Nesta segunda completa um ano do ‘veraneio das urnas’, em que Marco Alba (PMDB) foi reeleito prefeito de Gravataí. O Seguinte: ouviu Rosane Bordignon (PDT), com 44.195 votos a segunda colocada na eleição de 12 de março de 2017. A professora esposa do ex-prefeito Daniel Bordignon, que exerce o primeiro mandato como vereadora, soltou o verbo.
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Seguinte: – Quando foste lançada candidata à Prefeitura após a impugnação da chapa de Bordignon, as primeiras reações beiravam o deboche. Eras vista como, depois de Sérgio Stasinski e Rita Sanco, o novo ‘poste’ do ‘Grande Eleitor’. Mas perdeste a eleição por apenas 4.016 votos. O que faltou?
Rosane – Faltou estrutura de campanha e nos atrapalhou o cancelamento de dois debates na última hora, quando a candidatura começava a ser reconhecida. Foi uma campanha rápida onde nos faltou um pouco mais de tempo. Também avalio que as pessoas não estavam no clima, era uma eleição extemporânea, com campanha durante férias. Mas, como só tinha concorrido e sido eleita a vereadora, acredito que fiz uma votação surpreendente. Acreditávamos na possibilidade de eleição com menos votos. Sinto uma responsabilidade muito grande em representar mais de 44 mil eleitores que me consideraram a principal força em oposição ao governo do PMDB do Marco Alba.
Seguinte: – Se tivesse sido eleita, o que teria feito diferente do atual governo?
Rosane – Quase tudo. De cara teria definido uma prioridade na destinação de recursos para ações mais urgentes. O governo parece perdido, começa obras e não termina. A culpa é sempre de alguém. A Prefeitura já teve autorização da Câmara para um financiamento de R$ 100 milhões e agora pede outro de R$ 60 milhões para fazer as pontes do Parque dos Anjos e outras obras há tanto prometidas. Essas pontes seriam minha prioridade, também com um financiamento, porque sei que não há caixa próprio para fazê-las. Mas acho que faltou foco para torná-la realidade. O governo embarcou numa aventura e só se deu conta depois da inviabilidade do primeiro financiamento. Outro problema que observo é na relação com os partidos e agentes políticos. O prefeito não dialoga com a Câmara. Nem com os vereadores dele, nem com ninguém. É clara a opção pelo isolamento. As decisões chegam prontas na Câmara e os vereadores votam a favor porque tem cargos no governo. Mas há muita insatisfação nos bastidores.
Seguinte: – Concordas com algo no atual governo?
Rosane – Essa é preciso pensar bem… Votei a favor de muitos projetos do governo para a saúde e educação. Mas a teoria que chega à Câmara como projeto não vira prática no dia a dia. Autorizamos mais de mil contratos emergenciais, pensando em manter os serviços fundamentais, mas aí o governo nos surpreende ao começar o ano reduzindo para um turno escolas infantis. Isso é um golpe no planejamento familiar. Prejudica muito as mulheres que precisam trabalhar. Não consigo achar concordância. É o pior governo da história da cidade. E pode tirar nossas diferenças ideológicas dessa conta. Classifico assim pela ineficiência. Um exemplo é o IPTU. O georeferenciamento é uma orientação de tribunais no país inteiro, mas dou dois exemplos: Santo André e uma capital, Belo Horizonte, que levaram quase quatro anos para a implementação completa do processo. Por que o governo não fez a atualização do cadastro imobiliário e antes de mandar carnês muito mais caros, informou as pessoas, deu um prazo mais longo para analisar pedidos de revisão? O IPTU representa 5% do orçamento, não é tão significativo, não precisava esse desespero todo para cobrar. Seria bonito um recuo. O que não acontecerá, já que o prefeito é refratário a ouvir conselhos, tanto que os principais conselheiros se afastaram do governo.
Seguinte: – O que tens feito desde a eleição?
Rosane – Sou professora da rede municipal de Porto Alegre e, quando assumi como vereadora, pedi licença não remunerada. Dia 20 de fevereiro solicitei aposentadoria por tempo de serviço, que foi aceita. Este ano estarei aposentada. Além de exercer este meu primeiro ano de mandato na Câmara, acredito que tenho colaborado para reestruturação do PDT, em Gravataí, no Rio Grande do Sul e no Brasil. Sou integrante das direções municipal, estadual e nacional. Tenho atuado muito na AMT (associação da mulher trabalhista), o movimento de mulheres mais forte que já vi. Nem no PT era assim. São cerca de 5 mil mulheres que definem a aplicação de recursos do fundo partidário destinado a promoção de políticas para ampliar a participação feminina, e também somos nós a fazer as indicações de mulheres para cargos. Além da AMT ter articulação fora do país, já que o PDT integra a Internacional Socialista. Sou a candidata preferencial a deputada estadual da AMT. Bianca Bertolucci, primeira dama de Gramado, é a candidata a federal. Mas não é uma dobradinha exclusiva. Farei campanha com outras candidaturas, como os atuais deputados federais Afonso Motta e Pompeo de Matos. Também tenho conversado com Flávio Zacher, que é muito ligado ao presidente nacional Carlos Lupi.
Seguinte: – Essa era a próxima pergunta: qual teu futuro político? Projetas concorrer em 2018 e 2020?
Rosane – Sou pré-candidata a deputada estadual. É nesta eleição, de 2018, que estou pensando. Dependendo do resultado, cumprirei o mandato de deputada, ou de vereadora. Até 2020 muita coisa pode acontecer. A conjuntura nacional vai influenciar bastante. Estamos nos aproximando do PSB, a nível nacional, após a saída deles do governo Temer, e também em Gravataí, principalmente após a eleição de Paulo Silveira à presidência. Temos uma aliança política na Câmara para debater e votar em plenário em conjunto, na medida do possível. Também participa desse campo o vereador Dimas Costa (PSD) e, eventualmente, o vereador Dilamar Soares (PSD). Mas, resumindo, quero estar no governo de Gravataí em 2021, seja como deputada, como vereadora da base ou como prefeita. O objetivo principal é tirar Marco Alba e os seus do governo em 2020. E ele tem nos ajudado com um governo bastante impopular.
Seguinte: – Em nenhum momento da entrevista mencionaste Daniel Bordignon.
Rosane – Acho que nem precisa, né? O Daniel está dedicado às aulas no Carlos Bina mas, apesar de não ser membro das instâncias partidárias, é muito consultado e imprescindível pelo acúmulo político que tem. Conversamos muito. Eu não seria nada inteligente de não aproveitar a experiência política que ele tem. Sobre planos políticos, ele tem. Mas aí você tem que perguntar a ele quais são.
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