perfil Beto Pereira

Em movimento

O colecionador Beto, no Volks TL 1974, trilha o caminho para ser vice de Marco Alba

Em mais um dos perfis dos vereadores eleitos o SEGUINTE: apresenta Beto Pereira. Empresário dos transportes tem como destino ser o próximo vice.

 

A tragédia da morte do filho Eder, aos 20 anos, em um acidente automobilístico na ERS-118, numa manhã de 2000, despertou em Beto Pereira a vontade de entrar para a vida pública e fazer algo pela sociedade.

– Queria ajudar a melhorar as condições das rodovias, evitar que outras famílias passassem pelo que estávamos passando. Infelizmente, estava muito enganado. As coisas não são tão fáceis – resigna-se.

Mas esse realismo todo não significa amargura ou derrotismo no comportamento do vereador que, em 2012, mais de 10 anos depois do traumático episódio, foi eleito pela primeira vez, pouco antes de completar 60 anos.

– Não baixo a cabeça. Não me frustra dizer que estou tentando, o que me incomoda é não ter atitude de fazer – diz o, na campanha e na urna, 'Beto da TPL'.

 

Quixote e o Estado de Vento

 

Se não conseguiu vencer as batalhas que considerava prioritárias quando resolveu se aventurar pelo mundo da política, Beto procura outros moinhos de vento para combater. É quixotesca sua peregrinação em defesa de uma ideologia: a diminuição do tamanho do estado. Deem bola ou não, por governos, parlamentos e entidades empresariais do país afora, o vereador apresenta em folhas de ofício um estudo alertando para a necessidade do fim da estabilidade no serviço público.

Este ano, entregou em mãos ao governador José Ivo Sartori (PMDB).

– O estado é caro demais. São mais de 10 milhões de funcionários público no país. Na folha do Rio Grande do Sul temos 375 mil. Em Gravataí, cinco mil. Aí a solução para as crises nunca é enxugar a máquina, é sempre aumentar impostos.

– Em minha empresa, já tive 60 funcionários. Hoje tenho seis. Na iniciativa privada funciona assim, no poder público, não: se contrata mesmo não tendo dinheiro para pagar – compara o empresário do ramo de transportes.

 

: Beto, em uma das andanças em Brasília,, defende políticas liberais de diminuição do tamanho do estado

 

Empresário ‘bandido’

 

Beto sabe que uma mudança estrutural dessa envergadura passa longe dos limites de ação um vereador, mas considera uma obrigação sua usar o espaço político para promover esse debate.

– Pelo menos posso dar voz a empreendedores como eu. Porque hoje o empresário é visto como um bandido, como explorador de mão de obra, não como a mola propulsora da economia – argumenta.

 

Um dia…

 

São justamente os limites da função de vereador que fazem Beto querer mais.

– Sou aquele cara do “um dia…”. Um dia sonhei ter meu negócio e corri atrás disso. Depois, sonhei com a Câmara e cheguei lá. Agora, estou à disposição da base de governo para ser vice. Não sou genial, mas sempre fiz um bom trabalho. Sou aquele feijão com arroz bem temperado!

No movimento para compor a chapa com o prefeito Marco Alba (PMDB), Beto deixou o PP em março e se filiou ao PSDB, do atual vice, Francisco Pinho – que não pode concorrer por estar ocupando o cargo pela segunda vez: ele foi vice de Acimar da Silva (PMDB), na eleição indireta realizada pela Câmara após a cassação da prefeita Rita Sanco (PT). Ele, Pinho e o filho vereador Fred, tentam formar um bloco em torno de Beto reunindo, além do PSDB, o PP, o PRB e a Rede, respectivamente dos vereadores Robertinho Andrade, Tanrac Saldanha e Maribel Wagner.

– Também sinto que muita gente já considera idoso um vereador com 64 anos – observa, apesar de recém ter feito um curso de oratória e comunicação com os jovens.

– Numa função executiva é diferente: a experiência é positiva – acrescenta, lembrando que sua força política hoje é, dentro da base de governo, a que tem “o maior em número de candidatos a vereador” – leia-se: gente na rua pedindo votos para a reeleição do prefeito Marco Alba (PMDB).

A medida da vontade, e das articulações de Beto para ser o vice, podem ser medidas com uma garantia que ele dá:

– Não concorro à reeleição a vereador.

O candidato de Beto é outro Beto: Paulo Roberto Cardoso.

 

: Beto, com a ajuda de Pinho (à esquerda), tenta formar bloco com PP, PRB e Rede para ser o vice de Marco

 

São Francisco

 

Um movimento de Beto, também alheio à função parlamentar, é usado por ele para mostrar sua capacidade ao prefeito e a base aliada: a escolha de Gravataí pela Rede São Francisco para instalar uma escola para até 2 mil alunos.

O vereador conta que, no primeiro ano de mandato, foi procurado pelo padre Inácio Luiz Selbach, do Santuário de Fátima:

– Ele tinha batizado meus dois filhos e, na fatalidade que assolou nossa família, nos aproximamos muito. Quando soube que eu era vereador, me falou que a rede estudava abrir uma sétima escola na região. Na hora fui pesquisar área em Gravataí e guardamos a sete chaves.

– O prefeito conheceu o projeto e deu todo apoio. Conseguimos a reintegração de posse para o município de uma área no bairro Rio Branco, que tinha sido repassada ao Estado e não era utilizada. A área foi cedida para a escola que, no próximo ano, já estará aberta. E todo aquele entorno será revitalizado, com iluminação, estacionamento, lancherias, livrarias… – comemora.

 

: Beto na obra da escola São Francisco com o gerente Ademar Joenck e o padre Inácio Luiz Selbach

 

De Fusca

 

O estilo discreto Beto Pereira mantém também em plenário. É difícil lembrar algum enfrentamento com colegas durante a legislatura.

– Acho que toda pessoa tem o direito de errar, mas não de protagonizar fiascos em público como acontece muitas vezes.

– O parlamento precisa ser respeitado. Não se constrói nada no grito – avalia.

De barulhento, apenas os Fuscas – dos modelos Zé do Caixão à Itamar – que o ‘Seu Beto’ coleciona.

 

Um pouco da história – e das histórias – do Beto:

 

Carlos Gilberto Nunes Pereira é filho do motorista de ônibus Normélio e da dona de casa Ivone. Nascido em 20 de dezembro de 1952, é de uma época em que Gravataí tinha como Centro apenas um pequeno perímetro no entorno da praça da Prefeitura.

– A gente tinha toda liberdade para brincar na rua. Eu morava em frente de onde hoje fica a Câmara e ali era considerado interior. A ‘cidade’ terminava no Barbosa Rodrigues – aponta, citando a escola que frequentou antes do Dom Feliciano.

– No meu tempo se estudava para aprender a ler e depois o mundo era a escola. E esse mundo já me ensinou tanto… – perde-se em lembranças do tempo da foto abaixo, em 1962.

 

 

Trabalhar por conta

 

Beto começou a trabalhar aos 14 anos. Saltava da cama ainda escuro, pegava um pinga-pinga e duas horas depois estava atendendo no balcão da loja de tecidos Friedman, na avenida Presidente Roosevelt, no Navegantes, em Porto Alegre.

– Era um menino tímido. Meu avô Ladislau não acreditaria se eu contasse que ontem falei com umas 150 pessoas! – diverte-se.

Mesmo imberbe, já alimentava o desejo de ‘trabalhar por conta’. A primeira experiência veio aos 19 anos, numa extensão da função que exercia no Rei das Cortinas, na Dr. Flores, também na Capital.

Recém-casados Beto e Lorena aprenderam, a partir dos tecidos, a fazer as cortinas e instalá-las sob medida. Ele visitava os clientes, trazia as medidas, ela costurava e as entregavam prontas.

– Acreditava que ter meu negócio traria independência. Hoje, décadas depois, tenho a certeza de que o cara se incomoda mais do que quando empregado! – constata.

 

: Beto em 1972 com a esposa Lorena da Silva Pereira, uma união de 43 anos

 

A placa do ‘briquento’

 

A distância de Porto Alegre fez Beto mudar de ramo: virou taxista. O Fusca 74, prefixo 11, ficava na praça da frente do Hospital Dom João Becker, das 17h às 4h.

– A gente conhecia todo mundo. Não se tinha preocupação com assalto. Encrenca, só com bêbado – brinca.

Como motorista, também trabalhou na madeireira Soster, até conseguir uma placa e ter o próprio taxi. Ele ficou sabendo que um Nacional seria aberto na parada 79, e procurou o vereador Pedro Nunes, que o levou até a casa do vice-prefeito Ely Correa. Dias depois, recebeu uma visita do prefeito Abílio dos Santos:

– Gurizinho, teu prefixo é o 184.

Mesmo sem dinheiro, comprou um Fusca 76 do tio Arnaldo Pereira.

– Ele apostou em mim. Eu sempre fui ‘briquento’ – diz, lembrando que logo conseguiu outra placa na região do triângulo da Assis Brasil, em Porto Alegre.

– Naquela época as coisas eram assim.

 

Terceirizado nº 1

 

Com trinta e poucos anos, Beto tinha dois táxis e fazia entrega de ranchos para o supermercado Econômico, quando uma corrida mudou sua vida. Ele transportava um supervisor até a Pirelli, e perguntou se não tinha vaga na empresa.

– Tem para operador de empilhadeira – ouviu.

Sem nunca ter pilotado aquele tipo de veículo, Beto foi fazer o teste. Dois dias depois, recebeu um telegrama. Entre 24 candidatos, ficou com a vaga.

Em menos de dois anos, Beto já era motorista da diretoria. Levava o seu Roberto Palominos para palestras em todo o RS.

– Aprendi muito com ele. Abri meu primeiro CNPJ – agradece.

Beto passou a prestar serviços de transporte de pessoas para a multinacional italiana.

– Fui o primeiro terceirizado de Gravataí. Tenho o cadastro número 1 da Prefeitura – mostra.

Montou uma frota com um Corcel II, um Chevette, uma Kombi e comprou uma caminhonete Veraneio da própria Pirelli.

– Chamei a família para trabalhar, irmão, primo…

 

: Beto em 1998, na festa de 10 anos de sua transportadora a TPL, que lhe empresta o sobrenome na urna

 

Acidentes no destino

 

Uma tragédia marcou outra guinada na vida de Beto. Durante o transporte de um material da Pirelli a Dana Albarus, ajudou a socorrer um funcionário que teve as pernas esmagadas por um container.

– Nunca esquecerei o nome dele, Enio Raupp. Era 11 de setembro de 1989…

Após o incidente, um executivo da empresa o intimou:

– Conta aí como funciona essa terceirização do transporte que o pessoal da Pirelli fala tão bem?

Na manhã seguinte já estava prestando serviço na Dana e, vendo naquele negócio uma oportunidade, como TPL, em pouco tempo já operava também em empresas do porte de Renner, Wotan, Clorosul e Traffo.

– Sempre fiz diferente. Não é a mesma coisa transportar pessoas e ‘levar gente’. Mas muita gente começou a oferecer o serviço e os preços foram lá embaixo – recorda.

 

O filho cabeça

 

Hoje, 27 anos depois, a empresa de Beto continua prestando serviços para a Dana Albarus, com caminhões e guindastes, não mais transportando pessoas. Na linha de frente está Carlos Eduardo, filho mais velho de Beto.

– A boa cabeça do Carlos não permitiu que botássemos tudo a perder, quando perdemos o Eder em um acidente durante um dia de trabalho. Fiquei tão mal ao perder um filho que quase abandonei outro… – emociona-se.

 

: Beto em casa com os filhos  Eder (em memória) e Carlos Eduardo, no ano de 1997

 

Pedra na cruz

 

Na política partidária, Beto peleou até ser eleito, em 2012, na penúltima vaga, com 988 votos, pelo PP onde estava desde 2006, a convite do então vice-prefeito Décio Becker, do gerente da Sogil Joaquim Cavalheiro e do promotor de justiça aposentado José Maineri.

– Só concorri por insistência do Robertinho Andrade (vereador e presidente do partido).

Antes, poderia ter sido vereador em 2005:

– Minha filiação ao PSB não entrou em tempo.

Concorreu pelo PTB, onde já estava filiado, e ficou de fora com 1.114 votos, enquanto o último a entrar pelo PSB, Elio Bitelo, recebeu 660 votos.

– Saí do PTB logo depois de ir a uma reunião, em Alvorada, e ver o Claudio Manfrói xingar todo mundo. Estava com minha esposa e achei aquilo horrível – conta.

Agora, Beto deixa o PP por falta de atenção da direção estadual.

– Eu perguntei ao presidente estadual, o Celso Bernardi, se aqui em Gravataí jogamos pedra na cruz, já que o PP não nos dava bola.

– Vou para o PSDB, que considero o único grande partido de oposição ao PT no Brasil – explica.

 

 

OS PRINCIPAIS PROJETOS APRESENTADOS PELO BETO:

“Além da conquista da escola São Francisco, apresentei 23 projetos. Posso citar o alvará provisório de seis meses; o desconto no IPTU para quem preserva mata nativa; a carteira de doenças crônicas; e o gps na coleta de lixo para saber o horário em que o caminhão passa”.

 

UM ARREPENDIMENTO NA VIDA PÚBLICA:

“Não ter conseguido fazer o PP estadual nos achar bons aqui e dar atenção a uma Gravataí de mais de 180 mil eleitores”.

 

O BETO PELO BETO, EM UMA PALAVRA:

“Trabalhador”.

 

OS PLANOS DO BETO:

“Ajudar o PSDB a se fortalecer e convencer o bloco governista a me indicar para vice”.

 

O QUE DIZ PARA O ELEITOR QUE NÃO ACREDITA MAIS NOS POLÍTICOS:

“Digo que é preciso respeitar o ato de votar. O eleitor tem muita culpa pelo jeito como está a política. Esses dias um sujeito me abordou perguntando como era ‘aquela barbada’ na Câmara. Essa é a imagem que muitos têm da política, de que se está nela para levar, ou dar, alguma vantagem. Aqui sou um ‘vereador do não’. O trabalho do político não é dar bolo para o clube de mães ou dinheiro para quem bate no gabinete. Infelizmente, o populista, o bonito, o cinematográfico, é que ganham o voto dos alienados e irresponsáveis”.

 

UM POLÍTICO ADMIRADO PELO BETO:

"Fernando Henrique Cardoso"

 

O CANDIDATO A PREFEITO DO BETO:

“Marco Alba”.

 

O SELFIE DA CAPA

Na série de perfis com os 21 vereadores eleitos, para a chamada de capa o SEGUINTE: pediu que cada um fizesse um selfie, em um lugar que considera simbólico da cidade. BETO PEREIRA fez o seu no saguão da Câmara de Vereadores.

 

 

 

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