Se o processo de impeachment passar pelo Senado, Gravataí volta a ter um alinhamento partidário com o Estado e com Brasília. Não seria a primeira vez que isso ocorreria na história recente da cidade
Se Michel Temer, do PMDB, vier a assumir a presidência da República com o impedimento de Dilma Rousseff, Gravataí poderá iniciar um novo período – peculiar – de alinhamento político com Brasília. Assim como acontece entre a cidade o governo gaúcho, haveria um peemedebista na presidência – e não um peemedebista qualquer. Michel Temer tem como principal aliado o ex-ministro Eliseu Padilha, padrinho político do prefeito Marco Alba.
Mesmo com havendo uma divergência histórica entre eles, de alguma forma o impeachment da presidente Dilma pode trazer algo de bom para Gravataí?
Na verdade, as relações institucionais entre o município e o governo federal pouco mudam. Mas os projetos de financiamento e de obras que tramitam nos ministérios podem ser acelerados a partir de então.
Durante os últimos meses, o clima de tensão política em Brasília cresceu e paralisou o andamento de alguns processos – especialmente nos ministérios em que o cargo titular poderia entrar em uma disputa entre os partidos indecisos entre o apoio a Dilma ou ao impeachment. Caso de um financiamento de 27,5 milhões de dólares – cerca de R$ 110 milhões – que ainda tramita no CAF e seria investido em asfaltamento e mobilidade urbana por toda a cidade.
: Eliseu Padilha é amigo de Marco desde 1994 | Divulgação PMDB
A conexão Marco-Padilha-Temer
A porta de entrada para o prefeito Marco Alba em Brasília é, seguramente, Eliseu Padilha, ex-ministro de Dilma e braço direito de Temer. Os dois são amigos desde 1994, quando Padilha concorreu a deputado federal pela primeira vez. Marco havia sido candidato a prefeito em 1992 e estava sem mandato.
Quem fez a ponte entre os dois foi o então vereador Jarbas Tavares, hoje no PDT. Padilha havia procurado o vereador para ter um apoiador no Vale do Gravataí com ascendência sobre Cachoeirinha.
– Eu disse a ele que o melhor de campanha era o Marco Alba – contou Jarbas, em mais de uma ocasião.
Dias depois os dois se encontraram e nunca mais romperam a parceria política. Padilha se elegeu e Marco passou a integrar o gabinete do deputado no Rio Grande do Sul. Depois, o acompanhou na Fundação Gaúcha do Trabalho durante o governo de Antônio Britto e no Ministério dos Transportes, no governo Fernando Henrique Cardoso.
O convívio político virou amizade.
Em 2015, quando Padilha ainda era ministro da Aviação Civil do governo Dilma, o PMDB convidou os prefeitos do partido no Rio Grande do Sul para uma encontro com Michel Temer no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice. E Dilma também os recebeu. Elogiou Marco diante de todos, que seria eleito dali a algumas semanas o presidente da Granpal, a associação dos municípios da Região Metropolitana. Dilma fora orientada por Padilha.
O alvo não era só o amigo Marco Alba, mas o prefeito do PMDB com a liderança entre os prefeitos em ascensão.
Para Zaffalon, alinhamento ajuda
Para o secretário Geral de Governo, Luiz Zaffalon, a parceria de Marco com Padilha e, lá, de Padilha com Temer vai beneficiar Gravataí.
– Temos emendas parlamentares trancadas lá, até umas do próprio Padilha. Temos reformas de postos de saúde que o recurso não foi liberado ainda, reformas de praças. Até asfaltamento de ruas que tiveram algum encaminhamento mas o dinheiro não veio – diz Zaffalon, o gerentão do governo.
Sob a mesa dele, uma planilha contabiliza o dinheiro que Brasília deveria ter mandado para Gravataí e não veio. Vai servir de assunto entre Marco e Padilha, certamente.
– Acho que a relação deles só vai beneficiar a cidade. Se destrancar as coisas por lá, ótimo.
Marco, por sua vez, evita comentar o assunto. Sua relação política inabalável com Eliseu Padilha não é a mesma com a direção nacional do partido – comandada até meados de fevereiro pelo próprio Michel Temer.
: Marco, Temer e Acimar da Silva. Ao fundo, Padilha sorri. | Divulgação PMDB
Temer pediu votos para Marco em 2012
Mesmo tendo no atual prefeito de Gravataí um crítico da aliança com o PT e da condução do partido em nível nacional, Michel Temer veio a Gravataí em 27 de setembro de 2012 pedir votos para Marco Alba. Ele andou pela avenida Dorival de Oliveira, desceu na parada 66 e na 75, onde havia o comitê de campanha.
Lá, gravou um vídeo divulgado pelas redes sociais da campanha na época, lembrando que Marco "é uma jovem liderança com experiência política de um grande líder."
Depois, visitou o centro da cidade, onde foi recebido pelo então prefeito, Acimar da Silva.
Alinhamento: não é a primeira vez
Em pelo menos um momento da história recente, Gravataí teve um alinhamento político tanto com o governo do Estado quando com o governo federal. E foi na administração do PT.
Em 2010, durante o governo Rita Sanco, Tarso Genro foi eleito governador gaúcho e Dilma Rousseff recebeu das urnas o primeiro mandato como presidente da República. Rita acabou cassada pela Câmara de Vereadores em outubro do ano seguinte num processo semelhante ao que Dilma enfrenta hoje.