O prefeito municipal de Viamão, Nilton Magalhães, recebeu a reportagem do Seguinte:/Diário de Viamão, no final da manhã da sexta-feira, 27 de dezembro, para fazer um balanço sobre os pouco mais de dois anos em que comandou a Prefeitura, desde a saída do Professor Bonatto para concorrer a deputado estadual, do qual era vice-prefeito. Em uma com versa de cerca de meia hora, o engenheiro civil e funcionário público de carreira, comentou as dificuldades enfrentadas, relacionou obras e investimentos feitos pelo governo, especialmente nas áreas da educação e da saúde, comentou sobre a pretensão de ser candidato à Assembleia Legislativa em 2026 e até deu um breve conselho ao seu sucessor, Rafael Bortoletti.
Confira, a seguir, os principais trechos da conversa.
O começo do governo e a chegara ao comando
“Assumimos em 2021 com um grande desafio que foi a pandemia (da Covid-19), eu como vice-prefeito do (Professor) Bonatto. Ele ficou à frente do governo por 15 meses e eu por 30 meses, o que dá em torno de dois anos e meio. A Covid foi um desafio porque não tínhamos vacina, havia a questão da proteção, do comércio que abre ou não abre, fiscalização… Trabalhamos com um comitê de saúde opara poder entender o que estava acontecendo. Com o sucesso do que estava sendo feito na área da saúde, entre outros setores, o Bonatto estava preparado e deixa o cargo para ser candidato a deputado estadual. Há 28 anos a cidade não tinha um representante na assembleia. Foi a nossa grande vitória política porque elegemos um deputado que praticamente saiu de Viamão com os votos suficientes para ocupar uma cadeira, foram 10 mil votos a mais do que precisávamos e isso provou que foi uma decisão acertada. Tanto que nesses dois anos do Professor Bonatto, lá, nos trouxe uma capacidade de investimento importante, mais de R$ 200 milhões”.
Educação, perdão de dívidas, aumento da receita
“No segundo ano a minha função foi de retomar a cidade, e fizemos isso através da educação. Apostamos muito forte no grupo de cuidado com as pessoas, contratamos mais de 200 profissionais como psicólogos, assistentes sociais, professores, para que pudéssemos retomar a vida. Ao mesmo tempo implantamos o programa chamado Refaz, inédito no Brasil, em perdoamos juros e multas de dívidas, em até 70% do principal. Ninguém foi tão agressivo quanto nós em relação às dívidas das empresas, principalmente com IPTU e ISS, que ficaram quase sem faturamento por circunstâncias diversas e que, com essas medidas, puderam colocar a situação em dia. Surpreendentemente tivemos uma grande arrecadação que fez com que nossos tributos municipais, nestes três últimos anos, praticamente dobrassem. A nossa participação no bolo tributário do estado, do ICMS, que era de 7%, hoje chega a quase 9%, com uma receita total que aumentou nesse período cerca de 40%. Nossa cidade cresceu em potencial de consumo, de 10º para 9º no estado, e investimos forte na infraestrutura. No segundo ano construímos três escolas novas infantis, tínhamos 22 mil crianças e hoje temos quase 30 mil na educação infantil, com alimentação, uniformes, coisas que a gente nunca tinha conseguido. Outro programa que criamos foi o Refaz da Vida, e Viamão é, hoje a cidade com o maior número de bandas do Brasil, com 47 bandas. É um trabalho voltado a fazer com que a cidade tenha, cada vez mais, uma melhor qualidade de vida”.
Hospital Viamão, unidades de saúde e hospital regional
“Na área da saúde saltamos de 300º lugar para 1º lugar no estado em atenção básica. Saímos de uma nota 1.5 para 9.6, e somos referência pelo Ministério Público no programa Mediar, que soluciona problemas chamando as pessoas que necessitam de atendimento. Aconteceu com a gente na atenção básica, que demos esse salto percentual importante, e criamos uma musculatura forte na área da saúde porque somos o 1º lugar em cobertura vacinal no estado e implantamos um plano que contempla cinco novas unidades e ampliamos o horário de atendimento das 6h até as 20h em 10 unidades de saúde. Criamos o serviço da pediatria, a UPA passou de 4 mil atendimentos mês opara 9 a 10 mil, prestamos suporte com uma unidade de saúde interna no Hospital Viamão e conseguimos descentralizar a farmácia e fizemos uma série de melhorias nesta área. Por fim, a pedra no caminho que tínhamos era um problema do estado que caiu no nosso colo para ser resolvido. Junto com o governador (Eduardo Leite), com o deputado (Professor Bonatto), tivemos coragem comoramos o hospital, trouxemos um novo prestador de serviços excelente. No primeiro mês passamos a atendendo praticamente 50% a mais daqueles serviços que o hospital não atendia, no segundo abrimos a traumatologia para média e alta complexidades, no terceiro mês foi a faz da maternidade, permitindo o nascimento de viamonenses, o que não acontecia já há mis de três anos… E agora, no último mês, a contar de agosto que foi quando trocou a gestão, duplicamos a oferta de leitos de UTI adulto, de 10 para 20 leitos. Outra boa notícia é que compramos o terreno ao lado do hospital para repassar ao (governo do) estado que deve fazer uma modelagem nova, construindo um hospital regional com mais de 10 especialidades, quadruplicando o número de leitos que temos hoje, de 150 para cerca de 600 leitos. Isso, dentro de aproximadamente três anos”.
Pavimentação, atração de empresas e foco no esporte
“Na infraestrutura, praticamente 30% dos problemas que a cidade tinha, 400 a 450 quilômetros de vias não pavimentadas, conseguimos pavimentar e requalificar cerca de 150 quilômetros. Hoje não há uma comunidade que não tenha um circuito de pavimentação para poder utilizar. Quase 80% da população utiliza estes circuitos, e não temos nenhuma linha de ônibus na área urbana, circulando por vias sem pavimentação. Depois partimos para a implementação do desenvolvimento através de uma perimetral metropolitana que trouxe para a cidade grandes redes varejistas-supermercadistas. Como o Zaffari, o Cesto, o Bourbon e o eixo da (ERS) 040 que prospecta o Stock Center, o JP Farma, os nossos mercadistas também cresceram muito com investimentos como os do Max Center na Santa Isabel, o Barcelos que vem lá da área rural de Águas Claras aqui para o centro, o Supermercado Santa Maria na Cecília… Na parte do esporte construímos um ginásio que deveria contemplar 30 cidades e só cinco conseguiram, uma delas Viamão, a mais pobre. E agora temos um Centro de Iniciação Esportiva beneficiando mais de 1,5 mil jovens, além de adultos e pessoas da terceira idade”.
De olho no turismo, Lago Tarumã e Parque Saint Hilaire
“E estamos focados em desenvolver e fazer com que o turismo seja referência no nosso município. Para isso criamos a secretaria de Turismo, o plano municipal de turismo, a partir de uma integração com o Sebrae e os operadores de turismo trabalhamos e praticamente todas as rotas turísticas foram asfaltadas. Sem contar as duas obras icônicas, como chamamos, que foi a retomada do pertencimento e da autoestima do viamonense, que é o Parque do Lago Tarumã, já na quarta etapa. Primeiro a revitalização e mais recente o parque esportivo. Outro ícone é o Parque Saint Hilaire que estamos deixando bem estruturado com um grande centro de eventos, ginásio coberto, quadras esportivas, com pista de bicicross, projetando trazer para Viamão, também, o acampamento farroupilha. Isso beneficia os gaúchos da 1ª Região (Tradicionalista) que foram “expulsos” economicamente do Parque da Harmonia, em Porto Alegre, e que vão ter aqui um acampamento permanente. Essas são apenas algumas mudanças que a gente conseguiu implementar nestes 30 meses de governo, apesar de ter sido estruturado esse planejamento ainda na (época da) pandemia. A gente entende que Viamão, hoje, tem uma bela trajetória para ser vivida com os próximos gestores”.
Como o próximo prefeito vai receber a Prefeitura, financeiramente
“Eu entrego bem, a Prefeitura, financeiramente, para o Rafael (Bortoletti, prefeito eleito que assume neste dia 1º de janeiro). A gente recebeu com R$ 36 milhões somente em débitos com fornecedores, em 2021, e com R$ 150 milhões de dívidas com o Instituto de Previdência dos Servidores. No primeiro ano o Bonatto quitou praticamente todas as dívidas com fornecedores, e do instituto fiz parcelamentos, parte em 60 meses e parte em 200 meses, e já paguei cerca de 35%, mais de R$ 60 milhões dessa dívida herdada. A questão da previdência do funcionalismo é o grande gargalo da União, mas aqui a gente fez uma boa negociação e eu deixo essa questão em bem melhor situação do que encontramos. Não deixo para o próximo prefeito nenhum passivo, embora tenhamos assumido com muitos precatórios para pagar, consegui negociar muitas cobranças judiciais, negociando por 20 anos ou 30 anos, e quitando outras de forma antecipada para evitar que tivéssemos bloqueios nos recursos da administração municipal por conta de ações trabalhistas. Fizemos isso para que o município pudesse alcançar a saúde financeira que tem, duplico praticam ente as receitas municipais, aumento em 40% a receita geral, aliás, somos o terceiro município do Estado em aumento de arrecadação. Assumimos com um orçamento de R$ 500 milhões e entrego em torno de R$ 900 milhões, ou mais, de receita. Em relação ao número de servidores, pegamos com um quadro de 3,5 mil colaboradores e estamos passando a chave com 4,2 mil, um aumento principalmente na contratação de professores e profissionais da área da saúde. Também demos um aumento real de salário, por exemplo para o magistério. A inflação foi de 20%, por aí, e o reajuste nos vencimentos foi de mais de 40%, com melhoria também no vale-alimentação que, hoje, equivale a quase um salário mínimo, um ganho de mais de 100% no nosso governo. Todos os servidores tiveram em sua data base a reposição da inflação e mais um ganho real. Podemos dizer que foi um período de prosperidade, que fizemos uma gestão competente e com os pés no chão.
A chuvarada e enchentes e a bronca do lixo
“O período de pandemia foi mais difícil porque a gente não sabia o que estava enfrentando, não sabíamos se a contaminação era na saliva, pela tosse, então era aquela situação de usar a máscara, não tinha vacina, aquilo assustou muito e foi o mais difícil para população. Tinha aquele sistema de bandeiras do estado para saber quem estava em áreas de risco ou de menos risco, foi o mais complicado para o Estado e para nós, mas a gente também conseguiu. A parte da enchente felizmente Viamão está na cota de 100 metros acima do mar e praticamente 90 metros acima de Porto Alegre, não recebemos água de ninguém, esgoto de ninguém, então Viamão conseguiu fazer o acolhimento de mais de 5 mil pessoas da Região Metropolitana. Apesar de que foi um ano com seis intempéries muito fortes, com chuva, com ventania, queda de post, mas a nossa Defesa Civil e estruturou muito também em função desses momentos e conseguimos superar bem. A questão do lixo é muito momentânea. Se fizer uma análise dos últimos 20 anos, a Prefeitura sempre teve um fornecedor que presta bom serviço, mas, depois, acaba perdendo performance. Quando o que estava, que havia problema de recolhimento de lixo, trocamos o prestador de serviço. Infelizmente ela veio bem estruturada mas com um desconto muito grande, de quase 30%, para ganhar a licitação, e ao longo do tempo por reajuste, desequilíbrio, alguma manobra, não conseguimos chegar a um preço justo. Os insumos não param de subir, e tem a parte de servidores. Na gestão pública não podemos ficar negociando como no privado, e chegou um ponto que, depois de três anos sendo o serviço mais bem avaliado da zeladoria, em torno de 8.5, 8.8 pontos, o viamonense se acostumou a ter o lixo recolhido dia sim, dia não, nos comércios até duas vezes por dia, a empresa, que depois da enchente teve problemas graves na manutenção da frota porque as mecânicas e as peças, teve problema de profissionais, de aumentos de valores, de prazo por parte de quem fazia a manutenção dessas frotas… De 10 caminhões só mandavam oito, depois sete, seis até a gente equacionar a situação. Contratamos uma outra empresa que começou dia 19, estamos praticamente chegando ao final do mês e ela está aumentando a coleta em torno de 50%. É que ficou muita coisa acumulada, então ela não consegue percorrer todas as rotas, tem que voltar para fazer o recolhimento, mas acredito que mais uns dias consiga equacionar. É uma empresa que veio por um preço justo, mesmo sendo o menor da Região Metropolitana, em R$ 180,00 a tonelada. Felizmente aproveitamos a mesma mão de obra, que é um grande diferencial numa empresa. São cerca de 50 garis, mais 10 motoristas, e tem todo o risco de acidentes, e tem que ter os motoristas para cobrir faltas. Acredito que mais de 10 dias se equilibra. Temos que lembrar que a nossa zona rural está mudando muito de perfil, nós temos uma coleta por quilometragem mas, hoje, o volume nas Águas Claras, que tem 25 mil pessoas, não pode ser considerada zona rural para a coleta, pelo percurso e pelo volume. Águas Claras tem um perfil de cidade, é como uma área urbana”.
Projeto de cidade, futuro político, candidatos a estadual e federal
“A opção de não ser candidato (a prefeito, em outubro passado) é porque a gente tem um projeto de cidade que é maior. Sonhamos em ter um deputado federal e talvez a única oportunidade para chegar lá daqui a dois anos. Com a votação que o Professor Bonatto fez (para deputado estadual), de 50 mil votos, se a gente trabalhar melhor a região trabalhar podemos alcançar este sonho. Temos condições de fazer 100 mil votos e ter o primeiro deputado federal da história de Viamão. Estamos sonhando com isso para a cidade ter maior representatividade. Então, se o Professor achar que tem condições de ser federal, posso fazer dobradinha com ele. Temos um nome consolidado e maturidade para ter um federal, e para conseguir é fortalecer a votação em Viamão. Daí eu posso competir com tranquilidade no “vácuo”, como a gente chama, junto com ele, agora que a cidade amadureceu. Na política sou um técnico, aposentado, tenho uma boa renda e uma boa relação com todos, então posso fazer parte de qualquer estrutura do governo do Estado, e posso trabalhar também em outras áreas junto com o Professor Bonato para fortalecer a candidatura dele. Fui candidato pela primeira vez em 2018 (a deputado federal) de 30 e poucos anos como servidor público. Fui uma surpresa porque a cidade achava que eu faria 1 mil votos, mas fiz 15% na cidade, 18 mil votos. Era uma preparação para eu ser prefeito em 2020, mas tivemos um desarranjo político e o Bonato veio comigo de vice. Ganhamos com por margem muito pequena, mas a população nos brindou com essa eleição. Sou servidor público de carreira lotado na parte de engenharia, trabalhei já em todas as secretarias, engenheiro desde os 21 anos, estou em Viamão desde 1984 e já passei por nove gestões, conheço todos os aspectos, da esquerda, do centro, só não da extrema-direita porque ainda não vieram aqui, mas de resto trabalhei com o PDT, o MDB o PT, me relaciono bem, ouço todos, e tive aqui uma trajetória muito harmônica e pacífica. Dizer que sou um político escolado não, na realidade eu sou um político de convergência porque ouço todo mundo, procuro achar onde as pessoas se unem por convergência, e a grande convergência é a entrega para a comunidade tanto à esquerda quanto à direita e ao centro. Se eu falo que eu sou da regulação fundiária ou da habitação social, sou de esquerda. Se eu falar do direito e proteção da família, da segurança e da ordem, daí sou de direita. Mas a gente tem que entender a verdade, o que é bom para a comunidade, e as pessoas me conheçam. Sou um técnico e sei de todos os planos de toda a cidade como ninguém”.
Por fim, o conselho
“A recomendação que dou (ao seu sucessor, Rafael Bortoletti) é que faça um governo com o cuidado que as pessoas têm que ter. Que mantenha um relacionamento harmonioso com comunidade, consiga agregar todas as gamas de população, para dar oportunidade para todos e principalmente para aqueles que mais precisam. Então, é cuidado com as pessoas, tem que cuidar, aprimorar e manter uma boa relação com as pessoas”.