política

Escola cívico-militar em Gravataí é uma ’mina ideológica’

Prefeito, deputado, vereador e diretor Paulo Juares Cardoso na entrega do ofício

Leitores de diferentes lados da ferradura ideológica cobram análise sobre Gravataí ter aderido ao programa para ter a primeira escola cívico-militar rural do Brasil, o que realmente informei só de passagem em Vencedores e vencidos contra a COVID em Gravataí; Faltou o ’soquinho’.

Reputo essa polêmica uma mina ideológica.

Antes de eu atirar, e receber a contraofensiva no espaço de comentários do artigo, um pouco de contexto.

A ideia é adaptar ao modelo a Escola Municipal de Ensino Fundamental Murialdo, que atende cerca de 400 alunos, principalmente do Xará e Sagrada Família, distribuídos em 14 turmas do 1° ao 9° ano.

O governo Jair Bolsonaro sinaliza com recursos para pagar a turma do coturno – não a do giz – que será contratada.

Diferentemente das escolas totalmente militares, que são geridas somente pelo Exército e pensadas para os filhos de militares, nesse formato cívico-militar o currículo é determinado pelas secretarias de educação, mas os estudantes seguem regras definidas pelos militares.

O sistema tem repudio da maioria dos professores.

É que, como bem tem alertado o Cpers, além da função “disciplinar” caberá aos militares atuar na área psicossocial, identificando problemas familiares de estudantes e situações que possam “influenciar no aprendizado e convivência” – ou seja, monitoria e supervisão, por estudo e experiência atividades natas de quem educa e atribuições para as quais o oficialato não tem qualquer formação.

Chamo o tema de mina ideológica porque defender a escola cívico-militar como garantia de disciplina pode fazer parecer que os professores civis são os responsáveis pela suposta indisciplina.

Há pais que adoram se esconder nessa trincheira.

Pesquisa feita pela Secretaria de Educação do Paraná mostrou 75% de aprovação entre famílias de alunos.

Mina ideológica é, também, porque o comparativo do investimento com os resultados no aprendizado não parece justificar um programa nacional em tempos de teto de gastos para educação.

O investimento em uma escola militar é de R$ 19 mil ao ano por aluno, três vezes mais do que em uma escola pública regular (R$ 6 mil/ano por aluno). Só que o desempenho das escolas militares é mais baixo que escolas federais, que tem custo de R$ 16 mil ao ano por aluno.

No ranking das 10 melhores instituições públicas do país, sete são federais. Há apenas uma militar, em sétimo, além de duas estaduais.

É mina ideológica, ainda, porque me parece inegável que as Forças Armadas brasileiras não vivem um bom momento, com 10 mil militares – inclusive generais da ativa, o que não se tolera em democracias como EUA e França, por exemplo – sócios em um governo hiperideologizado com a pior gestão da pandemia no mundo.

É mina ideológica também porque, no experimento da escola cívico-militar, bucha de canhão são, como os Pracinhas da FEB no vale do rio Serchio, crianças e adolescentes da periferia.

O prefeito Luiz Zaffalon gosta da ideia e entregou ofício informando sobre o interesse ao deputado estadual tenente-coronel Luciano Zucco, que é o idealizador do projeto da escola cívico-militar no RS (aprovado no governo Eduardo Leite), apresentado a Gravataí pelo vereador estreante que pede para ser chamado Policial Federal Evandro Coruja (PP), e é quem mais forte canta o hino nacional na Câmara Municipal.

Ao fim, é a democracia: Gravataí pode ter uma escola cívico-militar, motivo de comemoração de muitos. Estava nos planos de governo de Bolsonaro, Leite e Zaffa, aprovados pelas urnas com folga.

Já eu, apesar de crer que militares não aplicarão na galera do Murialdo aquele teste em que perguntam o que há de errado na fotografia que mostra mulher cheia de curvas andando na rua, e não há acerto porque ninguém percebeu o pastor alemão chamado Karl Marx dirigindo um carro ao fundo, reputo a escola cívico-militar não mais que uma mina ideológica – sempre sob risco de explodir, principalmente aos pés dos professores.

Talvez por ser civil de nascença, como dizia o Millôr.

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