“Foi na companhia dos gatos que encontrei alento para as duras batalhas que tive de enfrentar.” (CARDOSO, 2009, p. 235)
Que relação poderia haver entre gatos, pensamento oriental e colonização portuguesa?
Isso é o que encontramos na obra Requiem para o navegador solitário (2009), de Luís Cardoso, autor do Timor-Leste. Estampando um simpático gatinho na capa, a obra nos leva a uma viagem muito mais profunda, na qual conhecemos um pouco da realidade do Timor, uma das ex-colônias orientais de Portugal.
A personagem protagonista, Catarina, filha de um chinês e de uma portuguesa, é mandada para Díli, capital do Timor-Leste, para viver com seu noivo. Passa por muitos percalços, sempre acompanhada de seus bichanos.
“Fui recebendo gatos que me foram deixando como lembrança, provavelmente para me avisarem quando o mar enfurece e entra pela casa dentro como os piratas, que por estes lados abundam como corvos.” (p. 16)
A presença constante de felinos na vida da personagem é panorama para fatos históricos, como o plano de ocupação do Extremo Oriente pelos nipônicos, durante a 2ª Guerra Mundial. No embate entre portugueses e japoneses pelo território do Timor, conhecemos aspectos curiosos da cultura oriental – como o costume tailandês de presentear gatos Korat em casamentos – e encontramos referências críticas à colonização portuguesa.
– Todos os ocidentais têm fantasias acerca do Oriente – diz o capitão português Geraldo Pinto Pereira, num dos trechos do romance.
E essas fantasias advêm do tamanho de nosso desconhecimento, tanto sobre a própria cultura oriental, quanto sobre os próprios aspectos que nos aproximam, como o fato de sermos, Timor-Leste e Brasil, ex-colônias portuguesas.
Nessa aproximação de contrastes – pensamento ocidental e oriental – é que embarcamos com esse romance. A obra é editada no Brasil, pela Editora Língua Geral, num bonito projeto que tem como intuito dar a conhecer ao público brasileiro outras vozes que falam em Língua Portuguesa.
Seja pela curiosidade em conhecer um pouco mais sobre o Timor-Leste, repleto de conflitos étnicos e políticos, seja pela presença constante dos gatos, Requiem para o navegador solitário é um romance-navegação que vale bastante a pena.