sua saúde

Gravataí é uma cidade de pessoas gordas

Dona de casa Selma Meirelles frequenta o CENQ há um ano e baixou, de 116 quilos, para pouco mais de 100. Meta é chegar aos 70 quilos.

O município de Gravataí vive uma realidade preocupante: Entre os adultos, mesmo que não exista uma estatística oficial, a estimativa é de que uma em cada cinco pessoas esteja acima do peso. A obesidade, considerada uma doença pelo Ministério da Saúde, saltou de 11,8% da população em 2006 para 18,9% em 2016.

E Gravataí seguiu esta tendência, de acordo com a secretaria municipal da Saúde, por causa principalmente das mudanças que aconteceram nesta década como as alterações introduzidas no estilo de vida das pessoas e os hábitos alimentares cada vez menos saudáveis.

E a preocupação se justifica também, mesmo sem uma avaliação nutricional envolvendo toda a população, pela constatação de que entre as crianças com até 10 anos mais de 50% tem sobrepeso e obesidade, uma situação que tem aumentando nos últimos tempos e que é consequência do chamado ‘ambiente obesogênico’.

— Consequência dos novos tempos, da vida corrida em que as pessoas acabam optando por alimentos nem tão saudáveis, mesmo para as crianças. E junto com a obesidade vão surgindo os outros problemas relacionados à saúde como diabetes e hipertensão, principalmente — explica a nutricionista coordenadora do Centro Especializado em Nutrição e Qualidade de Vida (CENQ), Margarete Tavares Kayser.

O objetivo do CENQ, que fica na rua Quintino Bocaiúva, 183, é realizar acompanhamento especializado e multidisciplinar aos usuários que apresentem risco nutricional e – ou – comorbidades associadas. Especificamente no que se refere ao sobrepeso e à obesidade, desenvolve o programa Viva Mais Leve, para adultos de 18 a 60 anos.

O Viva Mais Leve é, em Gravataí, o programa que trata as pessoas para reverter a estatística de aumento das pessoas com problemas de saúde como sobrepeso e obesidade. Tem nutricionistas, psicólogos e educadores físicos que trabalham para motivar a pessoa ao ponde aderir à reeducação alimentar e prática de atividades físicas, periodicamente.

Os atendimentos – consultas – são individuais, acontecem reuniões periódicas com grupos nos quais palestrantes falam sobre a doença, além das atividades físicas. Hoje são atendidos pelo menos cinco grupos formados inicialmente por 40 pessoas. Nem todos se mantém como participantes ativos, por isso o total de pessoas atendidas não chega aos 200 que o CENQ tem capacidade.

 

Tripé do programa

 

A psicóloga Irene Jaques Alano, do CENQ e que atua diretamente no Viva Mais Leve, diz que sua função é dar apoio ao paciente para que ele mude seus hábitos comportamentais. Ela é um dos três pilares – alimento, comportamento e movimento – que norteiam o programa.

E ela explica o que é mudar o comportamento:

— É melhor subir três andares pelo elevador ou pela escada? O fulano diz que é pelo elevador, e o que fazemos aqui é motivar a pessoa para refletir de tal forma a concluir que o melhor é utilizar a escada, por uma série de razões.

O mesmo se aplica ao tema da alimentação, na maioria das vezes uma questão alimentar, que as pessoas trazem ‘de berço’ por origens e costumes dos familiares, especialmente os pais, ou pela forma como foram educadas, por exemplo, aquelas que sofriam pressões do tipo ‘só sai da mesa depois que comer tudo’, ou ‘só vai ganhar sobremesa se deixar o prato limpo’.

Mas as mudanças não são tão facilmente assimiladas.

— As pessoas chegam aqui já adultas, e há essa questão de cultura, de valores familiares que interferem nas questões afetivas. Nosso trabalho com os grupos tem duração de um ano, mas é preciso que o paciente continue trabalhando estes temas para se dar conta que a obesidade é uma doença crônica — diz Irene.

 

Empurrando com a barriga

 

A obesidade é multifatorial, explica a nutricionista Maria de Fátima Silveira, que também trabalha no Viva Mais Leve. Daí a necessidade de ser feita a intervenção em vários fatores da vida de cada paciente. E isso demanda tempo, por não há mágica para que sejam produzidos efeitos como em ‘um piscar de olhos’.

— A pessoa que quer deixar de ser obesa e recuperar pelo menos parte da sua qualidade de vida tem que se vincular ao grupo para perceber que há outras pessoas com a mesma dificuldade de enfrentar as batalhas diárias no sentido de combater a obesidade — diz Fátima.

Por isso ela deve participar das atividades do grupo, que é quando são abordados temas, por profissionais de diversas áreas ligadas ao tema. Fátima conta que nestes encontros dá ênfase à reeducação alimentar. A pessoa tem que aprender a comer de forma, na quantidade e o alimento correto, segundo a nutricionista.

Os hábitos de cada paciente são discutidos e abordados, segundo ela, de forma a promover esta reeducação levando em conta o histórico familiar, os hábitos e costumes que ele adquiriu quando criança ou adolescente.

— A ideia é resgatar os valores que a pessoa tem, sem desprezá-los, mas dando um outro olhar para a situação. Por isso que trabalho com aquele alimento que o paciente diz que costuma fazer parte da sua alimentação. Com estes dados é que vou fazer minha intervenção.

Este trabalho, de acordo com Fátima, envolve o tratamento de diabetes através da seleção dos alimentos, e serve também para combater ou cuidar da pressão arterial, ácido úrico e, principalmente, uma questão que é muito comum entre as pessoas nesta situação, que é uma baixa autoestima.

— É um trabalho de equipe. Nós passamos as estratégias que a pessoa precisa para enfrentar a obesidade que é uma prisão! As pessoas se sentem presas e impotentes diante desta dificuldade. E como a obesidade é algo que não dói, a gente vai empurrando, literalmente, com a barriga — diz Maria de Fátima.

 

A globalização

 

O brasileiro importa moda. E se espelha, por exempli, nos norte-americanos, quando se trata da questão alimentar. A nutricionista Maria de Fátima Silveira aponta um culpado: a globalização. O acesso à informação permite adquirir hábitos do que é consumido em outras partes do mundo.

Ao mesmo tempo em que são deixados de lado costumes tradicionais do brasileiro como ter à mesa a mistura do arroz com feijão. Trata-se segundo a nutricionista de uma “mistura perfeita para a refeição das pessoas” que já foi praticamente substituída pelas famílias que passaram a fazer escolhas, as vezes erradas, do que comer no dia a dia.

 

Aeróbios e anaeróbios

 

O educador físico do programa Viva Mais Leve, Antônio Francisco da Silva Júnior, explica que as atividades física dos grupos que querem deixar de ser obesos variam conforme a pessoa, e diversos fatores são levados em consideração, mas principalmente sua situação clínica, e para isso é feita uma avaliação médica.

A prioridade, entre os pacientes aptos, são os exercícios aeróbios que têm a finalidade de promover a queima de calorias, e os anaeróbios que fortalecem a musculatura e reduzem o risco de lesões. Os exercícios são realizados em salas na sede do CENQ ou com caminhadas orientadas, nas imediações do Centro.

— A atividade física é muito importante, também, para alcançar as boas condições que a pessoa almeja. Tendo um bom condicionamento o paciente vai ter mais facilidade para realizar o exercício, chegando mais facilmente ao seu propósito e com menor risco de lesões.

 

A luta de Selma

 

A dona de casa Selma da Silva Meirelles, de 56 anos, frequenta o CENQ há cerca de um ano e diz que procurou ajuda para reduzir o peso. Ela começou a fazer parte de um dos grupos com quando tinha 116 quilos e, agora, tem 101,5 quilos. Ela alimenta uma meta audaciosa, que é baixar o peso para algo em torno dos 70 quilos.

Para atingir o objetivo, Selma conta que segue rigorosamente o programa de reeducação alimentar prescrito e de atividades físicas. Aliás, os exercícios não ficam limitados ao CENQ, já que ela realiza caminhadas duas vezes por dia, quase todos os dias da semana.

E como Selma chegou aos 116 quilos?

— Comodidade! Comidas que estão em desacordo com um cardápio correto como muita fritura e refrigerante. A gente não pensa que vai engordar e eu sempre fui uma pessoa que me olhava no espelho e não me achava gorda. Até que meu marido disse que eu deveria procurar ajuda porque estava muito obesa. Aí que me dei conta da minha situação — relata a dona de casa.

Hoje Selma cuida da alimentação, consumindo mais frutas e legumes além das comidas tradicionais na porção certa. De origem italiana, ela conta que a família tem especial predileção por carnes e massas, comidas gordurosas em geral, e garante que quando era jovem não era uma mulher obesa.

— Nunca fui gorda antes. Quando eu casei tinha 17 anos e pesava apenas 50 quilos. A obesidade veio com o passar do tempo, com a gravidez e a falta de atenção, de cuidado para comigo mesma.

 

O preconceito

 

Selma diz que a preguiça é um dos fatores que leva a pessoa a se tornar obesa. A preguiça reside em não dispensar atenção e cuidados para com o próprio corpo e não observar os sinais de que a obesidade é uma doença que pode ter desdobramentos e provocar outras moléstias, tão ou mais graves quanto.

Além disso, ela afirma que como obesa enfrentou situações difíceis e que o preconceito é algo constante na vida destas pessoas.

— Dependendo da loja, quando tu entra as pessoas já ficam te cuidando como se estivesse dizendo que ali não tem o que a gente procura. Ou num ônibus, dificilmente senta uma outra pessoa no lado da gente. Quem é que vai querer sentar num lado de um gordo que está praticamente ocupando todo o assento?

Atualmente a realidade mudou para Selma. Ela diz que se sente melhor, está mais satisfeita com seu condicionamento físico.

— Estou muito melhor, não tem nem comparação. O que eu quero comprar, entro na loja sem receios, experimento e se serve eu levo. Antes, mesmo que fosse a uma loja sem intenção de comprar, já era vista pelas pessoas de outra forma, como se estivessem te acusando.

 

O brasileiro come ‘com os olhos’?

Fátima:

— Todos nós comemos com os olhos. É a primeira sensação, a mensagem que vai para o cérebro: opa, chegou comida! Só que existe comer com os olhos, como se diz no popular, ou comer bem, não significa necessariamente comer tudo e em grandes quantidades. É preciso saber diferenciar que podemos comer de tudo, mas não podemos comer tudo.

 

Gravataí é mesmo uma cidade de obesos?

Fátima:

— Gravataí refle os índices do país. Se no país os índices estão aumentando de forma acentuada e rápida, isso acontece aqui também porque na verdade estes índices foram buscados também aqui na nossa cidade.

 

Para deixar de ser gordo

 

Para fazer parte dos grupos atendidos no programa Vida Mais Leve, a pessoa tem que atender alguns pré-requisitos:

– Ter entre 18 e 60 anos

– Ter Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 30

– ter disponibilidade para participar das atividades programadas

– Ser morador de Gravataí

 

O CENQ

Em 2003 foi criado um centro para atendimento da nutrição.

Em 2006 passou a se chamar Centro Especializado em Nutrição e Qualidade de Vida.

 

Os profissionais do Viva Mais Leve

Margarete Tavares Kayser – nutricionista e coordenadora do Centro Especializado em Nutrição e Qualidade de Vida

Irene Jaques Alano – psicóloga

Maria de Fátima Silveira – nutricionista

Antônio Franciso da Silva Júnior – educador físico

Joana Callai Schwerz – endocrinologista

: A partir da esquerda, parte da equipe: Margarete, Antônio Francisco, Maria de Fátima e Irene Alano

 

As 10 principais causas da obesidade

 

1

Genética

A obesidade tem um componente genético forte. Logo, descendentes de pais obesos são muito mais propensos a se tornarem obesos, se comparados com os descendentes de pais magros. Isso não quer dizer que a obesidade seja pré determinada. Os sinais enviados pelos genes podem ter um efeito importante, sobre quais genes são expressos e quais não são. Sociedades não-industrializadas, rapidamente ficam obesas, quando começam com uma dieta típica ocidental. A genética não se altera, o ambiente e os sinais enviados por eles para os seus genes, alteram. Parece claro que existem componentes genéticos que afetam a nossa suscetibilidade a ganhar peso. Estudos sobre gêmeos idênticos demonstram isso muito bem.

 

2

Engenharia do “Hiper Sabor”

Hoje , os alimentos são refinados com ingredientes misturados e um monte de produtos químicos. Estes produtos são projetados para custar menos, terem um tempo maior de prateleira e um sabor incrivelmente bom para comermos mais. Ao produzir alimentos  com “hiper sabor”, os fabricantes apostam em fazer o consumidor se viciar em consumir aquele produto. Os alimentos processados ​​não se parecem com comida, são produtos altamente projetados, com orçamento e lucro antes da ‘comida’ em si.

 

3

Vício em Comida

Estes alimentos de lixo altamente projetados para causar um estímulo poderoso de recompensa em nossos cérebros. Sabe o que isso causa? o mesmo que as drogas de abuso como álcool, cocaína, nicotina e cannabis. O fato é que a junk food pode causar vício nos indivíduos suscetíveis. As pessoas perdem o controle sobre seu comportamento alimentar, da mesma maneira como os alcoólicos perdem o controle sobre seu comportamento em beber. O vício é uma questão complexa, com uma base biológica que pode ser muito difícil de superar. Quando você se torna viciado em algo, você perde sua liberdade de escolha.

 

4

Marketing Agressivo (Especialmente o Infantil)

As empresas de alimentos processados são agressivas e antiéticas, fazem alegações enganosas e gastam grande quantidade de dinheiro com os principais cientistas, influenciando as suas pesquisas e orientações. As empresas de junk food e fast food são ainda piores do que as companhias de tabaco já foram, porque o alvo do comércio afeta especificamente as crianças, que estão ficando cada vez mais obesas, diabéticas e viciadas nesses produtos, antes que tenhas idade suficiente para tomares sua próprias decisões conscientes.

 

5

Insulina

A insulina é um hormônio muito importante, que regula o armazenamento de energia, entre outras coisas, uma das funções da insulina é contar as células de gordura e a dieta ocidental provoca alguma resistência à insulina. Em muitos indivíduos, os níveis de insulina aumentam, fazendo com que a energia fique armazenada nas células de gordura, em vez de estar disponível. A melhor maneira de diminuir a insulina é cortar os carboidratos, o que geralmente leva a uma redução automática da ingestão de calorias e perda de peso sem esforço, sem contagem de calorias ou porção de controle.

 

6

Causa Secundária de Alguns Medicamentos

Existem muitos medicamentos farmacêuticos que aumentam o ganho de peso, como uma causa secundária. Para dar exemplos, os medicamentos para diabetes, antidepressivos, antipsicóticos etc. Essas drogas não causam “deficiência na força de vontade”  – elas alteram as funções do corpo e cérebro, seletivamente acumulando as gorduras, ao invés de serem usadas como energia.

 

7

Leptina

Outro hormônio crucial para a obesidade é a leptina. Este hormônio é produzido pelas células de gordura e enviam sinais para o hipotálamo (a parte do nosso cérebro que controla a ingestão de alimentos), que aponta quando estamos cheios e precisamos parar de comer. As pessoas obesas têm muita gordura e muita leptina. O problema é que a leptina não funciona como devia, pois por algum motivo, o cérebro resiste a ela. Isso é chamado de resistência à leptina e pode ser o fator principal na patogênese da obesidade.

 

8

Disponibilidade de Comida

Um fator que está engordando a população mundial é a enorme disponibilidade de alimentos, em especial, a de junk food e fast food, que está em toda parte. Até postos de gasolina vendem alimentos e normalmente, são produtos como barras de chocolate em áreas que maximizam as chances de compra por impulso. Outro problema relacionado com a disponibilidade é que muitas vezes, essas comidinhas rápidas, são mais em conta do que a comida de verdade, no Estados Unidos então… Algumas pessoas nos bairros mais pobres, nem sequer têm a opção de comprar alimentos reais. As lojas de conveniência nessas áreas só vendem refrigerantes, doces e alimentos processados, embalados. Como é que pode ser uma questão de escolha se você literalmente não tenho escolha?

 

9

Açúcar

O açúcar é a pior parte da dieta moderna. A razão é que, quando consumido em excesso, o açúcar altera os hormônios e bioquímica do corpo, contribuindo para o aumento de peso. A adição de açúcar é metade glicose e a outra metade frutose. Obtemos glicose a partir de todos os tipos de alimentos, incluindo amidos, mas a maior é a frutose dos açúcares adicionados. O excesso de consumo de frutose provoca resistência à insulina, níveis elevados de insulina e ainda causar resistência à leptina, pelo menos em ratos. Além disso, não provoca saciedade, da mesma forma como a glicose. Todos estes fatores contribuem para o armazenamento de energia, logo, a obesidade .

 

10

Desinformação

O mundo está sendo mal informado sobre saúde e nutrição. A principal razão para isso é que as empresas de alimentos patrocinam cientistas e as principais organizações de saúde. Por exemplo, a Academia de Nutrição e Dietética (a maior organização de profissionais de nutrição no mundo) é fortemente patrocinada pela Coca Cola, Kellogg e Pepsico. A American Diabetes Association é patrocinada com milhões de dólares por ano pelas empresas farmacêuticas, que lucram diretamente como o conselho errônea sobre as dietas de baixa gordura. Até as diretrizes oficiais promovidos pelo governo parecem serem organizadas para proteger os interesses de promover a saúde dos indivíduos pelas corporações. Como as pessoas fazem as escolhas certas, se estão sendo constantemente influenciadas por governo, organizações de saúde?

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