RAFAEL MARTINELLI

Gravataí é uma ilha em meio ao Grande Rio da Região Metropolitana. Uma ‘ilha do bem’; entenda o cenário

Em sua primeira live em meio à maior catástrofe da história do Brasil, o prefeito Luiz Zaffalon descreveu Gravataí como uma “ilha” frente ao inferno vivido por outros municípios da região metropolitana e interior gaúcho.

Zaffa repetiu o que disse em entrevista ao Seguinte: nesta segunda-feira; leia em A maior catástrofe da História do Brasil: Gravataí, entre o socorro aos seus e outros, e as necessidades do futuro; Ninguém fica para trás.

Gravataí se tornou hoje um polo de solidariedade. Uma ‘ilha do bem’. Das mais de duas mil vagas abertas em 31 abrigos públicos e voluntários, apenas 100 são gravataienses. Há abrigados de Canoas, Eldorado do Sul e Porto Alegre.

– Há pessoas que perderam tudo e podem ficar aqui por até 6 meses – projetou Zaffa, que apresentou um plano em três fases: o do socorro emergêncial, cumprido até segunda; o da manutenção das milhares de pessoas que chegam a Gravataí resgatadas do ‘Grande Rio da Região Metropolitana’, que está em curso, e a fase mais importante para as atuais e futuras gerações: a reconstrução e as obras de prevenção – que, conforme estudos preliminares do Plano Diretor de Drenagem Urbana, custam R$ 300 milhões, como já detalhei em Obras anti-alagamento custam investimento dos últimos quatro anos em toda Gravataí; Você está pronto para essa conversa?.

O pix oficial da Prefeitura é o smfcas.bancodeslimentos.rs.gov.br. Os pontos de arrecadação de doações você acessa nas redes sociais da Prefeitura.

A Secretaria da Saúde tem duas equipes volantes para atender aos abrigos. UPAs e postos de saúde seguem abertos, com problemas pontuais no São Judas e Morada do Vale, que estão com abastecimento apenas por caaminhões-pipa.

O Hospital Dom João Becker opera com atendimento restrito, principalmente pela dificuldade de acesso dos profissionais de saúde. Há relatos de uma demora de até 4h para acessar o município pela ERS-118.

Em Gravataí, foram evacuadas áreas alagadas apenas nos bairros São Judas Tadeu, Vila Rica, ValeVille e Parque dos Anjos. Pelo número de pontos de luz desligados por risco de energização da água, é possível aproximar o número de pessoas que precisaram deixar suas casas: 5260, conforme a RGE. Multiplicando pelo tamanho médio das famílias, até se ultrapassa as 12 mil pessoas calculadas pela Prefeitura.

São famílias que deixaram suas residências quando a inundação chegou, ou foram resgatadas pelos quatro barcos da Prefeitura ou as dezenas de embarcações de voluntários.

– Investimos muito. Não fossem obras de drenagem e dessassoreamento de arroio, seria muito pior, avaliou o prefeito na live ao lado do vice, Dr. Levi Melo, do presidente da Câmars, Alex Peixe, e dos secretários Régis Fonseca (Saúde), Aurelise Brauns (Educação), Guilherme Ósio (Obras e Mobilidade Urbana) e Laone Pinedo (Serviços Urbanos).

Assista nas redes sociais da Prefeitura.

Além do drama das milhares de famílias que só tem a certeza de não ter perdido o bem maior, a vida, o principal problema da cidade é a falta de água, entre Cachoeirinha e a parada 72. A água parou de vir de Canoas com o colapso no município vizinho onde a cada 20 pessoas 1 precisou subir num barco para não ser dragada pela inundação.

Só a estação de tratamento da Cavalhada ainda serve a Grande Porto Alegre – e porque a água não avançou mais 20 centímetros, o que poderia levar ao desligamento. Caminhões-pipa fazem o abastecimento.

– Vai perdurar alguns dias – alerta o prefeito, que acompanha junto à Corsan as tentativas de religamento da estação de Gravataí.

As aulas nas escolas municipais e estaduais restam suspensas até sexta. Nas particulares, depende da escolas. Nenhum colégio sofreu danos graves com as cheias. Na Vila Rica, a Olenca Valente inclusive abriga 96 pessoas do bairro alagado.

O transporte público municipal só não atende áreas de difícil acesso, devido aos alagamentos ou estradas destruídas no interior. O intermunicipal não liga mais a Porto Alegre. Só os TMs ultrapassam fronteiras de Gravataí. A ERS-118, engarrafada praticamente 24h, é a única ‘ponte’.

O recolhimento de lixo está sendo normalizado. No pico da crise os resíduos foram armazenados na estação da Santa Tecla, devido ao bloqueio da BR-290 que impedia caminhões de chegarem a Minas do Leão, mas desde ontem já é possível depositar emergencialmente em São Leopoldo, também alagada.

Além de denúncias sobre furtos no ValeVille alagado, não há ocorrências extraordinária como saques.

– Cuidem com as fake news – apelou o prefeito.

Prefeito e Pedro Brair, presidente da São João, na abertura da Ceasa em Gravataí

Ao fim, como observei no artigo anterior, Gravataí está em um círculo menor do Inferno de Dante que vive o Rio Grande do Sul. Trágico, para quem perdeu tudo, principalmente os pobres de sempre, mas nada que tenha afogado as força da solidariedade de um povo.

Gravataí é hoje uma ‘ilha do bem’. Talvez a capital da solidariedade do Rio Grande do Sul. Para se ter uma ideia, todo abastecimento da Ceasa para a Grande Porto Alegre começa a ser feito a partir de hoje no município, no centro logístico das Farmácias São João. A unidade de saúde animal, após resgatar centenas de cães, gatos, cavalos e até porcos e bodes, hoje circula cidades vizinhas prestando resgates.

As cobranças políticas, aqui mais pelo que precisa ser feito a longo prazo, do que pelo que se deixou de fazer, mas principalmente em municípios vizinhos, como sobre homicídios no mínimo culposos na Grande Porto Alegre, faremos no momento apropriado.

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Peço escusas aos leitores pela redução de postagens da coluna, mas estou às margens de zona de catástrofe, com dificuldades de conexão por internet, sem luz e água e 24 animais em casa, entre meus e abrigados da inundação.

Unidade de saúde animal de Gravataí faz trabalho modelo em toda região

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