A Prefeitura de Gravataí, por meio da Secretaria Municipal da Mulher e Direitos Humanos (SMDH), promoveu na última sexta-feira, 16, a etapa municipal da Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial. O evento, realizado próximo à data simbólica de 13 de maio – que marca a abolição da escravidão no Brasil (1888) –, teve como tema “Igualdade e Democracia: Reparação e Justiça Racial”, abordado em três eixos: Democracia, Justiça Racial e Reparação.
O objetivo foi consolidar propostas para políticas públicas locais que combatam o racismo estrutural e promovam equidade. A secretária da SMDH, Analu Sônego, destacou a relevância do momento: “Esta conferência é um espaço fundamental para debater dados e estratégias que nos permitam enfrentar a desigualdade racial, além de fortalecer a representação negra nas instituições”. Ela ressaltou a importância de Gravataí contar com um vereador negro, Guarda Moisés, presente no evento, que atua na defesa de pautas antirracistas.
Resistência religiosa e reparação histórica
A presidente do Conselho Municipal de Promoção da Igualdade Racial (CMPIR), Mãe Cris, líder religiosa de matriz africana, trouxe à tona a perseguição histórica contra as religiões afro-brasileiras. “Nossos ancestrais precisaram camuflar suas crenças para sobreviver. Se não adotassem símbolos cristãos, seriam queimados. Essa resistência nos trouxe até aqui”, afirmou, enfatizando a luta contínua por respeito às tradições negras.
Já a palestrante Carem Barbosa de Castro, especialista em justiça social, conectou passado e presente ao analisar os impactos duradouros da escravidão. “Precisamos entender a história para transformar o hoje. Ações afirmativas, como cotas, são frutos dessa reflexão, mas a educação antirracista é a chave para um futuro justo”, defendeu. Ela citou avanços legais, mas alertou para a necessidade de implementação efetiva nas periferias e instituições.
Caminhos para políticas públicas
Os debates nos três eixos geraram propostas que serão levadas à conferência estadual, como: fortalecimento de mecanismos de denúncia de racismo, ampliação de programas de acesso à educação e emprego para populações negras e quilombolas, e reconhecimento oficial de terreiros como espaços culturais protegidos.
Além do vereador Guarda Moisés, o evento contou com a presença de Hebert Ramos, presidente do Fórum Municipal do SUAS, que reforçou o compromisso da assistência social com a pauta racial.
As deliberações de Gravataí se somarão às discussões de outros municípios no âmbito estadual e nacional, pressionando por políticas transversais. Para Mãe Cris, o momento é de “exigir que a reparação saia do papel e chegue às ruas, onde o racismo ainda fere vidas diariamente”.
A conferência encerrou-se com a expectativa de que as vozes levantadas em Gravataí ecoem em instâncias superiores, transformando debate em ação.