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Em Gravataí, se o povo gostar do político, políticos querem matar!; o ’Efeito Orloff’

Janela do gabinete do prefeito | Foto RAFAEL MARTINELLI

Em Gravataí, se o povo gosta, o político está sob risco de ser tirado das urnas. Não importa ao lado da ferradura ideológica, se a popularidade está em alta, a conspiração também.  Em 2020, não é diferente.

Antes, vamos ao passado.

Popularíssimo, o ‘pai dos pobres’ Abílio dos Santos (MDB, depois PTB) teve as contas reprovadas pela Câmara de Vereadores e ficou inelegível por cinco anos. Salvo engano, a principal acusação foi colocar brindes com o nome dele em cestas básicas.

Uma campanha ‘Abílio é Edir, Edir é Abílio’ elegeu Edir Oliveira (PTB) prefeito em 92. O falecido político só pode concorrer em 98, quando foi eleito deputado estadual.

Em 2008, Daniel Bordignon (PT) tinha a eleição ganha, após dois mandatos de onde saiu com pesquisas o apontando como “o melhor prefeito da história de Gravataí”. Precisou renunciar à candidatura a cinco dias da eleição, sob risco de impugnação por uma condenação pelo Tribunal de Contas da União (TCU) por um convênio de compra de um equipamento para diagnóstico da tuberculose.

O Orçamento Municipal era de cerca de meio bilhão. A inelegibilidade do prefeito se deu pela falta de notas para comprovar o uso de R$ 6 mil. À época ele foi enquadrado na ‘lei da ficha limpa’ pela condenação em colegiado.

Bordignon confirmou mais uma vez a fama de ‘Grande Eleitor’, que em 2004 tinha eleito um ‘poste’, Sérgio Stasinski (PT), e naquela eleição fez da vice Rita Sanco (PT) a prefeita a campeã das urnas até hoje em Gravataí. A professora foi cassada 3 anos depois, em uma bala que era para o ex-prefeito, favorito mais uma vez para ganhar a eleição um ano depois, em 2012.

O golpeachment fez com que Nadir Rocha fosse prefeito interino entre outubro e novembro de 2011 e depois o falecido Acimar da Silva foi eleito prefeito-tampão, até 31 de dezembro de 2012. Era o MDB voltando à Prefeitura após 24 anos depois – porém, pela porta dos fundos.

Em 2012, Bordignon começou liderando as pesquisas, mas concorreu impugnado, à sombra das flechas da condenação pelo TCU e de uma condenação por contratar cerca de mil funcionários sem concurso, entre eles médicos e professores. Marco Alba venceu a eleição nas urnas e, desta vez, o MDB voltou ao poder pelo voto.

Em 2014, Bordignon foi absolvido pelo TCU, do kafkiano processo dos R$ 6 mil que lhe custou a eleição de 2008.

Em 2016, o ex-prefeito ganhou a eleição nas urnas, mas outra vez foi derrubado no tapetão, pedindo música no Fantástico com a terceira impugnação consecutiva ao disputar a Prefeitura.

Bordignon chegou a ser ‘miss Colômbia’, com a coroa por sete horas, após o ministro Napoleão Filho, que tinha votado pela sua confirmação como prefeito no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) atravessar a praça e suspender seus direitos políticos no Superior Tribunal de Justiça (STJ) até 29 de setembro deste ano.

Nadir Rocha, eleito presidente da Câmara, foi mais uma vez o ‘camerlengo da Sé vancante’ e ocupou a Prefeitura até em março de 2017 Marco Alba ser reeleito prefeito, com 4 mil votos a mais que Rosane Bordignon (PDT), esposa de Daniel.

Corta para 2020.

Em 3 de agosto chegou à Câmara de Gravataí parecer do Tribunal de Contas do Estado (TCE) rejeitando as contas de 2017 de Marco Alba em seu melhor momento. Com popularidade em alta, o prefeito precisa de 14 em 21 votos para reverter a decisão e evitar uma inelegibilidade de oito anos, que lhe tiraria das eleições de 2022 e 2024. A votação precisa acontecer até 17 de setembro.

Já analisei o parecer do TCE, em TCE reprova contas de 2017 de Marco Alba; O Josef K. do dia e a chantagem. Reputo que a rejeição se deu pela defesa do prefeito não ter prestado informações ao tribunal no tempo hábil – o que é um dos apontamentos. As outras supostas irregularidades são frágeis e distantes de qualquer dosimetria da pena de tirar um político das urnas por quase uma década. Não há corrupção, nem dano ao erário.

Mesmo assim, com uma guerra no MDB, Marco Alba pode não ter os votos de quatro de seus vereadores (Alex Tavares, Clebes Mendes, Nadir Rocha e Paulinho da Farmácia), o que significaria a rejeição das contas, como tratei nos artigos Marco Alba sob chantagem; fogo amigo ameaça votação das contas de 2017, Jones e seus vereadores negam chantagem contra Marco Alba; ouça áudio e leia nota de repúdio e Zaffa é lançado candidato a prefeito por Marco Alba e 85 por cento do diretório; Prefeito não cede a suposta chantagem.

Ao fim, é até injusto esperar que o PDT de Bordignon, que tem na bancada a esposa Rosane, Dilamar Soares e Wagner Padilha, salve Marco Alba. É a vendeta perfeita.

A primeira-dama Patrícia Alba foi advogada do MDB na ação que tomou a Prefeitura de Bordignon em 2016. E, apesar de Marco e a família estarem em férias na Disney durante o golpeachment de Rita, poucos duvidam que o Nextel que ele usava não tenha sido acionado durante a cassação.  

A esperança de Marco ser absolvido no voto vem do PSD de Dimas Costa, que tem dois vereadores (Evandro Soares e Jô da Farmácia) que foram apoiadores do prefeito – e com CCs no governo – por sete anos, até a deflagração do processo eleitoral de 2020, no qual Dimas é candidato a prefeito e Evandro a vice. Outro, Bombeiro Batista, foi eleito oposição, participou no governo e, na crise do IPAG, em 2018, voltou à tropa oposicionista.

A maior dúvida é sobre os votos de Jô e Evandro.

Jô, que foi CC na Prefeitura no primeiro governo de Marco, só foi eleito em 2016 porque o prefeito bancou uma coligação entre o MDB e o PTB, partido do vereador na época. Custou uma cadeira ao MDB na Câmara. Evandro goza, ou gozava, de uma amizade com o prefeito, cujo gabinete era assíduo frequentador.  

– Caras como o Bordignon e o Marco quando você tem a oportunidade de matar, mata – resumiu a um amigo, falando em morte política, por óbvio, um político que ao menos não era da oposição.

– Basta seguir o parecer do TCE, que reprovou as contas.

Ao fim, o imediatismo da política evidencia que a oposição vai votar unida pela rejeição das contas, tornando o popular prefeito Marco Alba inelegível. A não ser que Dimas libere os seus vereadores ao olhar para sua foto gigante, tipo Kim Jong-um, na parede do diretório do partido e pensar que, como é um dos favoritos na eleição de 2020, pode ser ele uma vítima do ‘Efeito Orloff’, o “eu sou você amanhã”.

 

Assista ao 'Efeito Orloff´(propaganda de 87)

 

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