É bom e ruim o áudio que o chefe da Guarda Municipal, Henrique Gaus, distribuiu com recomendações em grupo no qual se comunica com seus comandados, às 11h49, após a publicação do artigo Agente da Guarda Municipal de Gravataí apoiou atos terroristas em Brasília. Vai se aposentar. Deveria ser demitida, prefeito Zaffa!.
O Seguinte: teve acesso com exclusividade.
Ouça e, abaixo, analiso.
O bom é que o comandante está preocupado com um contágio da tropa pelo extremismo. Erra foi a forma e a falta de um alerta mais contundente para comportamentos que são crimes que ultrapassam a liberdade de expressão e livre pensamento – conforme o estatuto dos servidores e o Código Penal.
Troquei mensagens com o comandante, que confirmou a autenticidade do áudio.
– Oriento os meus para que não sejam protagonistas de atos antidemocráticos – escreveu, acrescentando:
– Esse radicalismo extremo foi o que conduziu aquele povo ontem para fazer aquela manifestação desastrosa. O povo de bem, que se manifesta pacificamente, não aprova aquilo.
Talvez por uma estratégia de convencimento para seus comandados, Gaus não foi tão didático no áudio, quanto em nossa troca de mensagens.
No áudio, o comandante começa indo no ponto, ao fazer um alerta de que a Guarda é um órgão de polícia; ou seja, um órgão de estado, não de governos ou ideologias.
Mas erra ao inserir política e ideologia logo em seguida, ao dizer que “vamos passar tempos difíceis” e “a esquerda hoje é situação, o partido que governa o país é de esquerda” e “inverte-se o fio da faca”.
Ele segue dizendo que envia o áudio por saber que “a maioria das forças de segurança foram contagiadas pelo bolsonarismo”.
– O que creio é uma coisa saudável, patriota, mas corrompida pela extrema direita, por grupos, facções, que causam essas coisas ruins, que dão munição para quem quer falar contra – avalia.
Se acerta ao pedir para os guardas cuidarem o comportamento nas redes sociais, erra ao colocar na mesma bacia da vitimização comandados que fazem apologia a intervenção militar e apoiaram os atos terroristas de ontem, em Brasília.
– Peço a quem tem perfil, e identifica que é guarda municipal, cuidado para não virar alvo, assunto, nessas situações que vive país – disse, acrescentando que “vão tentar nos desconstituir perante sociedade que a gente serve” e, logo em seguida, lembrando que a Guarda Municipal é um dos órgãos mais bem avaliados pela população conforme pesquisas feitas pelo governo Luiz Zaffalon.
– Cuidado para que atos de vocês, nossos atos, não virem pauta de matérias que venham desprestigiar nossa instituição – alerta.
Se eu não tivesse trocado mensagens com Gaus após o ouvir o áudio, e confiasse em suas palavras de cidadão de bem, seguiria com a impressão de que o comandante recomendou um ‘não deixem provas’, ou pior: ‘apaguem as provas’.
Não era o intuito, como me explicou. Era a forma de se comunicar os seus para conter radicalismos.
Mas aquele que é Dos Grandes Lances dos Piores Momentos do áudio resta no encerramento.
– Na dúvida pergunta ao do lado, ao de cima, não faz. Os tempos são outros, o ano é outro, ainda não está desenhado o que vai acontecer no país… existem previsões, mas são previsões – diz o chefe da Guarda.
Ruim, muito ruim.
Após recomendar que os comandados não se exponham, Gaus, mesmo que involuntariamente, como atesta, alimenta o golpismo ao dizer que “ainda não está desenhado o que vai acontecer no país”.
Comandante! O que acontece já é que o Brasil tem um Presidente da República eleito pelas urnas democraticamente, diplomado, empossado e no curso do mandato; com a ‘bênção’ diplomática de Biden, dos EUA, a Xi Jinping, na China.
Se “existem previsões, mas são previsões”, como o senhor diz, é de que quem cometer crimes – seja contra o estado democrático de direito, ou o patrimônio público – será preso; 1.200 já o foram, em Brasília.
Confesso que sinto por fazer essa crítica, porque Gaus, em nossa comunicação, genuinamente me convenceu de suas boas intenções. Demonstrou preocupação em preservar os valores democráticos da Guarda e não se apresentou como um entusiasta do golpismo.
Mas seria cumplicidade ‘passar pano’. Já não bastam mais boas intenções. É preciso ação – municipal, estadual e federal; tudo dentro da lei, com respeito ao direito de defesa e sem caça às bruxas.
Ou a civilização perde para os bárbaros.
Fato é que após a publicação do artigo Agente da Guarda Municipal de Gravataí apoiou atos terroristas em Brasília. Vai se aposentar. Deveria ser demitida, prefeito Zaffa!, recebi ligações e mensagens de guardas municipais se colocando em defesa da democracia e lamentando a postura de colegas em manifestações antidemocráticas.
Pasmem: enquanto colegas, que pertencem a uma instituição que tem como função primeira cuidar do patrimônio público, apoiam quem arranca e rouba um exemplar da Constituição da Suprema Corte do seu país, e cometem crimes nas redes sociais, em parcões da vida ou na porta de quartéis, estes funcionários públicos pediram anonimato, com medo de ser punidos.
Já há provas de outros guardas municipais agindo como no caso da agente que revelei nesta manhã.
Minoria ou maioria, assusta-me guardas assim nas ruas.
Gaus sabe quem são.
Ao fim, mesmo que bancar o ‘policial bonzinho’ seja forma de, corporativamente convencer seus comandados a respeitarem os valores da Guarda Muncipal e o estatuto dos servidores públicos, reputo Gaus poderia ter reduzido seu áudio de 5 minutos para apenas alguns segundos. Bastava dizer: não cometam crimes, nem ao vivo, nem nas redes sociais. Ou responderão perante a lei; não a matérias jornalísticas.