Foi em Gravataí que o ex-secretário da Saúde de Canoas, Marcelo Bósio, preso na operação deflagrada pelo Ministério Público na manhã desta quinta, criou uma empresa logo depois de ser exonerado da prefeitura, com a troca do governo, no começo de 2017. A Blue Eyes Assessoria e Gestão em Saúde, criada oficialmente em fevereiro de 2017, tem Joice de Oliveira Dorneles como sócia. Ela era, no final de 2016, chefe de gabinete na secretaria de Canoas e, no governo Sérgio Stasinski (PV), foi secretária da Saúde de Gravataí.
O MP acredita que a empresa foi a forma encontrada por Bósio para se beneficiar do esquema que desviou, pelo menos, R$ 40 milhões da saúde de Canoas. A Blue Eyes foi contratada pelo Grupo de Apoio à Medicina Preventiva e à Saúde Pública (Gamp) — contratada pela prefeitura de Canoas sob a gestão Bósio — pouco depois de ter sido criada, sob pretexto de uma consultoria que, segundo o Ministério Público, era a forma encontrada pela Gamp para justificar o desvio do que era repassado pelo município para a gestão de dois hospitais, quatro Caps e duas UPAs. Atualmente, Bósio é controller nacional do Gamp. Ele foi preso em São Paulo.
Joice, segundo o MP, foi incluída como sócia minoritária na empresa de consultoria. O detalhe é que o local para a abertura da Blue Eyes foi justamente o município da ex-secretária, onde Bósio, supostamente, não teria vínculos profissionais. À Receita Federal, o endereço informado como sede da empresa é na Rua Alcides Rosa, 193, no bairro Salgado Filho. Nesta quinta, o Seguinte: apurou o endereço e encontrou uma residência fechada, sem placas de empresa ou movimentação de pessoas.
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Na ação desta manhã, três pessoas foram presas: Bósio, o médico apontado pelo MP como pivô do esquema e uma mulher considerada seu braço direito. A ex-secretária de Gravataí, assim como seu sócio, entrou para o grupo Gamp. Atualmente, faz parte do conselho executivo da entidade. Ela não estava no alvo dos promotores nesta manhã, mas houve cumprimento de mandados de busca em Gravataí durante a operação. A reportagem tentou contato com ela, sem sucesso.
O Ministério Público agora apura a possibilidade de que a Blue Eyes tenha sido contratada por outros municípios da região no mesmo período. A empresa consta como ativa na Receita Federal e, a pedido do Ministério Público, juntamente com outras 14 empresas investigadas, deve ser impedida de firmar novos contratos com órgãos públicos.
O Gamp foi contratado após licitação da prefeitura de Canoas, em outubro de 2016, para administrar boa parte da saúde municipal. Do contrato de R$ 1 bilhão, mais de R$ 400 milhões já haviam sido repassados e, pelo menos, R$ 40 milhões desviados. Valor, estima o promotor João Afonso Silva Beltrame, suficiente para evitar a atual crise da saúde daquele município, em que os funcionários do grupo estão em greve justamente por falta de pagamento e o atendimento no HPS de Canoas não funciona na sua totalidade.