Depois de 18 dias metida de cabeça da manhã à noite na Feira do Livro de Porto Alegre, cuja equipe executiva integro desde 1997, o que posso dizer é que estou cansada.
Não, não estou cansada de trabalhar, pois o que faço, na Feira, e como voluntária, em Cachoeirinha, na área da promoção da leitura, longe de me cansar, me revigora, e, neste momento, é o que me segura no Brasil, apesar de que meus filhos vivem fora daqui há alguns anos e de todas as dificuldades que enfrenta, atualmente, quem atua na área da Cultura neste país.
Durante duas semanas e meia, corri de um lado para outro, na Praça da Alfândega, entre os espaços da Área Infantil e Juvenil, que coordeno; tomei inúmeras providências e fui obrigada a fazer muitos ajustes, no trabalho planejado, para que as coisas funcionassem a contento.
Mas também tive momentos maravilhosos naquele ninho de afeto e generosidade que são a Biblioteca Moacyr Scliar e a Sala dos Autores, que instalamos, anualmente, no térreo do Memorial do RS.
Circularam, por ali, escritores, ilustradores, quadrinistas, atores e contadores de histórias vindos de várias regiões do Brasil, assim como professores, bibliotecários e outros mediadores da leitura, aos quais me sinto irmanada pelo amor à leitura e pela vontade de contribuir para a construção de uma sociedade mais leitora.
Ali, naquela biblioteca, entre saraus, mesas-redondas, palestras, relatos de experiências e conversas informais, foi surgindo o esqueleto da próxima edição da Feira e muitas ideias que certamente serão incorporadas a projetos futuros dos envolvidos.
Após o turbulento processo eleitoral pelo qual passamos este ano, estar ali era, para mim, um bálsamo. Mas sabia que, em breve, teria de sair daquela espécie de bolha social em que estávamos metidos e enfrentar, de novo, a tal vida real.
E foi aí que tive um acesso de cansaço sem precedentes. Mal publiquei meu primeiro post pós-Feira no Facebook, vários faceamigos caíram de pau em cima de mim, por ousar ter uma opinião diferente da sua sobre determinado assunto que estava em pauta naquele dia.
O cansaço era tanto que nem me dei ao trabalho de exclui-los, como havia feito, durante a campanha, com várias outras criaturas que se sentiram no direito de fazer barraco no meu perfil.
Simplesmente exclui meu post e fui me refugiar em um livro gostoso que estava lendo.
Tenho vontade de dormir alguns meses e acordar quando esta onda de belicosidade tiver passado. Será que passará?