Faleceu aos 90 anos o médico Floriano Torres, uma das figuras mais marcantes da história de Gravataí e o profissional que por mais tempo serviu ao Hospital Dom João Becker. Ao longo de 59 anos de atuação, entre 1963 e 2022, Dr. Torres foi não apenas médico obstetra responsável por mais de 10 mil partos, mas também gestor hospitalar, líder comunitário e figura pública de destaque.
“Tendo em vista o falecimento do Dr. Torres, é possível afirmar, sem exagero, que se trata de uma das personalidades mais importantes dos últimos 80 anos da história de Gravataí. Sua trajetória confunde-se com o desenvolvimento da cidade, tanto na área da saúde quanto na vida pública e comunitária”, aponta o historiador Amon Costa, que dedicou ao médico coluna publicada no portal Giro de Gravataí e prepara um biografia.
“Como agente do gabinete da Presidência da República em Gravataí, Dr. Torres evitou que muita gente fosse presa na ditadura sob alegações falsas”, recorda o historiador, que possui 18 horas de gravações com Dr. Torres, citando história inédita, assim como algumas das fotos que cedeu ao Seguinte: para ilustrar a reportagem.
Natural de Bagé, o médico foi convidado a se instalar em Gravataí pelo também histórico Dr. Luiz Bastos do Prado, que pretendia abrir uma casa de saúde no município. À época, Torres exercia a medicina em Casca, a 235 quilômetros da Capital. A decisão de vir para Gravataí teve influência direta da esposa, Vera, que desejava aproximar-se da família em Porto Alegre. Assim, iniciou-se, em 1963, uma trajetória que se tornaria indissociável da história da cidade.
Entre 1965 e 1970, o médico esteve à frente do Dom João Becker e desempenhou papel crucial no combate à tuberculose, tratando pessoalmente milhares de pacientes e evitando que a doença se alastrasse pela região.
O médico também foi figura relevante na vida política do município. Filiado inicialmente à UDN e, depois, à ARENA, exerceu mandato de vereador e chegou à presidência da Câmara Municipal, onde foi um dos idealizadores do Distrito Industrial de Gravataí. “Ligado inicialmente à UDN, e mais tarde à ARENA, o Dr. Torres era reconhecido por sua postura de cavalheiro mesmo nos tempos mais acirrados da política local”, registrou Amon Costa. “Soube dialogar com todos os campos ideológicos, sempre com respeito e elegância, sendo um verdadeiro lord no trato com a oposição.”
O legado de Dr. Torres não se limita à medicina e à política. Foi um dos articuladores da criação do 17º BPM, importante marco na segurança pública municipal, e também atuou na preservação ambiental, ao lado de ecologistas, na mobilização que pôs fim às drenagens do Banhado do Rio Gravataí.
Em 2022, o médico foi homenageado pela Câmara Municipal de Gravataí, juntamente com outros três profissionais históricos — Francisco Feijó, Glair Bailon e Luiza Cabral —, em proposição conjunta do Hospital Dom João Becker, da Associação Médica de Gravataí (AMG) e do Legislativo municipal.
Para Amon Costa, “a ampliação do Hospital Dom João Becker, nos anos 1960, só foi possível graças a um empréstimo pessoal em seu próprio nome, gesto que revela não apenas coragem, mas amor incondicional por Gravataí”.
“Por sua vida, seu exemplo e sua dedicação a Gravataí, o Dr. Torres merece a mais alta reverência, homenagem e simbolismo. Sua memória permanecerá como inspiração para todos que acreditam na força transformadora da medicina, da política e do amor pela cidade”, conclui o historiador, que sugere como homenagem batizar a maternidade do hospital com o nome do médico.
A Prefeitura divulgou nota de pesar.
