempre foi o fisiologismo, algo como a milloriana “se tua ideologia não está dando certo, muda para outra em alta no mercado”.

O ‘ninguém solta o (desimportante) cargo de ninguém’ até a eleição é morte anunciada nas urnas.

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