Tem gente das esquerdas, mais do que da direita, esforçando-se para provar que Bolsonaro não perdeu a eleição, no primeiro e no segundo turno.
E a prova seria essa: a direita venceu na maioria das capitais e nas cidades médias. Por esse raciocínio frouxo, Bolsonaro seria hoje o dono da direita.
Mas não é. Os candidatos da direita que venceram são nomes da direita, não do bolsonarismo. É gente da velha direita, até misturada a fascistas da turma de Bolsonaro. Mas apenas misturada.
Na pizza da direita, mesmo a que entrega o PL todo a Bolsonaro (e não é bem assim), a fatia do sujeito está entre as menores. Os candidatos não eram de Bolsonaro, mas de toda a direita. E os do PL são mais de Valdemar Costa Neto do que de Bolsonaro.
Bolsonaro venceu tanto quanto Malafaia, Braga Netto, Augusto Heleno. A direita de fato venceu mais do que as esquerdas. Não há o que contestar. Mas não está sob domínio de Bolsonaro nem expressa um bolsonarismo sem Bolsonaro.
O nome do bolsonarismo raiz, a figura da extrema direita pura, que passa a ser exposta como maior nome entre os eleitos pelo PL, é o deputado Abílio Brunini (foto), que derrotou o deputado estadual Lúdio Cabral (PT) em Cuiabá.
Brunini é a expressão da vitória de Bolsonaro. Um sujeito medíocre, da linha de frente do bolsonarismo ostensivo e agressivo na Câmara, passa a ser, em Cuiabá, o mais importante nome entre os prefeitos eleitos pelo PL. Brunini é aquele careca que não deixava ninguém das esquerdas falar na CPI do Golpe.
O outro nome do PL é Emília Correa, eleita prefeita de Aracaju, O resto, a começar por Ricardo Nunes em São Paulo (abandonado por Bolsonaro), passando por Sebastião Melo em Porto Alegre (onde ele nem era citado na campanha), são nomes da velha direita do MDB e de outros partidos, não são pupilos nem invenções nem tutelados por mentorias de Bolsonaro. Os pupilos não têm expressão.
Lula não tem grandes conquistas a comemorar, mas Bolsonaro muito menos. É repetitiva e chata essa história de que o Brasil correu em direção à extrema direita bolsonarista e que esse extremismo é cada vez mais capilar. Não é. O eleitor correu para a direita do tempo antigo, quase a direita da ditadura.
Bolsonaro perdeu até para o candidato de Caiado em Goiânia. Perdeu em João Pessoa, em Curitiba, Belém, Palmas, Manaus, Belo Horizonte, Fortaleza. No Rio Grande do Sul, perdeu em Pelotas e em Caxias do Sul. Venceu em Canoas.
Três homens fortes do bolsonarismo disputaram prefeituras pelo PL e perderam. Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), perdeu no Rio. Marcelo Queiroga, ex-ministro da Saúde, perdeu em João Pessoa. E Gilson Machado, ex-ministro do Turismo, no Recife.
Bolsonaro tem Brunini, e só ele, para apresentá-lo como grande exemplo de vitória do seu PL que não é seu. Todo o resto nunca foi dele, é da velha direita rejuvenescida.
Sempre lembrando que seu principal candidato, o delegado Ramagem, levou 7 a 1 de Eduardo Paes no primeiro turno no Rio. Bolsonaro é o maior perdedor da eleição. É um fardo que nem Valdemar quer carregar.