RAFAEL MARTINELLI

Gravataí disputa investimento bilionário em semicondutores: o que se sabe sobre a negociação

Zaffa com Eduardo Leite, no Palácio Piratini / Arquivo

Gravataí entrou na disputa por um dos maiores investimentos industriais recentes no Rio Grande do Sul: uma fábrica de semicondutores da empresa Tellescom, que pode ultrapassar R$ 1 bilhão. O prefeito Luiz Zaffalon (PSDB) mobilizou-se rapidamente após receber informações sobre o interesse da companhia, oferecendo a possibilidade de área, incentivos fiscais, agilidade no licenciamento e gestão pessoal das tratativas para convencer a empresa a escolher o município.

– Não existe uma negociação ainda. Só me coloquei à disposição ao saber que a empresa ainda não definiu o município onde fará o investimento. Normalmente não ofereço área e incentivos fiscais, mas para um investimento bilionário, e o tipo de indústria, é um excelente negócio – disse Zaffa ao Seguinte:, destacando os atrativos logísticos de Gravataí.

A cidade, sede da General Motors (uma das maiores consumidoras de semicondutores do país), está a 15 minutos da capital Porto Alegre e do Aeroporto Salgado Filho e é cortada por rodovias estratégicas, como a BR-290 (Freeway) e a ERS-118. Terrenos no parque tecnológico PradoTech foram oferecidos para a instalação da unidade, que ocuparia inicialmente 10 mil m².

Estado na corrida global

Enquanto o prefeito trabalha no front local, o governo Eduardo Leite, através da InvestRS, avança nas tratativas internacionais. O presidente da agência, Rafael Prikladnicki, e o CEO da Tellescom, Ronaldo Aloise Júnior, assinaram nesta terça-feira um termo de engajamento na Malásia, durante missão para captar investidores e trocar experiências com o polo tecnológico de Penang. O documento formaliza o apoio técnico do Estado ao projeto, que prevê a construção da primeira fábrica da Tellescom dedicada ao encapsulamento e testes de chips, voltados para indústria automotiva, Internet das Coisas (IoT) e comunicação sem fio.

– Queremos posicionar o RS como um novo polo de semicondutores. Este projeto alia nossa vocação histórica em microeletrônica com inovação – destacou Prikladnicki.

O Rio Grande do Sul já abrigou a Ceitec, estatal de chips encerrada em 2022, e mantém o programa Semicondutores RS, que fomenta pesquisa e formação de talentos na área.

Por que o Rio Grande do Sul?

Em entrevista durante a missão na Ásia, Aloise Júnior reforçou que a escolha pelo RS não é acidental:

– Aqui encontramos maturidade governamental, infraestrutura logística e concentração de conhecimento.

O executivo citou a proximidade com universidades e a existência de programas estaduais de incentivo como fatores decisivos. O investimento previsto para a instalação da unidade de produção é de US$ 170 milhões a US$ 200 milhões, cerca de R$ 1 bilhão, com potencial de expansão.

A Tellescom, fundada em 2008 e com sede em São Paulo, é conhecida pela fabricação de modems e roteadores, mas busca diversificar sua atuação. Se concretizado, o projeto gaúcho marcará sua estreia na produção de semicondutores, setor estratégico globalmente.

Impacto econômico e concorrência

Gravataí, tradicional polo automotivo, vê na fábrica uma chance de se reinventar como centro tecnológico.

– Seriam centenas de empregos diretos e indiretos, além de atração de outras empresas do setor – projetou o prefeito, que prometeu “fisgar” a oportunidade.

– Também dei a garantia de gestão pessoal das negociações: o prefeito no comando de todas as etapas – conta.

Apesar do otimismo, o prefeito reconhece que a decisão final depende de fatores como prazos de licenciamento e custos operacionais.

Enquanto isso, o governo estadual mantém o ritmo acelerado: além do termo com a Tellescom, a agenda na Malásia incluiu visitas a centros de inovação e reuniões com investidores asiáticos, fundamentais para viabilizar o empreendimento. A expectativa é que novidades sejam anunciadas nos próximos meses.

O jogo dos semicondutores

A disputa por fábricas de chips acirra-se globalmente, e o RS busca aproveitar sua herança na área. Para Aloise, o estado tem “tudo para liderar este renascimento”.

Já Zaffa brinca com a metáfora pesqueira: “Joguei o espinhel. Se beliscar, eu fisgo”.

Agora, resta saber se a isca de Gravataí – e os incentivos do Estado – serão suficientes para fechar o negócio na ‘Terra da GM’, que anunciou R$ 1,2 bi em investimentos no complexo automotivo local entre 2025 e 2028, e projeta parte de outros 4 bi.


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