crise do coronavírus

Gravataiense com COVID 19 relata drama de uma Itália devastada

Luciana Abati pede responsabilidade aos brasileiros

A quarentena que se prolonga desde o fim de fevereiro sempre ganha um desconforto extra no fim de noite. Por volta das 20h (16h no Brasil), diariamente, o governo italiano atualiza o balanço sobre o novo coronavírus no país. A cada divulgação, a pandemia ganha números de uma tragédia que já é comparada com os horrores da Segunda Guerra (1939-1945). Um fardo que fica mais e mais pesado para um povo conhecido por sua alegria e união, mas que agora sequer consegue chorar seus mortos com a dignidade que merecem.

Isolada, com medo, a ex-modelo Luciana Linck Abati, 42 anos, aguarda em casa, ao lado do esposo, Marco, e do filho Henrico, 9 anos, o momento em que será possível retomar uma vida minimamente normal. Nas últimas 24 horas, 766 pessoas morreram. Entre 3 de abril e 23 de março, data em que foi entrevistada pelo Seguinte:, o total de mortes por dia chegou a ter picos superiores a 800 – e nunca baixou de 600. O total de vítimas já é superior a 15 mil.

– A a cada novo boletim é um pânico, a gente espera que os números caiam, mas não acontece. Está longe de acabar – afirma.

De fato, a solução parece distante. São mais de 120 mil casos da covid-19 na Itália. As fronteiras estão fechadas por tempo indeterminado. Quem vive no país lida com um confinamento radical que pune com prisão os que descumprem as normas do governo. O desafio é proteger a saúde mental – dividida entre lamentar a perda dos que se foram, a adaptação ao modo de vida atual e o medo do contágio – ou superar fisicamente a doença.

Luciana, o esposo e o filho testaram positivo para o coronavírus. Os sintomas, segundo ela, foram devastadores.

– Meu filho chegou a perder a consciência, eu consegui reanimá-lo. Os médicos chamam de crise de ausência. E 48 horas depois, meu marido teve febre de 41 graus, não conseguia respirar… ficou umas duas semanas de cama. Depois, foi comigo… os mesmos sintomas… dores intensas nas articulações… aí que os médicos conseguiram diagnosticar – conta Luciana.

Um mês depois do filho sentir os efeitos do vírus, ela ainda luta para recuperar a condição física.

– Eu tive algumas recaídas porque tenho bronquite asmática, então tenho cuidado muito dos pulmões e seguido as recomendações médicas.

Luciana deixou Gravataí há 15 anos para viver em Copparo, na província de Ferrara. Atualmente é comentarista esportiva em um programa de televisão e usa sua imagem pública para apelar aos amigos italianos e aos brasileiros para que levem a doença a sério. Com a autoridade de quem viveu o vírus literalmente na pele.

– Eu sempre fui uma esportista, estou acostumada a correr 10km, 20km por dia. Nunca pensei que isso pudesse acontecer comigo. Então, assim, gente, não coloquem na cabeça que isso é coisa de pessoas de uma certa idade, é questão de vários fatores que até mesmo a ciência ainda desconhece – Alerta.

O fato dos italianos não terem dado, segundo Luciana, atenção necessária à crise no início, contribui para os números tão elevados. Ela culpa diretamente o governo.

– O governo (da Itália), sabia, o da Alemanha e da França também, mas não fizeram nada. Até então era uma simples gripe, não era nada de grave. Mas infelizmente está aí o resultado, o mundo está vendo o que está acontecendo aqui. Então acho que faltou ética, faltou respeito… é uma guerra entre canalhas – comenta.

Nas redes sociais, Luciana atualiza amigos e familiares sobre a saúde da família, e faz alertas ao Brasil.

– A população é sempre quem paga o pato. Aqui ocultaram, mentiram, mas não vou odiar meus amigos franceses, meus amigos alemães, meus amigos chineses porque os governantes deles não agiram corretamente. Então eu peço a mesma coisa, como alguém do Brasil, não gostaria de ser odiada… peço bastante, o momento é de união e de responsabilidade. Não saiam de casa, não há uma outra forma de acabarmos com esse vírus.

Na despedida, a gravataiense deixa uma mensagem de esperança aos brasileiros:

– Eu gostaria que o Brasil não chegasse ao ponto de colocar o Exército nas ruas como aqui, eu acho que, se fossemos mais inteligentes, teríamos esse discernimento e não precisaríamos ser controlados dessa forma. É uma questão de consciência. Responsabilidade, Brasil, não subestimem o que está acontecendo, pois nossas imagens falam por si.

 

Assista a entrevista completa:

 

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