RAFAEL MARTINELLI

Fiasco na Paulista: Bolsonaro mais fraco do que antes. E Xandão mais forte

Associo-me ao artigo do jornalista Reinaldo Azevedo, Fiasco na Paulista – Bolsonaro mais fraco do que antes. E Xandão mais forte. Sigamos o texto.

É … O charme do bolsonarismo como um movimento antissistema — e o decadente “capitão” insistiu nessa tecla — parece ter minguado. Aquela que prometia ser a maior manifestação popular do planeta, com o intuito de pedir a cabeça de Alexandre de Moraes, reuniu, segundo medição objetiva, menos de um quarto do público que compareceu à convocação anterior, em 25 de fevereiro: 45,4 mil agora ante 185 mil antes. Convenham: tudo parecia reforçar o ato fascistoide. Parece que algo começou a dar errado…

Os dois números, note-se, são do Monitor do Debate Político no Meio Digital, que desenvolveu um software para medição de público. Nem entro no mérito se está certo ou errado. Interessa a ordem de grandeza, não o número. A mesma métrica foi empregada agora e em fevereiro. E, desta feita, compareceu uma parcela correspondente a apenas 24,6% das pessoas que atenderam aos apelos do líder golpista na jornada anterior.

Jair Bolsonaro tem muitos motivos para ficar chateado. Vamos lá. Um dos convocadores do evento era ninguém menos do que Elon Musk, um herói da extrema-direita mundo afora, reverenciado aqui no Brasil como um senhor que vai dar uma surra nos progressistas com seu chicote multibilionário.

Até as pessoas sensatas andavam um tantinho preocupadas, contaminadas, quem sabe?, pela histeria que tomou conta de parte da imprensa, especialmente do “extremo-colunismo”, depois que Moraes determinou a suspensão do X, a aplicação de multa para quem recorrer a VPN para acessar a plataforma e o bloqueio das contas da Starlink para pagamento de passivos com a Justiça. Tudo conforme a lei, diga-se. As medidas foram confirmadas pela primeira turma. As únicas peças que ferem o ordenamento jurídico nesse caso são mesmo as ADPFs a que recorreram o Partido Novo e, pasmem!, a Ordem dos Advogados do Brasil. Nesse segundo caso, como escreveu Padre Vieira, “pelo costume, quase não sente”.

“Quantos milhões irão às ruas para defender seu direito de acessar o X, indignadas com o ministro e pedindo a sua cabeça?”. 45 mil pessoas. Um fiasco do tamanho das expectativas.

Há mais. O ex-presidente jamais conheceu uma imprensa tão sensível a seus, digamos, “argumentos” como agora. Sob o pretexto de se combaterem os supostos métodos heterodoxos de Moraes ou a dita hipertrofia do Supremo — duas besteiras —, setores do jornalismo e do colunismo transformaram a catilinária golpista do bolsonarismo em “pauta isenta” ou em artigos que buscam emprestar benignidade às substâncias tóxicas produzidas pelos afascistados. Reparem que os Bolsonaros pararam de bater na imprensa, o que é um péssimo sinal… para a imprensa.

Houve uma intensa cobertura dos meios de comunicação a antever o maior espetáculo da Terra. Eu cansei de ler, mesmo quando não queria — as chamadas das homepages assaltavam a tela — que o pastor Silas Malafaia prometia um discurso “duríssimo” contra Moraes, algo mesmo para “arregaçá-lo”. Também Bolsonaro anunciou que, desta feita, não tinha perdão: pediriam mesmo o impeachment. Aliás, o biltre voltou a acusar o TSE de interferir no resultado da eleição de 2022… Os deputados bolsonaristas mais badalados também engrossariam o evento, além, claro!, de Tarcísio de Freitas… Apelaram até à expectativa da participação de Pablo Marçal. Pois é: 45 mil pessoas.

Por que flopou?

Tudo parecia a favor de um evento espetacular. E, no entanto, não aconteceu. Por que não?

Bem, eu não sei, e ninguém sabe com certeza. Há possíveis pistas. A suspensão do X não gerou a comoção que os reaças esperavam, e a atuação grotesca de Musk pode ter sido contraproducente para Bolsonaro e sua causa. Ficou com aquele jeitão de que estava acontecendo o que estava acontecendo: ele e os seus se comportam aqui como meros esbirros de um bilionário doidivanas.

A dobradinha de parte da imprensa com o bolsonarismo na tentativa de linchar Moraes também não provocou o efeito esperado. Deve-se ao menos especular se o tiro não saiu pela culatra. Nesses embates amalucados, parte dos fanáticos gosta de imaginar que seu líder é um herói destemido e solitário, que só tem de seu os fieis seguidores. Se a parceria não gerou repulsa, é certo que não resultou em engajamento.

O demiurgo do pesadelo não vive um bom momento. Há essa flopada na Paulista. No Rio, seu berço político, seu candidato será esmagado por Eduardo Paes (PSD), que deve vencer a eleição no primeiro turno. Em São Paulo, apareceu, um aventureiro correndo pela extrema-direita — de modo agora tolerado, mas entrou sem pedir licença. Também há vexame em Belo Horizonte.

Eis uma boa oportunidade para a reflexão de todos, não é? Musk pôde testar o seu poder de incendiar o Brasil. Gostou, malucão? Com um pouco de juízo, Bolsonaro e seus fanáticos no Congresso desaceleram maluquices como anistia, por exemplo. Ou então levam o caso adiante: se aprovada, será declarada inconstitucional pelo Supremo. E eles farão o quê? Chamarão mais uma manifestação contra o… Supremo?

Nota para não esquecer: qualquer texto aprovado no Congresso, PEC ou projeto de lei, que resolva “conter” os poderes do tribunal será submetido ao juízo de constitucionalidade do próprio tribunal. Como se sabe, não adianta evocar o Artigo 142 para pôr tropas na rua. E, sim, podendo as fatias de jornalismo a que me referi refletir um pouco, não custa. Ou continuem na toada, sei lá: por ora, a aliança tem contribuído para fortalecer a unidade no tribunal.

E há uma outra especulação que não me parece desarrazoada. Esses que foram ontem à Paulista vivem de vender o caos na economia, como fazem alguns “duzmercáduz” e seus esbirros escrevinhadores. Os índices, no entanto, melhoraram, sem exceção, o que beneficia todos os estratos de renda. Há, sim, aquela parcela impermeável a qualquer boa notícia porque pautada pela ideologia. Mas pode ser que parcela dos antes “bolsonarizados” tenha se dado conta de que a tragédia não veio; na verdade, a vida melhorou. É cedo para dizer.

O fato é que Bolsonaro, depois deste 7 de setembro, está mais fraco do que estava no dia 6. Se o tamanho da manifestação era tido como um argumento para enfraquecer Xandão, então ele ficou mais forte.

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