a coluna da jeane

Em defesa do SUS!

Nessa semana a poesia vai ficar de lado porque precisamos falar do Sistema Único de Saúde. O decreto 10.530, publicado na terça (27), autorizava o Ministério da Economia a realizar estudos sobre a inclusão das unidades básicas de saúde (UBSs) no Programa de Parcerias de Investimentos da Presidência da República (PPI). Após intensa mobilização nas redes sociais, o decreto foi revogado pelo Presidente no dia seguinte. Mesmo assim, sabemos que temos que seguir alertas.

O decreto seria o primeiro passo de uma futura privatização do SUS, algo defendido por alguns mas que na verdade seria catastrófico para grande parte da população brasileira. Os mais atingidos seriam justamente aqueles que mal tem o que comer, muito menos para pagar uma consulta ou medicamento. Imagina uma cirurgia? Sem o SUS, muitas pessoas morreriam de causas totalmente evitáveis.

Claro que o SUS tem problemas, mas também tem muitos profissionais comprometidos com a missão de zelar pela saúde de todos e que se desdobram pra fazer tudo que é necessário, na maioria das vezes com o mínimo de recursos. Mas mesmo com várias precariedades, o SUS é fundamental para a maioria do nosso povo e salva vidas todos os dias.

Imagina milhares de diabéticos, hipertensos, cardíacos, com transtornos mentais, com doenças crônicas que exigem acompanhamento constante e uso contínuo de medicação, sem o acesso gratuito a médicos e remédios? Imagina pessoas acidentadas ficando com sequelas permanentes e extensas por não terem como custear uma cirurgia ou fisioterapia? Imagina a mortalidade infantil aumentando pela falta de consultas periódicas ao pediatra? Imagina um Brasil sem SUS?

Assustador, né?

Há pouco mais de 2 meses sofri uma queda com fratura grave no braço. Cheguei na Emergência do SUS quase desmaiando de dor e fui atendida rapidamente, até me passaram direto pra tomar uma injeção pra dor antes da triagem. Voltei pra casa com tala no braço inteiro e indicação de aguardar consulta com o especialista. A consulta aconteceu na semana seguinte e já saí com a cirurgia marcada. Fui operada exatamente 2 semanas depois da fratura. Pelo SUS. E fui muito bem tratada por todos os profissionais que me atenderam.

Botei placa e parafuso no braço, em uma cirurgia feita por um ótimo médico, sem precisar pagar nada. Se não fosse o SUS, não sei como faria. Bem provável que minha recuperação estivesse ainda mais lenta, talvez até perdesse os movimentos do braço. Ainda farei fisioterapia pelo SUS, não tenho condições de pagar, e no meu caso a fisio é fundamental.

Quem deseja privatizar o SUS é no mínimo desumano. E egoísta, pois não pensa no próximo que não tem como arcar com um plano de saúde. Também não pode ser chamado de cidadão, porque pela nossa constituição a saúde é direito de todos.

O cineasta Michael Moore, para o documentário Sicko (recomendo!), entrevistou Aleida Guevara, filha do lendário Che e pediatra em Cuba. A médica explica que o sistema de saúde cubano segue dois princípios: 1 – Saúde não pode ser um negócio, uma mercadoria; 2 – Prevenir sai mais barato do que remediar.

Tão simples, né? Mas por aqui, interesses financeiros falam mais alto…

Precisamos continuar reforçando a importância do acesso universal e gratuito à Saúde. Como já coloquei aqui a experiência que estou vivenciando como paciente, quero trazer um olhar também do outro lado, de quem trabalha no SUS. Minha amiga e parceira de poesia Maria Mitsuko é enfermeira sanitarista e pesquisadora em Saúde Pública e fez uma live nesta quarta defendendo o SUS. Com a palavra, Maria:

O Sistema Único de Saúde é uma conquista de muita luta social e organização do Movimento Sanitarista, que na 8aª Conferência Nacional de Saúde desenhou os caminhos que nossa Reforma Sanitária teria. Nossa conquista que se concretizou na lei 8.080/90 com a criação do Sistema Único de Saúde e 8.142/90 que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do sistema e que nos proporcionou a perspectiva histórica de construção de um Sistema que têm como princípios a Universidade, a Equidade e a Integralidade, não constituem de forma alguma apenas palavras bonitas, mas principalmente um eixo norteador que rege a busca de milhões de profissionais que se dedicam nas mais diversas frentes do Sistema Único de Saúde na Atenção Primária, Secundária e Terciária, na pesquisa e na gestão e nos mais diferentes níveis todos temos responsabilidade.
É fato que com todos os embates políticos, disputas de poder e mudança no padrão de financiamento, gestão e distribuição de recursos no SUS, muitos braços nos faltam, assim como insumos básicos para assistir os usuários em todas as frentes possíveis. São hospitais e Clínicas da Família com o serviço precarizado pelo sucateamento, filas de espera com vagas que não se abrem a tempo de garantir o cuidado mínimo de muitos usuários que acabam deixando suas famílias com o desfecho de óbito, fato que gera sofrimento para as famílias, comunidades e profissionais que se dedicam com o que têm em mãos. Muitas vezes a falta de recursos é proposital, resultado de acordos entre políticos e grandes empresários que financiam suas campanhas, para estimular o pensamento que a privatização é a solução.

São comunidades e comunidades, cada dia mais afetadas, não apenas pela exploração que suportam no dia a dia e pela vulnerabilidade de viver em um país marcado pelas iniquidades e desigualdade social, mas também por desastres como as chuvas em Friburgo, os crimes imensuráveis causados pela mineração em Brumadinho e Mariana, ou do Petróleo ao final de 2019 que ainda não têm responsáveis, e que precisariam de acompanhamento de saúde também pelos próximos 10 anos, ou agora na Pandemia com a Covid -19 que ficam sem respostas por falta de recursos. É uma verdade difícil de aceitar para quem defende o SUS como modelo por toda a trajetória de construção e ataques desleais, mas a gente luta porque sabe que existem mecanismos de mudança, a gente enfrenta decretos porque sabemos que o poder pertence ao povo e não aos grandes empresários, como nos querem que fiquemos a acreditar.

Temos muitas lutas pela frente, porque antes desse decreto já estávamos lutando contra a EC 95 de 2016 que congela os gastos em Saúde Pública pelos próximos 20 anos, além de termos que sobreviver a todas as barbáries que estamos presenciando nesse período de pandemia e os ataques, não apenas no campo da Saúde, mas também de Educação, Meio Ambiente, Trabalho. Enfim, nos roubam o direito à vida como uma possibilidade de bem viver.

Por saber que tudo que vivemos é uma construção social faço um chamado para o coração de cada Brasileiro, cada pessoa que entende que a vida é maior que qualquer lucro: Nos levantemos! E nunca mais permitamos que nos retirem os direitos pelos quais tantos lutaram. A vida de muitos depende disso. Valorize os profissionais, respeite os ACS na comunidade, se insira nas atividades da clínica e se coloque sobre seus direitos. Estamos todos juntos, pela vida e pelo SUS Público, Gratuito e de Qualidade!

Com afeto e cuidado,

Maria Cristina Mitsuko Peres

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