3º NEURÔNIO

Encontros sonoros e feministas: Garotas Instantâneas e EX tem performance inédita neste sábado em Porto Alegre

Integrantes da Garotas Instantâneas e da EX / Foto: Fernanda Chemale

A Galeria Augusto Meyer do Instituto Estadual de Artes Visuais (IEAVi), localizada no 3º andar da Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ) recebe, no próximo dia 30 de agosto, sábado, às 19h, a performance “Excorporação”, evento que marca a culminância do projeto “Banda de Garotas Instantâneas convida Banda EX e outras mulheres”.

A proposta nasce do encontro entre estes dois grupos da cena porto-alegrense para criar um repertório inédito, construído de forma coletiva, pluriautoral e transdisciplinar. Som, corpo, palavra e imagem se entrelaçam em um processo que dialoga com música experimental, artes visuais, literatura e cultura pop urbana.

Além da performance colaborativa entre as bandas Garotas Instantâneas e EX, a noite terá participações especiais das DJs ElleP e Malka e da poetisa e MC Marielle ADK, acompanhada de Matteo, na base eletrônica, ampliando as conexões sonoras e poéticas do projeto.

O evento tem entrada franca e contará com acessibilidade em Libras. A apresentação será registrada em áudio e vídeo e dará origem a uma exposição na Fotogaleria Virgílio Calegari, também no IEAVi, em Porto Alegre, marcando o encerramento do projeto”. O Instituto Estadual de Artes Visuais é uma Instituição da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac).

Formada por Marion Velasco, Alice Porto, Andressa Cantergiani e a VJ Carolina Grimm, a Banda de Garotas Instantâneas surgiu em 2017, como uma formação colaborativa e intergeracional de artistas visuais. Sua estética mistura música eletrônica, ruído, vozes, poesia e pensamento feminista latino-americano. Já a EX, fundada em 2006, com uma sonoridade que mescla post-punk, gótico e shoegaze, reúne Thiane Nunes (vozes/letras), Gabriella Tachini (baterista), Guilherme Klamt (guitarrista), Rafael Martinelli (vozes/letras) e Cristiano Sertório (baixista). Essa é a primeira vez que os grupos se unem para uma criação expandida — um exercício de escuta e experimentação.

Para a EX, a performance no Instituto Estadual de Artes Visuais marca a primeira vez em que o grupo compõe repertório e espetáculo junto a artistas de outras trajetórias. Ao longo de duas décadas e sete álbuns, a banda sempre construiu sozinha suas canções, seu posicionamento e sua performance. Nesse processo coletivo, descobriram que a resistência que mantém viva a arte marginal atravessa diferentes formas de expressão: mesmo com linguagens distintas, a mensagem muitas vezes é a mesma. “Se a luta une, a linguagem é um detalhe”, afirmam.

Garotas debochadas

A Banda de Garotas Instantâneas é uma proposição pluriautoral de performance em artes visuais com elementos sonoros eletrônicos e literários. Aborda questões políticas, feministas, com uma estrutura flexível que permite a difusão em diversos meios, mídias e formatos. É formada por quatro mulheres de faixas etárias distintas, com filhos/sem filhos e orientações sexuais variadas, usando a performance e o som para compartilhar experiências, expressar indignação frente às dificuldades, desigualdades, abuso de poder enfrentados no cotidiano, seja nos relacionamentos, no campo profissional e no mundo da Arte.

As letras partem do cotidiano de Alice Porto e tem base nas suas experiências vividas e compartilhadas, com ironia e deboche, nas suas redes sociais. Marion desenha a base eletrônica e dispara samples ruidosos, melódicos e ritmados dos padrões para baixo-bateria-percussão e efeitos, disponibilizados pelo controlador de som. Andressa traz melodia e ruído às atmosferas autorais da banda. Por meio do teclado, mescla timbres crus de piano clássico com sintetizadores, usando a metodologia do ouvido ao corpo, do corpo ao ouvido. A partir destas sonoridades, Carol Grimm cria as imagens que acompanham as performances da banda, com imagens encontradas em arquivos gratuitos da Internet, em vídeos criados pelas demais artistas, com sobreposições de luz e cor.

“A banda é, ao mesmo tempo, um manifesto e um laboratório de criação”, define Marion Velasco. “Não seguimos as regras da música tradicional. Mantemos o compromisso com a escuta, a experimentação e a liberdade de criar, a partir do que somos e do que vivemos como mulheres artistas diversas e conscientes”, declara.

Apesar dos avanços das lutas feministas, ela reconhece que é preciso seguir ocupando espaços. “Precisamos dar voz às artistas mulheres, disseminar nossa participação, por meio da materialização do trabalho e, assim, contribuir com o debate presente e a construção de uma nova História da Arte”, afirma a artista.

Arte, ativismo e territórios: um histórico de encontros

O projeto “Banda de Garotas Instantâneas convida Banda EX e outras mulheres” não se limitou à criação musical. Em uma primeira etapa, promoveu ações de escuta e troca com mulheres de territórios de luta, como a Casa Mulheres Mirabal (Movimento de Mulheres Olga Benário) e Alvo Associação Cultural. Em encontros mediados pela assistente social e percussionista Leciane Rodrigues Ferreira, foram compartilhadas experiências, saberes e afetos. Essas vivências inspiraram poemas, sons e ideias incorporadas ao repertório que será apresentado no IEAVi, localizado na CCMQ.

A partir dessas trocas, algumas participantes foram convidadas a levar suas expressões para a performance final, ampliando o diálogo entre arte, comunidade e equipamentos culturais. Na sequência, a segunda etapa ocorreu em três estúdios de Porto Alegre diretamente afetados pelas enchentes de maio de 2024: Estúdio Áudio Porco, Estúdio Cadela Records e Estúdio Sangha. Esses espaços funcionaram como laboratórios colaborativos, onde as bandas experimentaram sonoridades, métodos e referências, consolidando a criação coletiva.

Para a EX, momentos vividos no Mirabal e na Alvo reforçaram uma percepção já evidente para o grupo: antes de ser tocado pela arte — ou de utilizá-la como instrumento de existência — é preciso garantir o básico para sobreviver. Ter o que comer, um teto, cuidar das crianças e da própria comunidade são prioridades que se impõem, ainda que a constatação seja dura.

Referências e resistências

O projeto se ancora no trabalho de artistas que cruzam som, imagem, performance e ativismo, como Laurie Anderson, Yoko Ono, Pipilotti Rist e Kim Gordon. Ao assumir uma perspectiva de gênero e coletividade, ele questiona o silenciamento histórico das mulheres nas artes e nos convida a imaginar outras formas de criação e existência.

A “periodicidade indefinida” das ações das Garotas Instantâneas revela as barreiras enfrentadas — econômicas, estruturais, simbólicas — por quem insiste em fazer arte com consciência crítica experimentação e inclusão. Mas também demonstra sua persistência em criar redes, reinventar linguagens e ocupar os espaços. A trajetória da Banda de Garotas Instantâneas reflete essa luta: desde 2017, o grupo realiza performances que atravessam música, poesia e ativismo, reunidas na publicação eletrônica “Banda de Garotas Instantâneas: nossa luta é diária_performances sônicas e ativismo feminista”, indicada ao XVII Prêmio Açorianos de Artes Plásticas 2024/2025 na categoria Livro de Artista. A publicação está disponível para download no link: https://hemisphericencounters.ca/projects/poeticas-do-ativismo-feminista/

SERVIÇO

Banda de Garotas Instantâneas CONVIDA Banda EX e outras Mulheres
Projeto contemplado pelo Edital SEDAC/PNAB RS nº 32/2024 – Música

O quê: Performance “Excorporação”

Quando: 30 de agosto, sábado, às 19h

Onde: Galeria Augusto Meyer, Casa de Cultura Mario Quintana (Rua dos Andradas, 736, Porto Alegre-RS)

Quanto: Entrada franca

Acessibilidade: Intérprete de Libras

Participações especiais: DJ ElleP, DJ Malka, MC Marielle ADK e Matteo

Participe de nossos canais e assine nossa NewsLetter

Facebook
WhatsApp
Twitter
LinkedIn
Pinterest

Conteúdo relacionado

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Receba nossa News

Publicidade