é ano de eleição

Estranha matemática política

 

Meu pai, em seu avançado estado senil, não me reconhece. Questionou minha mãe, na última vez que estive lá no Mato Grosso: “Quem é esta visita?”. Ela explicou que sou filha dele também. “Mas não conheço. Como se criou?”.

Cômico, não fosse trágico. Ao assistir sessão na Câmara de Deputados que votou pelo prosseguimento do processo de impedimento da presidente, perguntei-me, a cada dedicatória de voto, parodiando meu pai: “Como se criaram e lá foram parar aquelas excelências?”.

Em uma época fui alfabetizadora de adultos. Aprendi muito. Uma turma pequena, mas eram pelo menos cinquenta anos de vida em cada um dos aprendizes que também me ensinaram. Tinham histórias emocionantes. Descobri com eles que a gente sobrevive sem saber ler, mas é muito mais difícil se não souber matemática.

Conheciam muito sobre números. Trabalhavam, pagavam suas contas, compravam. Faziam cálculos “de cabeça”. Um deles era dono de armazém. Tinha 65 anos. Ser humano de primeira grandeza! Gostava de política.

Certa vez chegou à aula e contou que havia assistido aos programas do horário eleitoral na televisão na noite anterior e gravou na memória a sigla dos partidos.

Citava cada uma e perguntava: “Professora, esse quer dizer partido tal?”. Concordei com todas as suas traduções. Um sorriso de satisfação ficou estampado em seu rosto. Começamos a conversar sobre eleições e ele me ensinou a matemática da política.  

Há situações que não entendemos muito bem porque um partido político se une a outro com posição contrária. Parece um absurdo, falta de bom senso ou qualquer outro nome que você queira dar. Na prática, a questão é matemática. Um partido precisa ter determinado número de votos para eleger um candidato. É o tal de quociente eleitoral, ou seja, a soma de todos os votos recebidos pelo partido divididos entre o número de candidatos desse partido.

Exemplo dessa equação complicada é Tiririca (deu seu voto, sem dedicatória!). Ele se elegeu e sua votação levou a reboque mais dois para a Câmara Federal. De acordo com os dados disponíveis no site daquela Casa, somente 36 parlamentares se elegeram por sua votação individual. Mais de 400 foram a reboque.

Por isso houve tanta surpresa quando dos votos pela continuidade do processo de impedimento da presidente. Apareceram parlamentares que nem imaginava que lá estariam. Minha escolha no último pleito não elegeu representante do Rio Grande do Sul na Câmara Federal. Nem mesmo suplente.

Neste ano teremos eleições municipais. Voto em Gravataí e estou gostando dos perfis de quem está na política nesta terra dos gravatás apresentados pelo “Seguinte”. Mas quero ler as propostas…

 

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