RAFAEL MARTINELLI

Governo Cristian toma medidas internas sobre IPM após empresa ser alvo de operação do Ministério Público; Do TCE ao compliance de Cachoeirinha

Prefeito de Cachoeirinha, Cristian Wasem

O governo Cristian Wasem (MDB) apresentou medidas tomadas a partir da deflagração da operação do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Estadual que tem como alvo a IPM Sistemas, responsável pela informatização da Prefeitura de Cachoeirinha, que pagou R$ 1,6 milhão à empresa em 2023.

Nesta sexta-feira, em Empresa que opera toda informatização das prefeituras e câmaras de Gravataí e Cachoeirinha é alvo do MP; Força-tarefa vai investigar 108 municípios, reportei que o MP projeta investigar mais de cem municípios gaúchos por suspeitar de um esquema de fraudes em licitações.

A Comunicação da Prefeitura informou que, mesmo sem ter havido contato do Ministério Público, medidas estão sendo tomadas por conta própria junto a mecanismos internos de controle.

O prefeito enviou ofício à Unidade Central de Controle Interno pedindo que o Tribunal de Contas do Estado (TCE) seja consultado sobre alguma objeção relativa à empresa, já que o contrato está vencendo e será aberta nova licitação.

Reproduzo o documento e, abaixo, sigo.


No memorando, Cristian se refere à análise do compliance, o Aloisio Zimmer Advogados Associados, que fez recomendações após a notícia da investigação do MP.

O Seguinte: teve acesso ao relatório. Diz o principal trecho:

“(…)

A fim de a Administração da PREFEITURA MUNICIPAL DE CACHOEIRINHA se resguardar sobre a inocorrência de quaisquer ilícitos que possam ter ocorrido na contratação da IPM SERVIÇOS LTDA, sugere-se, como uma medida do Programa de Integridade, que sejam apurados os seguintes aspectos:

1. Se houve visita prévia da IPM SERVIÇOS LTDA ao MUNICÍPIO DE CACHOEIRINHA antes de sua contratação e, em caso positivo, quem compareceu, quem o(s) recebeu e qual foi a pauta da reunião;

2. Quem foi o responsável pela elaboração do Termo de Referência e do Edital Licitatório;

3. Se a contratação decorreu de procedimento formal, previsto em lei, Se sim, qual foi a modalidade licitatória adotada pela Administração;

4. Se o processo licitatório, a partir das exigências colocadas no edital, permitia concorrência;

5. Se o valor contratado está de acordo com os preços praticados no mercado, ou seja, em municípios de porto similar ao de CACHOEIRINHA;

6. Se o contrato foi devidamente registrado nas plataformas públicas, como Portal da Transparência e Licitacon/TCE;

7. Se o sistema contratado está operante e possui boa operacionalidade, cumprindo com o objeto do Contrato;

8. Se eventuais pagamentos efetuados estão de acordo à normalidade, indicando se detectado algum tipo de benefício, como burla à ordem cronológica;

9. Se há outro aspecto digno de nota.

Após a apuração dos pontos acima apresentados por meio de expediente administrativo específico e outras medidas que a Administração entender pertinentes, remata-se para a Procuradoria Municipal, lembrando que não podemos ter qualquer tipo de atuação neste caso para evitar qualquer risco de conflito de interesses.

(…)”

Sigo eu.

Como reportei no artigo desta manhã, a ampliação da investigação para as 108 cidades que fazem pagamentos mensais à empresa responsável pela informatização de órgãos públicos foi divulgada pelo MP após operação nesta quinta-feira em que foram cumpridos mandados nas prefeituras de Bento Gonçalves, Rio Grande, Sapiranga, Santana do Livramento e Candelária.

Conforme os promotores, a investigação vai avaliar se há suspeita de fraude nos contratos, como já teria sido percebido nas cinco prefeituras citadas acima.

O MP aponta indícios de que representantes da empresa de tecnologia criaram um esquema para direcionar licitações, a partir da entrega para agentes públicos de uma proposta de edital para contratação de serviços que, pelo pré-requisitos, teriam a própria IPM como única vencedora possível.

Conforme os investigadores, para não deixar rastros os documentos seriam entregues presencialmente por representantes da empresa para os agentes públicos.

Na operação desta quinta o foco principal foram mídias físicas e equipamentos eletrônicos que possam ajudar a comprovar a fraude.

A IPM, que tem sede em Santa Catarina e contratos em seu estado de origem, Rio Grande do Sul, Paraná, São Paulo e Minas Gerais, e se apresenta como “líder no Brasil em tecnologia para gestão pública”, divulgou nota negando as suspeitas.

“A IPM atua no fornecimento de tecnologia de última geração aos municípios brasileiros, e luta contra iniciativas de um grupo de empresas que visa evitar sua entrada nas Prefeituras do Estado do Rio Grande do Sul. Tais iniciativas são pautadas em denúncias vazias e inconsistentes, motivadas por interesses comerciais próprios de outras empresas do mesmo segmento que não têm entregado sistemas de gestão modernos e eficientes. Agimos em conformidade com a lei e focamos nossos esforços na eficiência e inteligência para a gestão pública, com tecnologias melhores e preços inferiores aos do mercado. Os serviços à população seguem disponíveis e sem qualquer alteração, e nós continuamos firmes em nossa missão de promover uma gestão pública mais eficiente e de qualidade. Seguimos à disposição do judiciário e órgãos de controle. Os fatos serão esclarecidos”, diz o texto.

O presidente da Câmara de Cachoeirinha, Paulinho da Farmácia (PDT), que pagou R$ 112 mil à IPM em 2023, respondeu ao Seguinte: após a publicação deste segundo artigo.

– O contrato foi feito na gestão do presidente anterior (Gelson Braga, do PSB). Não participei da licitação. Durante minha presidência não há o que reclamar do serviço prestado pela empresa – disse.

Ao fim, acerta o prefeito Cristian em se antecipar a alguma surpresa. Aguardemos as respostas que serão dadas ao complience.

Concluo da mesma forma que no artigo anterior: Gravataí e Cachoeirinha terem contratos com a IPM não significa automaticamente estarem no rol de municípios com agentes públicos envolvidos em fraudes nas licitações.

Pelo que apuro desde ontem, até o momento, indício nenhum há.

A princípio, a investigação deve chegar às duas cidades por terem contratos com pagamentos regulares, como informou o MP.

Se alguns, principalmente no Grande Tribunal das Redes Sociais, permitem aos políticos apenas a presunção de culpa, eu não.

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