Quando o chefe de um poder executivo está de saída do cargo, com a proximidade do final do seu mandato, é costume nas redações dos jornais brasileiros dizer que os garçons já estão lhe servindo o café frio. A quatro meses das eleições, qual é a temperatura do café que está sendo servindo para o presidente Jair Bolsonaro (PL)? Temos noticiado que sua candidatura à reeleição é competitiva e tem grandes chances de assegurar uma vaga no segundo turno contra o seu principal adversário na atualidade, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP). Para sabermos a temperatura do café de Bolsonaro precisamos ficar atentos aos movimentos de três grupos de personagens. Os generais, entre eles Braga Netto, os parlamentares do Centrão, representados pelo ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, e pelos três filhos parlamentares do presidente: Carlos, vereador do Rio, Flávio, senador do Rio de Janeiro, e Eduardo, deputado federal por São Paulo. Claro, eles jamais vão revelar em que temperatura está o cafezinho que tomam com o presidente. Mas estão atentos, porque a sobrevivência política, econômica e social deles depende do futuro da reeleição de Bolsonaro.
Eo mais atento deles é o ministro Ciro Nogueira, 53 anos, advogado, senador pelo Partido Progressista (PP) do Piauí. Ele é líder do Centrão e um dos mais experientes e respeitados entre os seus pares no Congresso. Em todos os governos eleitos depois da democratização do país, em 1985, esses parlamentares estiveram presentes. E o costume deles é saltar do barco assim que começam a aparecer as primeiras gotas de água. Até agora estão firmes ao lado do presidente. Não estão nessa por ideologia. Mas por dinheiro. O governo liberou R$ 16 bilhões para emendas no chamado orçamento secreto, como foi apelidado pela imprensa um truque contábil na administração federal. Mesmo com todo esse dinheiro, em um eventual naufrágio da candidatura à reeleição do presidente, Ciro Nogueira romperá com o governo. Por quê? Esse é o esquema de sobrevivência do Centrão: sempre do lado do vencedor. Os jovens repórteres que estão nas redações trabalhando na cobertura do dia a dia devem ficar atentos aos movimentos do senador. Ele é a nossa melhor aposta para sabermos a temperatura do cafezinho que estão servindo no Palácio da Alvorada. O general Braga Netto vai até o fim com Bolsonaro porque é o candidato a vice-presidente na chapa. Aqui é o seguinte. Além dele, mais 6 mil militares de várias patentes (ativa, reserva e reformados) que fazem parte da administração federal vão até o fim com o presidente porque não têm para onde ir. E, claro, os filhos de Bolsonaro também não vão abandonar o barco. Mas há um fato para o qual devemos ficar atentos. Eles são jovens e se elegeram na sombra do pai. Se o presidente for derrotado e fizer uma grande lambança que o torne uma ameaça ao estado de direito, ele enterra o futuro político dos filhos. A crença geral é que o presidente vai espernear se perder. Mas não vai além disso, por causa do futuro da sua família.
Como sempre digo e vou repetir por considerar importante. O que escrevi não é opinião. Mas fato que temos publicado. A campanha da reeleição do presidente não obedece a uma única lógica. Embora não representem as Forças Armadas, os militares no governo apostam na credibilidade dela para seduzir o eleitor. Os parlamentares do Centrão seguem o roteiro que tem garantido a reeleição deles, que é distribuindo dinheiro para os prefeitos e cabos eleitorais espalhados pelos rincões do Brasil. E os filhos do presidente jogam as suas fichas na radicalização dos bolsonaristas “raiz” para garantir a ida para o segundo turno. São três linhas de ação que não negociam entre si. Pode parecer estranho. Mas até agora está funcionando, porque garante a ida do presidente para o segundo turno. Isso significa que os três principais grupos envolvidos com a reeleição estão remando para o mesmo rumo. Ao contrário das outras campanhas, essa é recheada de fatos interessantes e intrigantes que oferecem boas histórias para o repórter contar. Mas essas histórias podem se tornar um pesadelo caso ele não esteja bem informado sobre o que está escrevendo. Porque o que não faltam são cascas de bananas espalhadas pelo caminho, à espera do pé de um repórter desavisado. Um exemplo: o caso da absurda morte de Genivaldo de Jesus Santos, 38 anos, preso em uma viatura da Polícia Rodoviária Federal (PRF) transformada em “câmara de gás”, em Umbaúba (SE), no dia 25/5, uma quarta-feira – notícias na internet. No início da manhã da terça-feira seguinte (31/05), os noticiários informavam que os diretores da PRF Jean Coelho (executivo) e Mota Rebello (Inteligência) haviam sido afastados dos seus cargos devido a repercussão internacional do caso Genivaldo. No decorrer do dia descobrimos que, na verdade, eles deixaram os cargos porque foram promovidos para novas funções em Washington, nos Estados Unidos. Aqui vou lembrar uma tecla que sempre bato. Quando publicamos uma notícia ela é como uma bala disparada por uma arma. Não volta mais para o cano. Portanto, para muita gente, os diretores foram punidos. Enganar jornalistas faz parte do jogo. É a tal casca de banana.
Para fechar a nossa conversa. Tenho dito nas minhas palestras para estudantes e colegas que trabalham pelas redações dos jornais espalhados pelo interior do Brasil. A faculdade nos ensina as técnicas e a ética do jornalismo. O convívio nas redações nos ensina o caminho das pedras. Mas é o bom senso que determinará quem seremos na nossa profissão. O bom senso não nasce com o repórter. Ele é alcançado no exercício diário da reportagem. Onde é fundamental reconhecer, não importando as consequências, os erros que cometemos. Essa é a diferença entre um bom repórter e um aventureiro na profissão. É bem assim, podem anotar.