RAFAEL MARTINELLI

Gravataí e Cachoeirinha tem aulas suspensas, polêmica sobre antecipação do recesso e pelo menos 1,7 mil servidores atingidos pelas inundações – mas ajudando; O ano perdido

Criança em atividade organizada por professores e voluntários em abrigo de Gravataí

As aulas em Gravataí e Cachoeirinha estão suspensas até, pelo menos, sexta-feira devido à maior catástrofe climática da história do Brasil. As secretarias da educação não descartam uma antecipação do recesso.

Cachoeirinha chegou a anunciar a medida pelas redes sociais, mas recuou e a secretária Isabel Fonseca conversa com diretores na tarde desta segunda-feira.

– É preciso lembrar que o recesso é do aluno. O professor tem 30 dias de férias em janeiro e, apesar de nunca ter acontecido, pode ser convocado em dezembro ou fevereiro – observa a professora, que aposta no diálogo com um funcionalismo também impactado pelas inundações.

Também professora e hoje à frente do abrigo criado na escola municipal Olenca Valente, que recebe quase 150 moradores da Vila Rica, um dos bairros mais alagados de Gravataí, a secretária Aurelise Braun respondeu ao Seguinte: pelo WhatsApp.

“A situação climática atual não nos permite fazer um planejamento a longo prazo. Nesse momento estamos verificando alternativas que não precisem utilizar os 5 dias de recesso, mas talvez a situação precise ser revista futuramente. É preciso aguardar normatização do Cmeg (conselho de educação) sobre as possibilidades de recuperação da carga horária, e também avaliar a situação com empatia pelos alunos e professores, levando em conta a qualidade de ensino dessa futura recuperação”, escreveu, concluindo:

“Pretendo fazer uma consulta aos servidores da educação para verificar qual proposta de recuperação será a mais votada, como já fazemos com o calendário escolar”.


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Professores e funcionários dos dois municípios estão entre flagelados, mas ainda trabalhando, convocados ou voluntários. Em Cachoeirinha, 321 entre os 3 mil servidores responderam ter perdido a casa e outros bens, em pesquisa feita pelo sindicato dos municipários (Simca).

Em Gravataí, 1.400 entre 5 mil já responderam a pesquisa feita pelo sindicato dos professores (Spmg), informando ou estar fora de casa, ou ter dificuldade de acesso ao municípios.

Além dos residentes em bairros evacuados em Gravataí e Cachoeirinha, parte do funcionalismo tem moradia em cidades atingidas pelas inundações, como Canoas, Porto Alegre, São Leopoldo e Eldorado do Sul.

Os dois sindicatos buscam com os governos municipais programas de incentivo, como antecipação do 13º e pagamento de licenças-prêmio.

– Não concordamos com antecipação do recesso, que é um direito dos alunos e servidores. O Conselho Nacional de Educação já trabalha plano para recuperação das aulas – antecipa Vitalina Gonçalves, presidente do Spmg.

– É uma questão polêmica. Vamos dialogar – diz Val Moreira, presidente do Simca.

A quem esteja a entender que professores e servidores estão precupados com ‘férias’, apelo: esqueça esse pensamento mais do que injusto, abjeto.

Além de muitos estarem na casa de parentes, ou mesmo abrigados, em mais da metade dos quase 100 abrigos cadastrados ou não de Gravataí e Cachoeirinha, professores e servidores estão na linha de frente.

Arrisco dizer que, fossem retomadas hoje as aulas, as prefeituras desorganizariam os abrigos. Há servidores cuidando inclusive da alimentação balanceada não só para crianças, mas para todos abrigados.

– É impressionante a adesão e dedicação dos servidores públicos – reconhece a secretária Isabel Fonseca, que conta que há, entre essa rede de voluntariado, um entendimento de não usar as redes sociais para demonstrar esse trabalho, para não expor pessoas fragilizadas.

Ao fim, assim como na pandemia, a catástrofe vai contaminar, ou melhor, já contamina, e bastante, toda comunidade escolar e, como conseqüência, os índices educacionais. Infelizmente, 2024 deve ser um ano perdido.


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