A política de Gravataí não anda tão feia como essa coisa –– ou thing –– que a gente testemunha país afora.
(Aviso: o artigo não é para quem chama o governador Eduardo Leite de ‘esquerdista’ ou o presidente Lula de ‘comunista’. Estes podem vazar e achar alguma feira de gado para vaiar. A reflexão é para aqueles que ainda conseguem reconhecer as instituições e a democracia como o único caminho –– mesmo seja apenas o melhor entre os piores –– para a política entregar resultados a pessoas livres).
Três episódios nas últimas semanas demonstram que políticos da quarta economia gaúcha não se permitem inclusos apenas na fake news do A ou B.
Vamos a eles.
Na quinta-feira, 28, a Câmara de Vereadores realizou sessão solene em homenagem às “Empresas e Entidades Gravataienses – edição 2025”. Cada um dos 21 parlamentares tinha direito a indicar homenageado.
Ao premiar KAHLE & BITENCOURT ADVOGADOS ASSOCIADOS, um dos principais escritórios de advocacia do Rio Grande do Sul e que atua há 38 anos em Gravataí, a vereadora do PT Vitalina Gonçalves, a mais incontestável oposição ao governo no legislativo municipal, chamou para a foto o prefeito Luiz Zaffalon (PSD), o vice-prefeito Dr. Levi Melo (Podemos) e o presidente da Câmara, Clebes Mendes (PSDB).
Parece bobagem dar destaque a isso, mas o acontecimento não é regra –– é exceção. Dentro e fora do plenário, o zum-zum de surpresa só serviu de comprovação.
Resta cringe aquela figura do político eleito como representante do povo (que, após o resultado das urnas, sabe-se funcionário de todos –– inclusive da gente que o despreza e posta “este não me representa”).
A foto que ilustro o artigo é da homenagem ao KAHLE & BITENCOURT ADVOGADOS ASSOCIADOS, por ser um bom exemplo da política aplicada ao cidadão, a contribuintes, a empreendedores.
Sigamos, agora com causos mais políticos.
Na sexta, 5, a Câmara lançou a Frente Parlamentar de Resiliência Climática e Sustentabilidade, que tem como presidente Vitalina e como relator Dilamar Soares (Podemos).
Lá também estavam o presidente Clebes e o vereador Cláudio Ávila (União Brasil). O deputado estadual Dimas Costa (PSD), em agenda pelo interior, enviou representante: o ex-vice-prefeito Cristiano Kingeski.
Simbólico: a mesa principal tinha um dos secretários que, pela competência, o prefeito Zaffa mais gosta, Guilherme Ósio (Parcerias, Projetos e Captação de Recursos), além do secretário-adjunto de Meio Ambiente, Sustentabilidade e Bem Estar Animal, Diego Moraes.
Logo depois, iniciou audiência pública promovida pela Comissão de Segurança da Assembleia Legislativa, por iniciativa do deputado estadual Miguel Rossetto (PT), para tratar dos investimentos de R$ 2,9 bilhões do PAC para obras de resiliência climática na Bacia Hidrográfica do Rio Gravataí.
A tríade se completou nesta segunda.
A Comissão Externa da Câmara dos Deputados criada para acompanhar feminicídios no Rio Grande do Sul promoveu audiência pública em Gravataí, também na Câmara.
Além da presidente Fernanda Melchionna (PSOL), das integrantes da comissão Maria do Rosário (PT) e Daiana Santos (PCdoB) e da deputada estadual petista Laura Sito, prestigiaram a audiência a deputada estadual de Gravataí Patrícia Alba (MDB) –– esposa de Marco Alba, ex-prefeito e adversário de Zaffa na eleição ––; a vereadora e procuradora da Mulher na Câmara Anna Beatriz da Silva (PSD), esposa do deputado Dimas; e os vereadores Dila e Paulinho da Farmácia (Podemos).
Ao fim, registro aqui, como um acontecimento, algo que deveria ser corriqueiro na política: o debate entre diferentes ‘lados’, democraticamente eleitos, para buscar consensos que respondam aos eleitores, que são A, B, C, D… X, Z –– ou mesmo ateus da política.
Reputo ganha ainda mais respeito institucional e político estes episódios citados permitirem protagonismo a políticos da esquerda –– ideologia que não é do prefeito Zaffa, da maioria dos políticos de sua base do governo ou mesmo ‘de Gravataí’, que ao menos nas eleições de 22 deu seis a cada 10 votos para Bolsonaro.
A democracia é o último refúgio das minorias –– é onde você pode escrever agora em sua rede social, ou subir em um caixote em qualquer lugar e gritar, sem nenhuma conseqüência, que esta democracia é uma ditadura. De toga, ou careca, tanto faz.
Infelizmente, confesso que escrevo dolorido, porque é possível que polític(a)os que citei neste artigo, e cujo comportamento elogio, sejam criticados nas redes antissociais.
Como ‘pedido de desculpa’, oferto como incentivo Rosa Parks, negra ativista dos direitos civis estadunidense, eternizada ao recusar-se a ceder o lugar num ônibus para um homem branco: “Você nunca deve ter medo do que está fazendo quando está certo”.