RAFAEL MARTINELLI

GM volta, comércio reabre, mas catástrofe tem potencial de pandemia na economia de Gravataí; O “compre no bairro” e o estado necessário

A água baixou, a GM voltou, o comércio reabriu, mas prejuízos econômicos batem no pescoço do empresariado, lojistas e das contas públicas de Gravataí. A projeção da Prefeitura é de R$ 40 milhões a menos no retorno de impostos. As perdas do comércio superam os R$ 10 milhões. Para efeitos de comparação, a perda de receita na pandemia foi de R$ 50 milhões.

A GM retornou “gradualmente” a produção há uma semana, com dificuldade de acesso de colaboradores e falta de peças produzidas no Rio Grande do Sul.

“A empresa continua monitorando as condições e adequando a produção do complexo industrial alinhada também ao reestabelecimento de fornecedores. Para a GM, neste momento, a prioridade é a segurança dos empregados, assim como as ações solidarias de apoio à comunidade e ao Estado do Rio Grande do Sul”, informou a montadora, na nota em em que anunciou, no dia 20, a retomada das operações na fábrica de Gravataí, “em um turno”.

A GM parada custa R$ 5 milhões por mês, ou, para usar uma obra simbólica da aldeia, uma Ponte do Parque a cada 30 dias sem produzir a pleno. A catástrofe no RS fez a montadora suspender a produção por 20 dias.

A oportunidade na tragédia é que as vendas tendem a acelerar. Foram perdidos 200 mil carros na enchente, conforme estimativa da Bright Consulting, consultoria especializada no setor automotivo. De 5 a 10% da frota resta inutilizada.

No setor de comércio e serviços, a Assessoria Econômica da Câmara de Dirigentes Lojistas de Porto Alegre (CDL POA) aponta prejuízos de R$ 298,1 milhões em Porto Alegre. O que permite estimar mais de R$ 10 milhões em prejuízos em Gravataí, menos atingida pelas inundações.

– Gravataí não sofreu como outros municípios, mas tudo parou. Foram duas semanas de horror. Nas vendas, perdemos o Dia das Mães, que é o Natal do primeiro semestre – lamentou ao Seguinte: o presidente do Sindilojas de Gravataí, José Rosa.

Proprietário de lojas de moda feminina, o lojista olha para seu caixa para estimar o prejuízo: não se vendeu 20% do mesmo período do ano passado.

– As pessoas não estão comprando. Muita gente ainda está abalada, socorre familiares e amigos de municípios vizinhos, dedica-se ao voluntariado. Não há aquele espírito necessário para aquecer as compras – diz, alertando também para os prejuízos no setor de eventos.

O próprio Sindilojas, hoje um dos principais centro de eventos do município, transformou-se numa cozinha industrial que produzia 5 mil marmitas por dia, e em um centro de arrecadação de doações. Nesta terça-feira, 19h30, a entidade presta contas em um coquetel em sua sede.

Aguardando programas de apoio ao setor pelos governos municipal, estadual e federal, o presidente do Sindilojas negocia trazer para Gravataí Marcos Rossi, famoso palestrante motivacional que nasceu com síndrome de Hanhart, deficiência congênita que impediu o desenvolvimento dos braços e das pernas, e apresenta sua história de superação, com experiência em multinacionais e, mesmo com suas limitações, baterista de escola de samba.

– Precisamos devolver o otimismo. Estamos vivos. Não podemos nos entregar. Vai passar – motiva José Rosa, que faz um apelo aos consumidores gravataienses:

– Valorize sua região, compre no seu bairro.

Fato é que, mesmo Gravataí experimente um círculo menor no Inferno de Dante que afoga municípios vizinhos, é perceptível o contágio da catástrofe.

Ainda há algo de cidade-dormitório, gente que trabalha em outros municípios e, se já não perdeu renda, está com seu negócio ou emprego sob risco.

Além da obvia inexistência do ‘espírito’ para comprar, que bem refere José Rosa, num Estado em depressão. Ir a um restaurante já causa constrangimento a muitos que podem fazê-lo.

No RS, o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), disse que o governo federal anunciará hoje um pacote de R$ 15 bilhões em auxílio para as empresas afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul.

Ao fim, como antecipei ainda no dia 14, em Quando o ‘povo pelo povo’ cansar, a realidade se impõe: governos terão que manter abrigos, reconstruir e prevenir; O que Zaffa, Leite e Lula estão fazendo, é a hora do estado necessário.

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