Alemão da Kipão, o campeão de votos pelo PT na eleição para a câmara de vereadores de Gravataí em 2012, hoje é eleitor de Jair Bolsonaro (PSL).
– É o último tiro para termos uma mudança na política – resumiu, talvez sem querer usando uma metáfora bastante adequada ao jeitão belicoso do candidato à presidência da república.
Apagando o passado petista, Everton Ferreira Tristão, que saiu do partido em 2016 para ser candidato a vice-prefeito de Levi Melo (PSD), corresponde ao perfil que as pesquisas apontam para o eleitorado do polêmico capitão: formado em administração de empresas pela Ulbra, com currículo em multinacionais como Kelloggs, Philip Morris e Danone e empresário bem-sucedido em seu negócio de mercados e lojas de brinquedos.
– Mas não é só um voto de protesto: concordo com posições dele, como defender os valores da família e armar o cidadão de bem para que possa se defender – explica, apontando como a principal qualidade do ‘mito’ a ficha limpa:
– São quase três décadas de vida pública sem nenhum envolvimento em corrupção. Infelizmente, hoje isso é uma anormalidade. Na política, Bolsonaro, que é o normal, se torna bom por ser anormal num sistema corrupto – argumenta, antecipando-se na defesa dos 27 anos de mandato do político sem ter nenhum projeto significativo aprovado.
– Fui vereador e aprendi como funcionam as coisas. Quem manda é quem tem a caneta. Você não consegue fazer quase nada em um mandato parlamentar. Essa foi uma das minhas frustrações na política: achava que poderia fazer alguma coisa pelas pessoas, mas como vereador isso é impossível – compara.
A campanha de 2.525 votos de Alemão foi uma das mais marcantes dos últimos tempos, tanto pelo jingle chiclé, como por um boneco gigante que percorria a cidade a pé ou em jipões. À época, já era visto como um outsider por petistas mais ‘de raiz’, apesar de atraído ao partido por outro ‘mito’ do período, Daniel Bordignon. Alemão chegou a usar, em um dos carros de campanha, o slogan “O vereador do Bordignon”, num momento em que o ex-prefeito era favorito na eleição para a prefeitura, que depois, impugnado pela lei da ficha limpa, perdeu no voto para Marco Alba (PMDB).
O Seguinte: contou a história do convite para a filiação ao PT, no perfil de Alemão, O queridão da Morada:
Com a vontade de concorrer, a bênção de pai e mãe e a autorização da esposa Cláudia, mãe de seus filhos Isadora (12) e Lavínia (8), Alemão se filiou ao PT em 2011. O convite foi feito por Daniel Bordignon, que concorreria a prefeito na eleição do ano seguinte.
– Olha quem quer falar contigo – disse o ex-prefeito e então deputado estadual, em um dos encontros, passando o celular para Alemão, com o governador da época, Tarso Genro, do outro lado da linha.
No mesmo período, Marco Alba, depois eleito prefeito, também convidou Alemão, mas para concorrer pelo PMDB.
– Estudei sempre em escola pública e via as lutas dos professores, simpatizava com o PT, tinha muita esperança. Por isso a escolha – justifica.
Na mesma reportagem, Alemão explicava a saída do PT:
A vida dentro do partido não agradou Alemão. Apesar de sempre ter-se mantido disciplinado nas votações, desde o início do mandato ele não escondia o desconforto.
– Tinha que cuidar até com quem ia aparecer na foto! – brinca.
– Não consigo ser oposição a tudo, não poder conversar com quem está no governo para tratar de um problema da cidade, por exemplo. Se um prefeito é eleito pelo voto popular, minha primeira intenção é ajudá-lo, não tirá-lo do poder a qualquer custo. Infelizmente, na política muitos têm soberba para mandar, mas poucos têm a grandeza de ouvir – argumenta.
Na fase petista, quem visitou o gabinete na câmara de vereadores lembrará que Alemão chegou a ter atrás de sua cadeira um quadro da presidente Dilma Rousseff, no auge da popularidade. Presente dado pelo ex-tesoureiro nacional do partido, Paulo Ferreira, gaúcho a quem apoiou na candidatura a deputado federal em 2014, em dobradinha com Adão Villaverde, e com quem articulou emendas parlamentares que – outra de suas decepções – ficaram só na promessa, como R$ 1 milhão em recursos para o hospital Dom João Becker e para abertura de um Tudo Fácil em Gravataí.
Já na campanha pela prefeitura em 2016, Alemão e Levi apostavam em um partido – o insípido, inodoro e incolor PSD – e em um discurso de centro. Se apresentavam como as novidades em uma eleição que tinha o velho GreNal da Aldeia, entre Marco Alba e Daniel Bordignon (que pediu música no Fantástico em impugnações), além de Anabel Lorenzi, mais uma vez como uma ‘bandeirinha’ tentando impedir mais uma vitória de algum dos dois experientes políticos.
A eleição foi anulada e Levi e Alemão, que ficaram em quarto lugar com 19.420 votos, foram cuidar de seus negócios e de uma dívida monstruosa que ficou da campanha em nome do candidato a prefeito. Ambos se desfiliaram em 2017.
– Estou dando um tempo na política. Nunca mais é uma expressão muito forte – diz Alemão, que em 2018 não vai fazer campanha nas ruas, mas usa rede social e, quando instigado, não recusa uma boa conversa sobre política com clientes do Super Kipão, ou da KiLegal brinquedos.
Aos impressionados com a guinada do Alemão para a extrema direita, é preciso lembrar que ele e Jair Bolsonaro têm mais uma coisa em comum, quando se trata de voto na urna: são ex-eleitores do Lula.
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