Em sua primeira live em meio à maior catástrofe da história do Brasil, o prefeito Luiz Zaffalon descreveu Gravataí como uma “ilha” frente ao inferno vivido por outros municípios da região metropolitana e interior gaúcho.
Zaffa repetiu o que disse em entrevista ao Seguinte: nesta segunda-feira; leia em A maior catástrofe da História do Brasil: Gravataí, entre o socorro aos seus e outros, e as necessidades do futuro; Ninguém fica para trás.
Gravataí se tornou hoje um polo de solidariedade. Uma ‘ilha do bem’. Das mais de duas mil vagas abertas em 31 abrigos públicos e voluntários, apenas 100 são gravataienses. Há abrigados de Canoas, Eldorado do Sul e Porto Alegre.
– Há pessoas que perderam tudo e podem ficar aqui por até 6 meses – projetou Zaffa, que apresentou um plano em três fases: o do socorro emergêncial, cumprido até segunda; o da manutenção das milhares de pessoas que chegam a Gravataí resgatadas do ‘Grande Rio da Região Metropolitana’, que está em curso, e a fase mais importante para as atuais e futuras gerações: a reconstrução e as obras de prevenção – que, conforme estudos preliminares do Plano Diretor de Drenagem Urbana, custam R$ 300 milhões, como já detalhei em Obras anti-alagamento custam investimento dos últimos quatro anos em toda Gravataí; Você está pronto para essa conversa?.
O pix oficial da Prefeitura é o smfcas.bancodeslimentos.rs.gov.br. Os pontos de arrecadação de doações você acessa nas redes sociais da Prefeitura.
A Secretaria da Saúde tem duas equipes volantes para atender aos abrigos. UPAs e postos de saúde seguem abertos, com problemas pontuais no São Judas e Morada do Vale, que estão com abastecimento apenas por caaminhões-pipa.
O Hospital Dom João Becker opera com atendimento restrito, principalmente pela dificuldade de acesso dos profissionais de saúde. Há relatos de uma demora de até 4h para acessar o município pela ERS-118.
Em Gravataí, foram evacuadas áreas alagadas apenas nos bairros São Judas Tadeu, Vila Rica, ValeVille e Parque dos Anjos. Pelo número de pontos de luz desligados por risco de energização da água, é possível aproximar o número de pessoas que precisaram deixar suas casas: 5260, conforme a RGE. Multiplicando pelo tamanho médio das famílias, até se ultrapassa as 12 mil pessoas calculadas pela Prefeitura.
São famílias que deixaram suas residências quando a inundação chegou, ou foram resgatadas pelos quatro barcos da Prefeitura ou as dezenas de embarcações de voluntários.
– Investimos muito. Não fossem obras de drenagem e dessassoreamento de arroio, seria muito pior, avaliou o prefeito na live ao lado do vice, Dr. Levi Melo, do presidente da Câmars, Alex Peixe, e dos secretários Régis Fonseca (Saúde), Aurelise Brauns (Educação), Guilherme Ósio (Obras e Mobilidade Urbana) e Laone Pinedo (Serviços Urbanos).
Assista nas redes sociais da Prefeitura.
Além do drama das milhares de famílias que só tem a certeza de não ter perdido o bem maior, a vida, o principal problema da cidade é a falta de água, entre Cachoeirinha e a parada 72. A água parou de vir de Canoas com o colapso no município vizinho onde a cada 20 pessoas 1 precisou subir num barco para não ser dragada pela inundação.
Só a estação de tratamento da Cavalhada ainda serve a Grande Porto Alegre – e porque a água não avançou mais 20 centímetros, o que poderia levar ao desligamento. Caminhões-pipa fazem o abastecimento.
– Vai perdurar alguns dias – alerta o prefeito, que acompanha junto à Corsan as tentativas de religamento da estação de Gravataí.
As aulas nas escolas municipais e estaduais restam suspensas até sexta. Nas particulares, depende da escolas. Nenhum colégio sofreu danos graves com as cheias. Na Vila Rica, a Olenca Valente inclusive abriga 96 pessoas do bairro alagado.
O transporte público municipal só não atende áreas de difícil acesso, devido aos alagamentos ou estradas destruídas no interior. O intermunicipal não liga mais a Porto Alegre. Só os TMs ultrapassam fronteiras de Gravataí. A ERS-118, engarrafada praticamente 24h, é a única ‘ponte’.
O recolhimento de lixo está sendo normalizado. No pico da crise os resíduos foram armazenados na estação da Santa Tecla, devido ao bloqueio da BR-290 que impedia caminhões de chegarem a Minas do Leão, mas desde ontem já é possível depositar emergencialmente em São Leopoldo, também alagada.
Além de denúncias sobre furtos no ValeVille alagado, não há ocorrências extraordinária como saques.
– Cuidem com as fake news – apelou o prefeito.
Ao fim, como observei no artigo anterior, Gravataí está em um círculo menor do Inferno de Dante que vive o Rio Grande do Sul. Trágico, para quem perdeu tudo, principalmente os pobres de sempre, mas nada que tenha afogado as força da solidariedade de um povo.
Gravataí é hoje uma ‘ilha do bem’. Talvez a capital da solidariedade do Rio Grande do Sul. Para se ter uma ideia, todo abastecimento da Ceasa para a Grande Porto Alegre começa a ser feito a partir de hoje no município, no centro logístico das Farmácias São João. A unidade de saúde animal, após resgatar centenas de cães, gatos, cavalos e até porcos e bodes, hoje circula cidades vizinhas prestando resgates.
As cobranças políticas, aqui mais pelo que precisa ser feito a longo prazo, do que pelo que se deixou de fazer, mas principalmente em municípios vizinhos, como sobre homicídios no mínimo culposos na Grande Porto Alegre, faremos no momento apropriado.
:
Peço escusas aos leitores pela redução de postagens da coluna, mas estou às margens de zona de catástrofe, com dificuldades de conexão por internet, sem luz e água e 24 animais em casa, entre meus e abrigados da inundação.