Gravataí e Cachoeirinha precisam restar sob alerta para a “extrema gravidade” do desague no Rio Guaíba da maior enchente da história do Rio Grande do Sul.
O Rio Gravataí é regulado pelo Guaíba. Subiu o Guaíba, represa o Gravataí. Assim, os arroios não conseguem drenar a água. A região da Vila Rica, em Gravataí, pode ser ainda mais atingida.
O acumulado de precipitação, desde sábado, chega a 351mm. Mais de 20 mil pessoas já foram afetadas nos dois municípios e quase 500 estão desalojadas. As duas prefeituras decretaram situação de emergência.
Chamo atenção para as consequências para Gravataí e Cachoeirinha após ler Cheia do Guaíba será muito grave e ficará entre as maiores da história, boletim da manhã desta quinta-feira em que o MetSul Meteorologia, instituto especializado com maior precisão de acerto nas últimas tragédias climáticas gaúchas, faz alerta “para uma cheia de gravidade extrema do Guaíba que deve atingir cotas extremamente altas nos níveis das maiores da história”.
O risco só não é maior porque o Rio Gravataí, que está com 5,20 metros, o dobro do nível normal, é o único dos rios que não apresenta cheia de maior proporção no momento.
Já os principais rios contribuintes, que respondem por mais de 80% da vazão do Guaíba, ou estão com cheia recorde ou de proporções históricas, como informa a MetSul.
– Há risco. Represando o Guaíba, o Gravataí começa a encher a partir da Fiergs – confirmou ao Seguinte: o geólogo Sérgio Cardoso, presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí.
O prefeito Luiz Zaffalon já trabalha com a possibilidade junto ao novo Centro de Operações (COP), instalado segunda-feira para acelerar resposta a eventos climáticos, acidentes e situações de risco.
– A Vila Rica é a área mais sensível. Amapá e Itatiaia depois – confirmou ao Seguinte:.
– Em Morungava está um mar. Depende muito da vazão do Demétrio – lamentou Zaffa, que postou vídeo em vistoria na região, que você assiste clicando aqui.
Fato é que o Arroio Demétrio, com o represamento do Gravataí, não drena a água, mesmo com obras recentes de desassoreamento.
No alerta que embasa este artigo, a MetSul informa que a cheia do Guaíba será de extrema gravidade diante de quadro hidrológico excepcional no interior e, em algumas bacias, sem precedentes.
“O nível do Guaíba no começo da manhã desta quinta-feira estava em 2,70 metros no Cais Mauá e subia muito rapidamente. Entre hoje e amanhã, o Guaíba deverá ultrapassar a cota crítica de transbordamento no Cais do Centro de Porto Alegre, o que não ocorre nesta época do ano desde a grande enchente de 1941”, diz o boletim.
Desde 1941, com cota máxima de 4,76 metros (literatura tem números discrepantes e próximos desta marca), o Guaíba somente excedeu 3,00 metros no Cais Central e, assim, transbordou em meses de fim de inverno e primavera: setembro de 1967 (3,11 metros), setembro de 2023 (3,18 metros) e novembro de 2023 (3,46 metros).
“O cenário hidrológico dos rios que desembocam no Guaíba é da maior gravidade e crítico. Maior contribuinte do Guaíba, o Rio Jacuí teve chuva de 400 mm a 600 mm em uma semana nas nascentes e na parte intermediária da bacia. Dados preliminares indicam que a vazão perto das nascentes, na região de Dona Francisca, é excepcionalmente alta”, explica o boletim, que segue:
“O segundo maior contribuinte, o sistema Taquari-Antas, que desemboca no Jacuí perto de Porto Alegre, apresenta cheia extraordinária e jamais vista em 150 anos de medições. O nível do Taquari na região de Estrela nesta manhã atingia 32 metros, muito acima do recorde de 2023 de 29,5 metros, e segue subindo no vale. A Defesa Civil de Lajeado projeta cotas de 34 metros a 35 metros, portanto, cinco a seis metros acima do recorde de um século e meio. O Rio Caí enfrenta uma cheia histórica”.
A MetSul informa ainda que, na região metropolitana, o Sinos começa a registrar uma grande cheia no Vale e ainda não recebeu a maior vazão das nascentes e o grande volume de água que desce do Paranhana e inundava Igrejinha nesta manhã.
Já o Gravataí é o único dos rios contribuintes que não apresenta cheia de maior proporção no momento. Os principais rios contribuintes, que respondem por mais de 80% da vazão do Guaíba, ou estão com cheia recorde ou de proporções históricas.
“Sob este cenário, que é muito mais claro hoje do que nos dias anteriores, uma vez que já se tem o panorama mais completo da chuva depois da precipitação forte que se previa para ontem e o começo desta quinta, é possível afirmar que a perspectiva que já se tinha de uma cheia grande do Guaíba passou para uma cheia de gravidade extrema”, diz o boletim.
Conforme a MetSul, a cheia pode testar os níveis máximos observados em 2023 e não se descarta mesmo que possa superá-los, colocando em patamares intermediários entre as maiores cheias de 1873 (3,50 metros) e 2023 (3,46 metros) e a de abril e maio de 1941 (4,76 metros).
Ou seja, no melhor e mais remoto cenário o Guaíba apenas supera a marca de 3,00 metros, o que já é excepcional, e no pior a cheia atingirá marcas intermediária entre 1873-2023 e 1941.
“Se o robusto sistema de contenção de cheias (Muro da Mauá e diques) funcionar como foi planejado e à perfeição, o Guaíba não invadirá a cidade. Mesmo assim, pelo refluxo na rede pluvial, podem ocorrer alagamentos nas áreas próximas da Voluntários da Pátria entre o Quarto Distrito e a Rodoviária assim como na região na Praia de Belas”, alerta o boletim, concluindo:
“O Guaíba pode avançar em áreas sem contenção, como Ipanema e o extremo Sul da cidade. A muito grave cheia do Guaíba deve represar o Arroio Feijó, causando inundações na zona Norte e em Alvorada assim como pode represar o Rio Gravataí entre Gravataí e Cachoeirinha, com alagamentos e inundações. Em Canoas, a situação pode ficar crítica porque a cidade sofrerá os efeitos da grande cheia do Guaíba com represamentos dos rios Caí e Sinos, com grandes cheias, em cenário mais perto do evento de 1965, o maior, do que de 2023”.
Ao fim, frente à tragédia climática, alguns apelam a Deus. Mas a responsabilidade é dos homens.
Sim, o momento é de unir forças para resgatar flagelados, enterrar vítimas e depois reconstruir cidades.
Mas se não entendermos que já vivemos um ‘novo normal’ ambiental, de crise climática, ainda mais no RS esmagado pelo frio do Polo Sul e o calor da Amazônia, que exige investimentos massivos dos governos municipais, estaduais e federais, apenas montaremos um lego (ainda em áreas de risco e de ‘manchas de inundação’) para a natureza destruir.
O custo para Gravataí já analisei ontem em Obras anti-alagamento custam investimento dos últimos quatro anos em toda Gravataí; Você está pronto para essa conversa?.
Para além de sistemas de prevenção e socorro, é preciso enterrar canos pelos próximos 10 anos, o que para muitos – políticos e eleitores – realização não parece.