Na quarta-feira apontei como um erro, com potencial de atrapalhar as negociações, o sindicato dos professores de Gravataí ter aprovado indicativo de greve, em assembléia geral durante o dia de paralisação, antes mesmo de o governo Luiz Zaffalon ter apresentado uma proposta salarial, ou as negociações restarem encerradas.
Para ler o artigo, no qual reporto como foi a mobilização da categoria e a surpresa e o descontentamento do governo, clique em Em dia de paralisação, professores de Gravataí aprovam indicativo de greve; a vitória e o potencial erro.
Reputo há, porém, um movimento errado também do governo, que descobri hoje: no dia da assembléia, o sindicato recebeu oficio com ameaça de corte de ponto de professores que aderissem à paralisação.
A resposta já foi enviada à Prefeitura pelo SPMG.
Reproduzo os documentos e, abaixo, sigo.




Entendo chega-se a um nível de tensão desnecessário, em meios às negociações – mesmo as ameaças de greve e de corte de ponto sejam notórios instrumentos da negociação sindical e governamental.
Alerto é para os símbolos políticos ruins – e muito cedo.
Mesmo que o ‘estado de greve’ signifique uma ‘greve sem data marcada’, que depende da evolução das negociações e da proposta do governo, e ainda que o corte do ponto se mostre uma impossibilidade jurídica pelo fato dos professores terem participado de atividade sindical aprovada em assembleia e com indicação de compensação do dia letivo, sobra um clima belicoso.
Os 28 anos cobrindo política – e tantos acordos e greves – me fizeram analisar anteriormente que não era nenhuma tragédia a negociação, mesmo parada por mais de um mês.
Afinal, trata-se de uma pauta-bomba, não?
Gravataí investe 41% em folha, abaixo dos 51% de limite prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal, mas os 25% de defasagem representam pelo menos R$ 100 milhões e o vale-alimentação de R$ 27,5 demandaria outros R$ 40 milhões.
Contudo, fato é que nas mesas de negociação que começaram em fevereiro de 2025 os professores tinham conquistado o reconhecimento do governo sobre o percentual de perdas, que faz com que, para efeitos de comparação, um professor receba nove dos 12 meses do ano.
Em negociações anteriores o governo fazia um encontro de contas que zerava o déficit a partir dos aportes da Prefeitura para garantir a aposentadoria dos servidores após a crise no instituto de previdência.
Faltava, sim, o principal: uma proposta – mas, ao menos conforme apurei, um parcelamento estaria em elaboração e sua apresentação não fugia dos prazos comunicados nas rodas de negociação.
Ao fim, em Professores de Gravataí fazem dia de paralisação nesta quarta – mas a negociação não vai mal, não, analisei que a negociação até ia bem frente à complexidade da ‘pauta-bomba’. Mas fiz uma ressalva: “A política é nietzschiana, um Deus morreu, tudo pode. Então, certeza de nada há. Mas é um bom começo”.
Quarta, no artigo sobre a aprovação do indicativo de greve, reproduzi o trecho, mas acrescentei: “Aguardemos para ver o estrago – ou não – nas relações entre o governo e a categoria”.
Hoje parece que espíritos restam armados e a coisa começa a ficar ruim. A prudência, por vezes esquecida nos manuais de negociação, mas talvez a mais eficaz ferramenta quando realmente se busca resultados, recomenda zerar esse jogo.
Não precisa 7 erros.
Insisto: caso haja real interesse em se chegar a algum tipo de acordo.