Em mais um perfil sobre o vereadores eleitos feito pelo SEGUINTE:, conheça Alex Tavares – o homem que esteve dividido entre a carreira no rádio e salão cabelereiro que lhe dá o sustento
Em meados de 1994 para 1995, o jovem Alex Pereira Tavares, então com 17 anos, se via diante de uma encruzilhada sobre o futuro. Ele já frequentava os estúdios da RVG – a Rádio Vale do Gravataí, no Centro -, onde sonhava com o dia em que poderia comandar os microfones da emissora mais popular da cidade à época.
Por aquelas dias, também havia recebido o convite do marido de sua cunhada, Rogério Aguiar, para começar uma carreira de barbeiro e cabeleireiro. E já sabia, prematuramente, que a política envenenava o sangue em suas veias.
Confuso entre três caminhos, escolheu os três.
– Durante no ano de 1995, fiz um curso de cabeleireiro na 66 e, sempre que dava um tempinho, ia para a rádio. Às vezes, eles até deixavam eu ler um textinho aqui e outro ali. Até que, depois, fiz o curso de radialista na Feplam também – conta.
– Nessa época, eu tinha Sérgio Zambiasi como referência – diz, lembrando a voz que nos anos 80 e 90 abria as manhãs da Radio Farroupilha e, hoje, atua na Show da Manhã, da Caiçara.
Radialista e cabeleireiro ele se formou mais cedo. A política só veio anos mais tarde, mas essa história não começa aqui.
Caso de amor com a 66
Alex Tavares nasceu em 24 de maio de 1977 em uma família de evangélicos que até hoje frequenta a igreja Assembleia de Deus. O pai faleceu quando o menino contava apenas sete meses de vida. Nessa época, foi morar com a mãe e a avó na Avenida Elisa, perto de onde muitos anos mais tarde, abriria seu primeiro salão de barbeiro.
Em 1980, aos três anos, voltou a morar na parada 66. É lá que vive até hoje.
– Gosto da 66, 67. Me criei ali, crio meus filhos ali. É um lugar de família – resume.
Alex é casado com Janaína Tavares há 19 anos. É pai de Álex, com 14, e de Alana, que tem dois anos de idade.
O salão do Alex
Depois de estudar no Santa Rita – no prédio onde hoje fica a Escola Municipal Nossa Senhora Aparecida -, Alex ajudava o padrasto como feirante. O menino, no entanto, tinha sonhos maiores, especialmente depois de conhecer a jovem Janaína, com quem se casaria em seguida.
– A irmã dela namorava o Rogério, que tinha um salão no Parque dos Anjos – revela.
O concunhado contou a Alex que, com o advento do Plano Real, conseguiu estabilizar os rendimentos do salão e que Alex poderia ter uma vida estável se investisse na mesma carreira. O jovem de 17 anos tinha ambições na vida e viu que a profissão lhe permitiria ser dono do próprio negócio.
– Daí topei fazer o curso na 67. Estudava lá e, à tarde, recebia as dicas do Rogério. Ele é um dos melhores que conheci para corte de cabelo masculino. Aprendi muito, mas muito mesmo, na convivência com ele.
A rotina de Alex, por essa época, era rigorosa: de manhã, o curso na 66. À tarde, ia para o salão do Rogério, onde aprendia na prática o ofício do amigo. Dia após dia, foi entendendo como o cabelo se comporta, que corte cai bem com cada formato de rosto, os penteados da moda o gosto de cada um dos fregueses.
Assim que viu que tinha como viver do crescimento do cabelo dos outros, investiu. E em setembro de 1997, abriu o primeiro salão na Avenida Elisa, perto da casa da avó que o recebera ainda bebê após a morte prematura do pai. Não ficaria lá por muito tempo, porém.
– Em 10 de dezembro de 1997, abri meu salão onde ele está até hoje, na Avenida dos Estados.
Os primeiros fregueses foram chegando e Alex construiu novas amizades. O salão cresceu. E, logo, veio o convite para a política.
A visita do seu Abílio
Em meados de 1999, o então deputado estadual Abílio dos Santos entrou pela porta do salão de Alex na 66 disposto a voltar para casa com um candidato a vereador a mais na nominata do PTB para 2000.
Alex havia feito campanha para o ex-prefeito em 1998 e o tinha em alta conta, na época. Abílio era lembrado como o 'pai dos pobres' pela política assistencialista que praticava no governo que fez entre 1982 e 1988. Numa época em que a cidade era apenas um dormitório para quem trabalhava em Porto Alegre, a prefeitura era mais lembrada pelo que poderia dar ao cidadão do que pelo serviço que prestava. Outros tempos, os anos 80.
– Em 1999, ele me convidou para ser o presidente da juventude do PTB. Disse que acreditava que, com o conhecimento que eu tinha, podia fazer os votos necessários para me eleger.
Com o aval de Abílio, Alex foi. Numa campanha comprida, feita praticamente sozinho em seu Fiat Uno vermelho, fez 333 votos. Esperava pelo menos uns 900.
– Fiquei bem arrasado em 2000. Achei que não ia ter cara de voltar para o salão, mas enfrentei. Tem uns que fizeram piadinha, deboche. Mas muitos que me abraçaram e estão comigo até hoje – considera.
Semanas depois da eleição, o mesmo Abílio que o incentivara um ano antes voltou. E diante da quase certa desistência de Alex, que enfileirava motivos para abandonar o sonho da política, Abílio fez uma única pergunta.
– Que idade tu tens, meu gurizinho?
– Tenho 23.
– Então! – disse Abílio, puxando o rapaz para um abraço quase paternal – Tu tens muito tempo pela frente ainda. Se não foi agora, vai ser depois. Pode acreditar.
Alex acreditou ainda outras três vezes: outra pelo PTB, uma pelo PP e uma PMDB. Na última, em 2012, deu: com 1816, foi eleito o sexto vereador do partido na mesma eleição que levou Marco Alba à Prefeitura de Gravataí.
O sonho do rádio
Alex nunca deixou de lado o sonho de seguir carreira no rádio.
– Um amigo, o José Luís de Jesus, ele me incentivou. Me recebia no estúdio da RGV, deixava eu ler alguns anúncios. Eu tinha uns 13 para 14 anos. Passava na rádio todos os dias depois da aula – conta.
José Luís, conforme Alex, hoje é advogado, dono de jornal e de uma rádio em Araranguá, em Santa Catarina. De vez em quando, Alex estica o carro pela BR-101 e vai visitá-lo. São amigos até hoje.
– Na época dele, a rádio era forte em Gravataí. Conheci lá o Edir Oliveira. E Marco Alba também.
Edir e Marco eram locutor e comentarista das transmissões de futebol da RVG nos anos 80. Os dois acabaram se tornando prefeitos da cidade: Edir em 1992 e Marco, 20 anos depois, em 2012.
Outra personalidade política com quem Alex conviveu ao fazer o curso de radialista foi o apresentador, ex-senador e ex-deputado Sérgio Zambiasi. Na época, ele ainda trabalhava na Rádio Farroupilha, em um programa diário que começava às 5h da madrugada e ia até às 13h – um horário tão extenso que Zambiasi praticamente vivia dentro do estúdio.
– Uma vez, vi a filha dele lá. Ela esperava os intervalos para ter um assunto com ele. Era uma loucura.
Alex estagiou ainda na 104 FM, uma rádio de música popular que fez sucesso no final dos anos 90.
O mandato
Eleito vereador em 2012, Alex se viu diante do maior desafio de sua carreira até aquele momento. De perfil discreto e conciliador, teve dificuldades, no início, como o intenso embate que a Câmara passou a viver naquele momento.
Mesmo depois da posse de Marco Alba, a política ainda vivia o rescaldo da cassação da prefeita Rita Sanco, ocorrida em outubro de 2011. As bancadas divididas entre os que apoiaram a empreitada e os que defendiam a ex-prefeita. E Marco Alba, que havia sido a figura pública que serviu de avalista político para o governo transitório de Acimar da Silva, era alvo.
Alex assumiu a liderança do governo nesse contexto político, logo após um período de sete meses em que a função havia sido exercida pelo então colega de partido Dilamar Soares.
– Aquele período de liderança me deu um grande conhecimento de como o governo funciona, do papel de cada secretaria.
Segundo ele próprio, a principal plataforma defendida por seu mandato é a família.
– É uma instituição da qual todos viemos. E estamos vendo que vem se desgastando com o tempo. A família é a base de todas as conquistas, o berço de todos os sonhos de quem quer uma vida melhor.
Alex por Alex
– Acho que uma palavra que me define é perseverança.
Um arrependimento
– Todas as posições e decisões que tomei no mandato foram pensadas. Não tenho nenhum arrependimento delas.
O candidato a prefeito de Alex
– Meu candidato é o prefeito Marco Alba, claro.