Se Gravataí neste 17 de julho Gravataí fosse um estado, ou país, restaria decretar lockdown. No Distanciamento Controlado do Governo do RS, a bandeira vermelha, de risco médio, foi mantida nesta sexta-feira. Mas a ‘ideologia dos números’ é arrasadora. A virulência do vírus bate na nossa cara. Agradeçamos que o governo Marco Alba não é orwelliano – lança no Google 1984.
Antes, o mais importante.
Imagine que a pandemia nunca existiu.
A UTI do Dom João Becker (o único hospital de Gravataí, portas abertas para o SUS) está lotada neste momento. Em 2019 também estava no mesmo mês de julho. Em 2018, 2017 e, voltemos no tempo, às calendas, igual era.
A urgência e emergência do hospital, tem 14 leitos de observação. Há, nesta sexta à noite, 38 pacientes ali, em leitos modelo, mas também em camas improvisadas, macas, poltronas, cadeiras, escorados nas paredes ou sentados no chão.
Some a pandemia.
O Hospital de Campanha para COVID-19 tem 10 leitos. Há, na noite desta sexta, 13 pacientes ali. Seis em respiradores, mal.
Em Porto Alegre, referência para a Região Metropolitana, no encaminhamento de casos graves do novo coronavírus, a taxa de ocupação de UTIs chegou a 90%. No Conceição, uma das referências para Gravataí, 100%.
Mais de 50 gravataienses estão internados, com a COVID-19, em hospitais, além da região, no Litoral, Serra, Campanha e Fronteira.
Saúdo que, em tempos tão negacionistas, os dados tenham sido compartilhados na noite desta sexta – e como sempre – pelo prefeito, em live que você assiste clicando aqui, a qual reputo uma das mais esclarecedoras, onde o secretário da Saúde Jean Torman também faz uma exposição didática sobre o que foi feito até agora, e o que será feito no plano de contingência para o enfrentamento da pandemia.
Marco Alba, como critiquei Miki Breier por ter feito hoje em Com mortes crescendo, é um erro comemorar recuperados; Cachoeirinha chega à marca das 10 vidas perdidas, até contou recuperados como notícia boa, mas, como também fez o prefeito de Cachoeirinha, deu a real: as duas cidades experimentam um cenário pior que o ‘epicentro’ Porto Alegre.
O covidiota riu agora ao ler, mas o contágio por 100 mil habitantes, em dados oficiais, é maior em Gravataí e Cachoeirinha do que em Porto Alegre, como mostrei em Mortalidade da COVID 19 em Gravataí é maior que média gaúcha, igual a Porto Alegre e próxima a São Paulo; siga os dados.
Quando escrevo, às 22h04, Gravataí registra 968 casos, com 528 recuperados, 402 em recuperação e – se não dói em você, corra procurar ajuda para essa doença social da naturalização da morte – 38 vidas perdidas. Eram 35, quando postei pela manhã.
Ao fim, provoco porque não me importo em ser o Dr. Stockmann, ‘Um Inimigo do Povo’, de Ibsen. Estamos em nosso pior momento. Ainda bem que não comemoraremos mortes como um gol em um GreNal em Porto Alegre.
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