Mais uma vez me associo ao jornalista Reinaldo Azevedo, na análise sobre os seis primeiros meses do governo Lula.
Sigamos o texto.
Tenho poucos reparos a fazer aos seis primeiros meses do governo Lula. Começou acertando antes de tomar posse, com a PEC de Transição, e os críticos estavam obviamente errados, e isso se vê pelos fatos, não pelos desejos. Reestruturou o Bolsa Família e relançou programas sociais que haviam sido destruídos, como o Minha Casa Minha Vida. E aí há outro tiro n’água de parte considerável da imprensa: “São programas velhos”. É mesmo? Acho que a consideração se confunde com perversidade social e moral. Vá falar com quem não tem casa…
Temos um novo e bom arcabouço fiscal, e nunca foi tão grande a possibilidade de se aprovar a reforma tributária, uma demanda histórica — embora ainda considere isso difícil. As Cassandras às avessas erraram as predições sobre tudo: crescimento, inflação, câmbio, dívida… Cassandra, coitada!, fazia previsões certas nas quais ninguém acreditava. As nossas erram tudo, mas muita gente ainda acredita. Só se deram bem com os juros pornográficos porque o BC partilha de suas mesmas taras incompetentes.
Lula devolveu a dignidade à política externa brasileira e voltou a fazer do meio ambiente um ativo nas negociações multilaterais. O candidato a tiranete que o antecedeu havia conseguido transformar o capital verde em cinza. Ao mesmo tempo, o presidente recusa imposições da União Europeia para celebrar o acordo com o Mercosul, o que também é positivo. O nome disso é soberania. O mandatário parou de nos envergonhar e está com a agenda correta.
E há o tema da articulação política. O Congresso não terá menos poder do que tem. A tendência é que venha a ter mais. Precisamos caminhar par o semipresidencialismo ou para o parlamentarismo. Mas essa seria uma dificuldade de qualquer governo. Bolsonaro se arranjou com o Orçamento Secreto, abrindo mão de governar. Os conflitos ainda em curso derivam do fato de que Lula, corretamente, não abre mão de ser Executivo.
Nada é ruim? O governo ainda não aprendeu a trabalhar com as redes sociais e se deixa enredar pelas milícias digitais fascistoides. Padece de certa inocência nessa área. Quanto à questão da guerra Rússia-Ucrânia, a posição de Lula é essencialmente correta: sem concessões não se negocia; sem elas, fica-se no confronto permanente, sob o risco de um acidente que pode ter consequências catastróficas. Os nossos falcões ou carcarás guerreiros do “bico volteado” secretam seu ódio contra essa postura por sujeição voluntária ao “Imperador do Norte”. Veem-se como conselheiros do Pentágono…
Quanto às ditaduras latino-americanas — destacando que pouco se fala sobre as outras –, houve um erro grave ao receber Nicolás Maduro como alguém que pudesse se converter à democracia, e há cuidados excessivos em chamar a Nicarágua por aquilo que é: uma ditadura. Não temos de ser exportadores de democracia. Se nada puder ser feito para que os dois regimes mudem — e creio que não há –, então que Lula e o governo se abstenham de considerações.
Como é mesmo? “Jornalismo é oposição; o resto é armazém de secos & molhados”. Ouso atualizar a frase: “Jornalismo é precisão. Para que não corra o risco de se transformar num armazém de secos & molhados do reacionarismo bocó”.