Fernando Deadpool (DEM) está se saindo um Boca Aberta em sua estreia como vereador de Gravataí. Arrisca, como o deputado federal, ganhar cliques, mas ser cassado. Na última semana recebeu advertência verbal da presidência da Câmara de Gravataí – medida que conforme o artigo 239 do Regimento Interno antecede penas de suspensão e até perda do mandato – mas ‘reincidiu’.
Boca Aberta perdeu o mandato em agosto após transitar em julgado processo que lhe suspendeu os direitos políticos por 8 anos por condenação na Câmara Municipal de Londrina (PR) por quebra de decoro parlamentar. Os colegas entenderam que ele disseminou fake news em ataques contra colegas, além de ter invadido uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA).
– Nem a oposição aguenta mais. Passou de todos os limites. Há elementos de sobra para cassá-lo. Há BOs contra ele de médicos e funcionários públicos – conta um vereador.
As ocorrências seriam relativas a ações – e ‘denúncias’ em postagens – do vereador em visitas a UPAs e outros serviços públicos.
Em sua mais recente diatribe, na última sexta, Fernando Deadpool cometeu uma fake news contra o governo Luiz Zaffalon (MDB) e envolveu a vereadora Márcia Becker (MDB).
– 5 criminosos do regime semi-aberto receberam uma homenagem da Prefeitura de Gravataí com o título “amigos dos animais”. Decidiram fazer essa vergonha porque os condenados prestam serviço no Canil Municipal. Enquanto isso, essa mesma Prefeitura apreende mercadorias de vendedores ambulantes, que estão honestamente lutando pelo pão de cada dia. É inacreditável! Esse vereador é veementemente contra o que está sendo feito. Vergonha! – postou em seu perfil no Facebook.
Era fake news. A ação foi promoção do gabinete da vereadora e ativista da causa animal, que alertou Deadpool:
– Eu, Márcia Becker, vereadora e ativista da causa animal, prestei uma singela homenagem aos tratadores da unidade de saúde animal de Gravataí, incluindo 5 apenas que estão lá a um ano. Não admito postagens de vereadores que, assim como eu, foram eleitos pelos votos da população, se metendo no meu trabalho como ativista ou parlamentar, com mentiras. Apagou meus comentários, me bloqueou e não vou admitir que se envolva nas minhas homenagens. Tenho tanto direito a homenagear quem eu quiser quanto qualquer outro.
Deadpool respondeu:
– Vereadora dona Márcia Becker, eu editei ali a postagem quando disse erroneamente que partiu da prefeitura. A matéria saiu no Giro Gravataí, não citei a senhora, nem opinei sobre sua pessoa, apenas sobre o fato.
A contrariedade dos vereadores, coisa rara e só experimentada em questões extremas no ‘clube de amigos’ do legislativo, confirmou-se em outras postagens no grupo dos vereadores, as quais o Seguinte: teve acesso.
– Essa situação é recorrente, e parece sem fim por parte do representante do parlamento, tá ficando insustentável, parece que a desconstituição do trabalho alheio é natural para alguns, sempre distorcendo os fatos para seu público. Desse jeito, não sei aonde vamos parar – escreveu Alex Peixe (PTB), da base do governo.
O oposicionista Cláudio Ávila (PSD) também escreveu textão no grupo:
“…
Permitam-me somar a indignação da vereadora Márcia, no triplo sentido:
1. Devemos sempre respeitar profundamente a defesa dos animais, que muitos que se dizem não criminosos ou assim não são considerados, maltratam e abandonam ou ambos;
2. O termo correto é “apenado”. Alguém que errou, foi condenado e que cumpre uma pena, visando “pagar” pelo erro ou crime que cometeu. Eles estão em um programa de ressocialização, que faz deles também “reeducandos”, sendo a última expressão muito utilizada quando o sujeito demonstra arrependimento e quer reiniciar a sua vida após comprovar para a sociedade que tem condições de receber uma segunda chance. Obviamente que tem quem não se recupera mais e que representa risco insanável, esses recebem outro tratamento do Estado.
No entanto, se formos tratar de forma tão pejorativa e desumana quem está tentando se recuperar, creio que devem instituir a pena de morte no país, pois na visão de alguns, uma vez cometido o erro/delito ou o crime, essa pessoa se torna um eterno criminoso sem possibilidade de nenhum futuro social, então melhor não gerar despesa para o Estado. Creio que para determinados crimes temos que ser radicais nos limites da CF, seguindo a lógica da sociedade e não a ação individual, que sempre imaginamos fazer, no caso de eventualmente estarmos diante de uma ação de terceiros ou criminosos. Não podemos ser generalistas, especialmente no sentido dos erros ou crimes com menor potencial ofensivo.
Portanto, é louvável o ato da vereadora Márcia que exalta e incentiva a tentativa de recuperação do ser humano, tendo como forma o zelo com os nossos animais. Os animais mudam as pessoas, são vida e são capazes de contribuir significativamente com o melhor desenvolvimento emocional e humano. Todos sabemos disso!
3. O vereador que faz parte da histórica Comissão dos Direitos Humanos que já travou grandes atos, defesas e ações em prol dos “excluídos” da sociedade, também faz parte da Comissão de Direito e Bem-estar dos animais, ataca vulgarmente uma ação parlamentar que prestigia a missão precípua de ambas as comissões e também faz parte do poder discricionário da vereadora.
O vereador sugere que devemos desconsiderar as ações da vereadora e condenar a apreensão de mercadorias da parte de quem está trabalhando “honestamente”. Não entendo como alguém trabalhando honestamente pode ter o seu produto apreendido. Mas vejam que o parlamentar relativiza o possível ilícito na comercialização, mas desconsidera que um dos apenados poderia estar no semi-aberto pelo mesmo relativismo criminal que ele defende em relação aos ambulantes.
Uma lástima estarmos, mais uma vez, mesmo diante da nossa última reunião de líderes, tratando de algo tão pueril, mas reiteradamente ofensivo.
Qual a solução que o vereador busca para a vida das pessoas? Que os fiscais não cumpram com suas funções estipuladas em Lei e a Lei não exista mais para quem cometeu algum erro/delito ou crime?
Solução nenhuma, somente alguns ilusórios clics e curtidas. Ser vereador é bem maior que isso.
Manifesto o meu carinho, respeito e solidariedade a vereadora Márcia.
…”
Inegável é ser dos Grandes Lances dos Piores Momentos: Fernando Deadpool participa da comissão que defende os animais, mas é contra projeto que termina com a exploração de cavalos em carroças; e integra a comissão de direitos humanos, mas não acredita em ressocialização. Só faltava algum ex-colega de escola acusa-lo de bullying por homofobia ao saber que ele criou frente em defesa da causa LGBT!
Pior: parece legislar em causa própria, pois ao ‘acusar’ a Prefeitura de cumprir a lei que não permite vendedores ambulantes sem registro, remonta ao seu próprio caso, impedido de vender pães no Centro antes de ser eleito vereador.
Ao fim, Fernando Deadpool – que mais uma vez apagou post após polêmica, como fez quando, no caso mais notório, deletou live onde defendeu seu votou favorável ao subsídio de R$ 5 milhões para a Sogil – só não responderá na comissão de ética se os vereadores lhe permitirem mais uma chance.
Coisa que ele, conforme seu post, não daria para os apenados, em sua obsessão por caçar-cliques no Grande Tribunal das Redes Sociais.
Hoje, 18h, tem audiência pública sobre o projeto do fim das carroças.
Mesmo que em alguma crítica tenha razão, cuidado vereador Deadpool, para não entregar um importante mandato em troca do imediatismo de coraçõeszinho no Face e no Insta, que, o senhor bem sabe, mudam bem rápido para grrrrs e travestem o herói do dia em vilão da noite.
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