O Mulemba da Caxu, bloco que desfila em seu segundo ano no Carnaval de Rua de Cachoeirinha, levou para a avenida um desfile repleto de simbolismo, tradição e respeito às crenças de matriz africana, promovendo uma imersão cultural para o público e valorizando a ancestralidade afro- brasileira. Tendo como tema central as crenças de matriz africana, o desfile foi composto por mais de cem participantes organizados em sete alas, cada uma dedicada a louvar uma das sete linhas sagradas das deidades do panteão africano.
O enredo intitulado “Amigos Joguem Flores e Perfumes que a Mulemba Já Chegou!”, composto por Emerson Lima e Wilson Lucas, com muita sensibilidade, exaltou a fé, a resistência e a identidade afro-brasileira, bem como as lideranças religiosas de matriz africana de Cachoeirinha.
A Comissão de Frente intitulada “Bará abre os caminhos” foi liderada pela Ialorixá Mãe Iná de Oxalá da Casa Oluwa Ilê Funfun – a Casa do Senhor de Branco. Mãe Iná e seus filhos entraram na avenida realizando um lindo ritual de abertura de caminhos, invocando proteção e muito axé para o Desfile, distribuindo elementos sagrados ao público como flores e pipocas. O Bará, Orixá que rege os caminhos e as escolhas, foi deslumbrantemente interpretado por Brendo Guilherme Albuquerque Soares, que veio abrindo as “portas da avenida” com prosperidade e proteção.
Em seguida, o brasão e as cores do Bloco – rosa, verde e amarelo, foram carregados pela elegante Porta-estandarte Rochelle Aguiar em parceria com o carismático passista-mirim Kalisson Ramos da Silva. Na sequência, 21 crianças lideradas pela grande e amorosa Orixá Mamãe Oxum, personificada por Silvia Teixeira, rendeu sua homenagem a pureza e a alegria das crianças que com seu sorriso e espontaneidade encantaram o público. A quarta ala trouxe guerreiros capoeiristas do Grupo Família Nova Geração de Oxossi, acompanhada do Povo da Mata, trazendo a relevância e o respeito às comunidades que vivem da natureza, preservando o que temos de mais rico em nosso país.
A quinta ala, Orixás da Diversidade, trouxe o acolhimento e respeito à diversidade de expressões e formas de ser, trazendo com beleza e graciosidade seis importantes Orixás da Matriz Africana: Obá – Guerreira da Justiça (Fernanda Fonseca da Silva), Iansã – Senhora dos Ventos (Paula Cardoso), Iemanjá – Rainha dos Mares (Claudia Oliveira), a Pomba Gira Sete Saias (Vanessa Bello), Oxumarê – Serpente do Arco-Íris (Anderson Teixeira) e Oxóssi, o Senhor das Florestas e da Caça (Claudio Renato Almeida). Como foliões, membros e apoiadores da comunidade LGBTQIA+ estamparam um colorido abadá com os elementos sagrados de cada Orixá.
Pelo segundo ano, a Bateria da Mulemba da Caxu faz um espetáculo. Formada por moradores das comunidades periféricas de Cachoeirinha, que
aprendem o instrumento por meio de oficinas realizadas ao longo do ano, os tambores são a principal ferramenta de trabalho do Bloco. O Mestre Filipe Nero (Presidente do Bloco) encarnou Ogum – o Orixá da Luta, Senhor das Ferramentas e da Agricultura e conduziu com destreza e entusiasmo sua Legião dos Tambores de Aruanda. Com 30 componentes entre homens, mulheres e crianças tocando uma diversidade de instrumentos, a bateria trouxe um bit intenso e arrebatador adornado de bossas. A força dos tambores foi suavizada com a beleza e delicadeza da Rainha de Bateria Lyanna Dias da Silva, que abrilhantou o desfile com seu samba e plumas.
Interpretando o tema enredo, a harmonia foi liderada pelo intérprete e compositor Emerson Lima (Vice-Presidente do Bloco), que personificou Beto de Xangô, uma das lideranças locais homenageadas no tema enredo. Acompanhado de Robson da Silva Pacheco que atuou como segunda voz e Wilson Lucas no cavaco, fizeram uma bela interpretação do tema enredo que foi desenvolvido especialmente para o Desfile de Carnaval de 2025.
Fechando o desfile, o Ilê Oxum Docô composto pelos descendentes e seguidores de Mãe Zeneide, outra liderança espiritual local homenageada no tema enredo, lindamente trajados de branco e dourado realizaram o encerramento, adoçando a despedida do Bloco com distribuição de quindins e abençoando o público com aromas de luz, paz e amor.
Entre os sete grupos que desfilaram na noite, a Mulemba da Caxu foi quem apresentou o maior número de componentes e diversidade de figurinos, dando um show artístico e criativo a um município tão carente de arte. Com uma dedicação de trabalho e ações culturais de inserção social que se estendem ao longo do ano, a Mulemba demonstra seriedade e comprometimento com a maior Festa Popular Brasileira. Também fortalece a arte local, atuando com muita organização e profissionalismo. Como o próprio lema do Bloco expressa, a Mulemba ninguém vai segurar.