RAFAEL MARTINELLI

Ex-assessora denuncia vereador de Cachoeirinha por racismo, machismo, simpatia ao nazismo, ameaças e intimidação com arma; “Não é por ser bolsonarista que agiria assim”, nega Mano do Parque

Uma ex-assessora registrou ocorrência policial contra o vereador de Cachoeirinha Mano do Parque (PL) por injúria racial.

O Seguinte: teve acesso ao documento onde a ex-assessora, que trabalhou com o parlamentar entre março de 2021 a outubro de 2022, acusa-o de misoginia, racismo, preconceito religioso e simpatia ao nazismo, além de intimidar assessores mostrando arma dentro do gabinete da Câmara.

A ex-assessora, que representou criminalmente, relata que o vereador, além de filmar o gabinete, ameaçou-o caso o denunciasse e, conforme ela, teria passado pela escola da filha dela para intimidá-la.

Mano do Parque nega tudo.

– Até hoje a tinha como uma amiga, assim como o advogado seu marido. Desde 2017. Estou perplexo – disse na manhã desta quarta-feira ao Seguinte:, após solicitar cópia do B.O e de documento à 2ª Delegacia de Polícia Civil.

– Ela terá que provar. Vou tomar medidas judiciais – informou.

Reproduzo trechos do depoimento da ex-assessora na DP e, abaixo, o que mais disse o vereador, além da análise sobre polêmica.

“(…) A vítima relata que era assessora parlamentar do suspeito na Câmara de Vereadores de Cachoeirinha. Trabalhou com o suspeito de março de 2021 a outubro de 2022. Durante o período o suspeito fazia comentários misóginos e racistas, conforme detalhado no termo de informações. Deseja representar criminalmente (…)”.

“(…) Afirma que era a única mulher a trabalhar no gabinete e que quando o vereador a apresentava a seus assessores, se referia a ela, em tom de deboche, como “a cotista”, seja pela cota em razão da cor da pele, seja por ser mulher (…)”.

“(…) Narra que o suspeito tentava intimidá-la, que quando chegava ao gabinete, ele colocava a pistola em cima da mesa e dizia: “hoje estou estourado (…)”.

“(…) Relata também que o suspeito instalou uma câmera no gabinete, que era pessoal, não da Casa Legislativa, para vigiar seus assessores; que ele dizia à vítima “eu sei o que tu tá fazendo”, “eu te vi mexendo no cabelo”, “olha o chicote”, falando como se a vítima fosse sua escrava (…)”.

“(…) Continua relatando que o suspeito não tolerava que falasse de outra religião dentro do seu gabinete, que não fosse a sua (evangélica); que o suspeito tinha forte preconceito contra religiões de origem africana, tendo, inclusive, se negado a atender cidadão, titular de casa de religião africana, que queria pedir ao suspeito apoio para ser colocado um quebra-molas em frente a seu templo. Relata que o suspeito disse “não quero atender essa gente”, além disso, que o suspeito não disse diretamente a essa cidadã que não a atenderia por preconceito, mas pediu para que a vítima desse a ela uma desculpa para não atende-la (…)”.

“(…) Ainda narra que o suspeito falava abertamente em relação ao nazismo, que “a história não foi bem contada”, dando a entender que o nazismo foi injustiçado historicamente. Ainda, a vítima afirma que, recentemente, o suspeito fez uma publicação no Instagram, bebendo um copo de leite e dizendo “brindando a vida”, tendo assessores comentado “entendi, recado dado (…)”.

“(…) Relata também que sempre dizia ao suspeito que seus comentários a incomodavam e que ela não gostava. Porém, o suspeito dizia, “olha, se tu fizer alguma coisa, eu vou atrás, eu pego, eu sei onde procurar. Sei onde tua filha estuda. Se fizer alguma coisa contra mim, eu sei me defender, pelo bem e pelo mal. Eu tenho amigos na polícia”, a ameaçando e com intuito de impedi-la de denunciá-lo (…)”.

“(…) Narra que o suspeito apareceu no início do ano de 2023 (entre fevereiro e março) perto da escola de sua filha, tendo a vítima entendido que se tratava de um recado para intimidá-la (…)”.

“(…) Vítima também relata que recebeu um aparelho de telefone funcional, enquanto trabalhava lá, no qual instalou o chip da Câmara de Vereadores e o seu pessoal; que o suspeito um dia pegou o aparelho e colocou todos os dados que lá continha em seu computador, além de apagar os dados pessoais dela (…)”

Sigamos.

Mano contou que contratou a assessora a pedido de Jack Ritter (Cidadania), com quem a denunciante trabalhava. A ex-vereadora concorreu a vice-prefeita na chapa com Dr. Rubinho (PL) na eleição suplementar de 2022.

– Temos ideologias diferentes, mas atendi ao pedido. Nunca a levei para eventos da direita – lembra.

O vereador, que cita ter duas assessoras no gabinete, nega ter cometido machismo.

– Sempre fui respeitoso.

Mano também nega racismo.

– Nunca a tratei pejorativamente como cotista e nem deixei de receber representantes de religiões de matriz afro. Pelo contrário: o prefeito (Cristian Wasem) não os recebia e vieram me procurar. Na Câmara fui o primeiro a manifestar voto favorável à criação de um conselho da religião. Tenho amigos de religião – diz.

Sobre a câmera em seu gabinete, Mano explica ter colocado para sua segurança, com a concordância dos assessores.

– Há um ano o TI da Câmara pediu para tirar e desliguei. Hoje é só decorativo – diz.

O vereador garante não ter mostrado arma a assessores no gabinete.

– Nem tenho arma – diz, negando ameaças ou intimidações a ex-assessora.

– Vou a todas as escolas, quem conhece meu mandato sabe que fiscalizo uma por uma. Nem sei onde estuda a filha dela – diz.

Sobre a suposta relativização ao nazismo, Mano se diz chocado.

– Nasci na igreja, sou filho de pastor. Jamais defenderia uma atrocidade dessas – disse, garantindo que o copo de leite que bebeu em vídeo não tinha relação com símbolo da supremacia branca.

– Tu escreveu uma matéria. Respeito tua análise. Mas não tinha nada a ver – disse, sobre o artigo O copo de leite e o ‘biscoito’ no post do vereador de Cachoeirinha; Pela bandeira de Israel em seu gabinete, apaga Mano!.

Mano disse ainda buscar entender o porquê de ser, conforme ele, alvo de denunciação caluniosa.

– Talvez por na última sessão eu ter falado sobre nepotismo no governo. Não sei.

E conclui:

– Não é por ser de bolsonarista que o cara é tudo isso que falam. Sou respeitador, tranquilo, de boa. Quem me conhece sabe.

Sigo eu.

No artigo referido por Mano, concluí:

“Como não sou dos que permitem aos políticos apenas a presunção de culpa, parto do princípio de que não foi um ato doloso, de possível enquadramento criminoso na lei antirracismo, inafiançável, imprescritível e com pena de até cinco anos de reclusão. Inegável é a postagem é desnecessária e perigosa, insisto. Não custaria apagar. Mano tem trabalho para não precisar postar o copo de leite para ganhar ‘biscoito’ nas redes sociais”.

Vale o mesmo para a nova polêmica envolvendo o bolsonarista-raiz. Garanta-se ao político a presunção da inocência, mesmo tendo a assessora conduta ilibada. Transparente Mano foi, ao refutar ponto a ponto as acusações. Mas avisei do perigo da postagem. Talvez tenha incentivado a denúncia.

Mesmo não seja indiciado, tornado réu ou condenado, no Grande Tribunal das Redes Sociais restará a Mano a condenação dos delegados-promotores-juízes de plantão.

Politicamente, o copo de leite transbordou.

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2 Responses

  1. É muito fácil hoje acusar, registrar boletim de ocorrência. Qualquer pessoa pode fazer. Provar é outra história. Todos que são de direita estão sofrendo com perseguições e mentiras, faz parte do jogo da esquerda esse tipo de atuação.

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