histórias da bola

Encontro com o Rei

Depois do gol que fez contra Gales na Copa do Mundo de 1958, Pelé foi deitar-se com a bola nas redes – a festa do futebol para Pelé era uma manifestação sexual. Gabriel Hannot, jornalista francês

Não existe nada mais alegre do que uma bola de futebol quicando na área – nem nada mais triste do que uma bola vazia. Pelé

Pelé me levou a este constrangimento no futebol: quando ele me deu um balãozinho e fez o quinto gol deles contra nós, senti vontade de aplaudir. Sigvard “Sigge” Parling, zagueiro sueco, falando do jogo final da Copa do Mundo de 1958, Brasil 5×2 Suécia

Fiz mais de mil gols no futebol, mas o mais lembrado é esse que eu não fiz. Pelé, falando de sua cabeçada e da impossível defesa do goleiro inglês Gordon Banks na Copa do Mundo de 1970.

Um jogador de futebol pode ficar na história mais por causa de uma jogada do que por ter conquistado uma Copa do Mundo – e até hoje, quando encontro Pelé, peço desculpas por aquela defesa. Gordon Banks, goleiro inglês, campeão mundial em 1966, lembrando a sua defesa na cabeçada de Pelé em 1970.

Subimos juntos para cabecear a bola, eu era mais alto e tinha mais impulsão, mas quando desci e olhei para cima Pelé ainda estava no alto – parecia poder ficar no ar o tempo que quisesse. Giacinto Fachetti, zagueiro italiano na Copa de 1970

 

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O Ypiranga de Erechim inaugurou o Colosso da Lagoa em setembro de 1970. O estádio tinha mais lugares do que a cidade de habitantes. No festival de inauguração jogaram Inter, Botafogo, Grêmio, Cruzeiro de Belo Horizonte, Independiente, Santos, em campo muitos craques tricampeões da Copa do Mundo disputada apenas algumas semanas antes no México  – Tostão, Piazza, Everaldo Jairzinho, Paulo César, Clodoaldo, Edu, e ele, nada menos do que Pelé. Bota festival nisso!  

Os dois melhores hotéis de Erechim, mesmo assim bem modestos, viveram dias de enorme efervescência. O jovem repórter tinha uma missão complicada: entrevistar Pelé, o Rei do Futebol. Sem horário marcado, o “foca” novato resolveu que teria que ser antes do almoço do Santos, no hotel, mais exatamente no apertado saguão, onde os jogadores teriam necessariamente que passar para ir ao refeitório. A estratégia parecia perfeita, apertar o Rei, agora ou nunca!

– Quero fazer uma entrevista contigo – anunciou o repórter, quando enfim o Rei surgiu escadaria abaixo.

– Sem problemas, espera só um pouco – respondeu Pelé.

Tinha problema sim, e não era pouco, porque no saguão estava também um fotógrafo lambe-lambe de Erechim, ele e o máximo de torcedores locais que cabiam naquele espaço, apertados, uns 40, todos para tirar foto com Pelé. Os demais jogadores do Santos passaram tranquilos pela galera agitada, e Pelé ali, acostumado com o tumulto, o único calmo no meio da loucura total.

Ficar na frente de Pelé não era para qualquer um, e assustador para um repórter que em setembro de 1970 tinha só pouco mais de um ano de profissão. Essa situação de estar diante de um mito é descrito logo na abertura da livro “A Luta”, de 1975, do escritor norte-americano Norman Mailer, sobre o boxeador Cassius Clay, seu amigo (um texto que qualquer pessoa gostaria de ter escrito!). 

“É sempre um choque vê-lo de novo. Não “ao vivo”, como na televisão, mas de pé à nossa frente, em sua melhor forma. É então que O Maior Atleta do Mundo corre o risco de se transformar no nosso homem mais belo. Mulheres suspiram“audivelmente”, homens baixam o olhar. São lembrados de novo de sua falta de valor. Pois ele é O Príncipe do Paraíso &n dash; é o que diz o silêncio que envolve seu corpo quando ele está luminoso”.  

Voltando a Erechim: não foram só 40, uns 200 tiraram foto com Pelé: abraçavam o Rei, colocavam o braço no seu ombro, e na medida que saíam, outros já entravam para o ritual. Os demais jogadores terminaram o almoço, subiram invisíveis para os seus quartos, e Pelé ali, calmo, firme e disponível, tirando e tirando foto. E depois de duas horas, quando o último torcedor saiu, Pelé olhou penalizado para o jovem repórter:

– O fotógrafo já ficou rico – brincou – agora podemos conversar.  

–  Então vai almoçar, espero aqui – respondeu o repórter, na sua insignificância e falta de valor.

– Vamos fazer melhor: vem almoçar comigo, o Santos paga – devolveu o Rei, rindo, luminoso.

Durante mais de uma hora, mãos e pernas tremendo, o repórter ganhou – além do almoço grátis – a companhia de Pelé, sozinho com ele e uma generosa travessa de bifes. Tratando de motivar e encorajar o nervoso e pobre entrevistador, fazê-lo levantar o olhar, O Maior Atleta do Mundo fez uma revelação que na verdade era um “furo” de reportagem internacional: ali, em setembro de 1970, o Rei disse pela primeira vez a um jornalista que a Copa do tri tinha sido a sua última, que nunca mais iria a outra. E não foi mesmo!

Em vez de uma manchete de capa, a notícia ganhou apenas umas míseras 15 linhas escondidas nas páginas internas do jornal. Parece que na redação não levavam muita fé no jovem repórter. Mas nem precisava: o novato já tinha ganho um prêmio mais precioso – aquele encontro com o Rei, o amável, humilde e generoso Pelé.   

 

 

AGENDA HISTÓRICA DO FUTEBOL GAÚCHO NA SEMANA

 

27.8, domingo

2007 – Grêmio apresenta atacante Rodrigo Mendes, contratado pela quarta vez

2010 – Inter anuncia abertura para venda do Estádio dos Eucaliptos, por licitação, com lance mínimo de R$20 milhões

 

28.8, segunda-feira

1919 – Fundação do Club Sportivo Bento Gonçalves

 

29.8, terça-feira

1927 – Fundação do Bancário Futebol Clube de Porto Alegre, com campo na Rua Veador Porto

1957 – Primeiro jogo do Inter no Recife, 1×1 Náutico

 

30.8, quarta-feira

1914 – Primeiro jogo oficial do São José, 4×0 no Frisch Auf

1963 – Começa no Estádio Olímpico a Universíade, Jogos Olímpicos Mundiais Universitários

1981 – Grêmio 3×1 Cosmos em Nova Iorque

1995 – Grêmio bi da Libertadores, 1×1 Nacional de Medellin, na Colômbia

 

31.8, quinta-feira

1962 – Presidente do Inter, Fagundes de Mello, denuncia “campanha” da imprensa  contra o clube

1969 – Com técnico gaúcho João Saldanha, último jogo do Brasil nas eliminatórias da Copa, 1×0 sobre o Paraguai no Maracanã, 183.341 pagantes: as “Feras do Saldanha” ganharam os seis jogos de classificação, mas ele acabou demitido

 

1.9, sexta-feira

1959 – Inter inaugura primeiro galpão de obras do Beira-Rio

1980 – Primeiro jogo do Inter com o Barcelona e no Camp Nou, 2×2, com cota de 22 mil dólares livres

2014 – Hélio Dourado terceiro patrono do Grêmio, após Aurélio de Lima Py em 1946 e Fernando Kroeff em 1960

 

2.9, sábado

1910 – Mais antigo documento do Inter: secretário Antenor Lemos pede a diretor da Limpeza Pública (e presidente honorário do clube), Graciliano de Faria Ortiz, melhoras em seu campo, na Ilhota

1956 – Grêmio vence Inter, 2×1, com árbitro alemão Hans Lutzkat (público recorde de 36.059 espectadores), e dá a cada jogador C$10 mil e um passador de gravata; ponteiro-direito Dorval, revelado pelo Força e Luz, estreia no Santos, em jogo contra o Flamengo no Maracanã

1989 – Grêmio campeão da Copa Brasil pela primeira vez, 2×1 Sport Recife, Olímpico

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