Um levantamento inédito realizado pelo Hospital Moinhos de Vento revelou que a Região Metropolitana de saúde do Rio Grande do Sul vive uma epidemia generalizada de HIV. O estudo, solicitado pelo Ministério da Saúde e pela Secretaria Estadual da Saúde, mostrou que uma em cada 50 pessoas convive com o vírus, o que corresponde a uma prevalência de 1,64% da população local. Os dados foram revelados em reportagem publicada no jornal Correio do Povo, de autoria da jornalista Leticia Pasuch.
O índice é 64% maior que o limite estabelecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para caracterizar uma epidemia controlada. Segundo a OMS, prevalências acima de 1% já configuram epidemias generalizadas, nas quais a transmissão ocorre de forma sustentada entre a população em geral, e não apenas em grupos considerados de maior risco.
O estudo abrangeu 11 municípios da macrorregião metropolitana – entre eles Porto Alegre, Canoas, Novo Hamburgo e São Leopoldo. Entre os participantes que testaram positivo, um terço não sabia que tinha o vírus, revelando a transmissão silenciosa da doença e as falhas na testagem.
No Estado como um todo, a prevalência estimada foi de 0,99%, ainda acima da média nacional. Porto Alegre, em particular, há anos registra a maior taxa de mortalidade por HIV no Brasil.
Perfil da epidemia
A análise apontou que o risco de infecção é maior entre pessoas de 30 a 49 anos, de classes sociais mais baixas, com menor escolaridade e entre a população preta e parda.
A pesquisa reforça a necessidade de ampliação da testagem em massa. Atualmente, a oferta de exames na rede pública ainda enfrenta barreiras, como a exigência de agendamento em muitas unidades de saúde, o que desestimula a procura.
O tratamento precoce é apontado como fundamental: quando a carga viral é reduzida a níveis indetectáveis, a transmissão deixa de ocorrer. 37% dos diagnosticados na pesquisa não tinham conhecimento de sua condição, muitos deles com altas cargas virais.
Entre as medidas sugeridas estão a ampliação do acesso aos testes rápidos, a distribuição de profilaxia pré e pós-exposição (PrEP e PEP), além de ações educativas nas escolas para combater o estigma e incentivar o uso de preservativos.
O estudo foi realizado entre 2022 e 2023, após um projeto-piloto iniciado antes da pandemia de Covid-19. A pesquisa envolveu visitas domiciliares, entrevistas e coleta de sangue em milhares de residentes da Região Metropolitana.