me corta os tubos!

Eu pedi para ser multado, duas vezes!

Da série me cortem os tubos! Me aguentem ou…

Já contei, semana passada, da lição de moral que um patrulheiro da Polícia Rodoviária Federal me aplicou na descida da “Garganta do Diabo”, lá em Santa Maria.

Neste episódio eu saí no lucro.

Mas há outros dois, um que conto hoje e outro na semana que vem. Nestes dois, perdi para um e ganhei de outro guarda.

Vamos ao que me dei mal!

Ainda lá nos anos 80 e também na terra dos arrozais, como já disse em outros causos, viajar era meu nome, estrada era apelido e, mudar de marcha, o sobrenome. Pois bem!

Eu prestava serviço da área de impressão de jornais para terceiros. Mais ou menos como vender serviços de impressão mediante compromisso de assessorar quem os publicava. Por serem pequeníssimas empresas, tinham pouca noção de como fazer, como contratar, como editar, enfim…

A ideia era capitalizar. Como? Eles imprimiam o jornal deles na empresa em que eu trabalhava e a fidelização era a assessoria que, modestamente, eu prestava. Andava por São Sepé, Pantano Grande, Vera Cruz, Encruzilhada do Sul, Caçapava do Sul, Rosário do Sul, Santa Maria, Agudoi, Cerro Branco, Restinga Seca…

E São Gabriel.

Eu adorava ir a São Gabriel, por inúmeras razões. Fiz muitas e ótimas amizades por lá, na terra dos marechais.

Eu viajava tanto para lá que o Uno da empresa sabia o caminho com faróis apagados. Era só eu dizer a cidade que o danado se punha a correr. Claro, o mesmo se dava com Porto Alegre para onde, seguramente, viajava de uma a duas vezes por semana.

Na BR-290, naqueles mais de 30 anos atrás, especialmente do trevo que dá acesso por um lado a Santa Maria e por outro a Caçapava, na direção da fronteira, o trânsito nem por sonho era tão intenso quanto hoje. Nem 20%. Dava para andar o tempo todo, como se diz, com o “pé na lata”.

Depois de uma localidade – que hoje é o município Vila Nova do Sul – a estrada tem um descidão, em reta, e no final desta descida uma leve curva à esquerda com frondosas árvores de sombra, estas à direita da pista no sentido da fronteira.

Foi ali “o crime”.

Certa tarde, eu estava atrasado, como sempre, embora isso não fosse desculpa para eu andar em alta velocidade. Eu sabia que a Polícia Rodoviária Federal geralmente fazia campanas naquele ponto para flagrar os apressadinhos com aqueles pistolões que chamavam de radar móvel.

Me pegaram. O uninho estava dando na descida 127 quilômetros por hora. A velocidade máxima permitida era de 80 quilômetros por hora. Multa lavrada, multa assinada. Com os documentos no bolso, e antes de dar a partida, de maneira ousada avisei:

— Olha, se quiserem me pegar outra vez, na semana que vem vou passar de novo por aqui na quarta-feira, mais ou menos nesse horário. E não vou estar só a 127 por hora, podem escrever!

Já na empresa, no outro dia, entreguei a multa e assinei o vale, parcelando o desconto da dita notificação no meu salário.

Pois na outra semana, depois de outras incursões, tive que voltar à terra dos marechais para compromissos profissionais e… Claro, normalmente ficava para jantar, aproveitava para bebericar e bater papo.  E bota bater papo nisso!

Totalmente absorto pela estrada afora, eu ia bem sozinho… Nem lembrava mais da multa da semana anterior, dos guardas da PRF, e com sol escaldante – recordo-me bem disso! – sentia só o pé doendo de tanto que apertava o acelerador do Uno.

E no final da tal de descida, sob as frondosas árvores de sombra, pimba!

Lá estavam os patrulheiros que gentil e educadamente me mandaram encostar. Documentos solicitados, habilitação, já vem o cara sacando o bloco de autuações. Preencheu e me pediu para assinar. Foi quanto eu vi, 133 quilômetros por hora.
Com meus documentos em mãos, antes de dar a partida, provoquei de novo:

— Lembram que na semana passada eu disse que se vocês quisessem me pegar de novo era só me esperar aqui, hoje? E lembram, também que eu disse que não seria só por 127 por hora? Cumpri o que prometi, né?

Fui para São Gabriel, mas a janta daquela noite não “me desceu” muito bem. Nem uma e nem a ‘outra’.

Nunca mais provoquei guardas de trânsito e nem cruzei acima do limite naquele ponto da estrada. Aliás, hoje, ando com um olho no gato e outro no rato. Faço de tudo para me manter nos limites e evitar multas. Tudo pelo desconto no imposto anual do carro!

Por estas e por outras que eu peço: para o mundo que eu quero descer.

Ah, aproveita e me corta os tubos.

 

 

 

 

 

 

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