SAUL TEIXEIRA

Grêmio 122 anos! Relembre o ‘canhotaço’ que calou Galvão Bueno

Era impossível não torcer pelo Grêmio de 95 e 96. A não ser que você fosse colorado fanático. Eu respeito. Mas eu, aos 11 anos, ainda embriagado pela Copa de 94, tinha naquele time uma paixão platônica. Paixão pelo futebol. Notadamente, pela arte de chutar a bola!

Foi nesse contexto que entrei no quarto dos meus pais e liguei a TV. Singelas 14 polegadas. Grêmio x Portuguesa emoldurando um lindíssimo domingo de verão na velha capital do Estado. Viamão parou! Rola a gorducha…

O Tricolor precisava, no mínimo, igualar o placar da semana anterior: derrota por 2 a 0 no Morumbi. Além da vantagem no placar, a Associação Portuguesa de Desportos ostentava nomes como Zé Roberto, Capitão, Gallo, Alex Alves e Rodrigo Fabri.

O Grêmio, com a base que virou prosa e verso Brasil afora, começava pelo mítico Danrlei. E tinha um grande diferencial em relação à temporada anterior: Mário Jardel já estava estufando as redes na Europa, fazendo Paulo Nunes assumir o protagonismo ofensivo.

Tanto que o Diabo Loiro terminou o campeonato com a chuteira de ouro, com 16 tentos assinalados. Foi justamente o camisa 7 que, após um bate-rebate, domina de direita, ajeita para o “pé ruim” e vence Clemer. Festa no velho e saudoso Casarão. Depois disso, porém… o sofrimento passou a vestir azul, preto e branco…

O sol já havia virado crepúsculo. Galvão Bueno, o senhor que é um dos principais responsáveis pela minha paixão pelo futebol, àquela altura já era rival: “O narrador é deles”, observou meu pai, colorado! “Claro, eles sempre torcem para os caras de São Paulo e do Rio de Janeiro”, complementou minha mãe, gremistona, bairrista e docemente passional.

No segundo tempo, troquei a solidão do quarto dos velhos pelos aposentos do meu irmão. Ele, três anos mais velho, estava na casa do vizinho. Lá não havia Saulzão e sua secação, por exemplo.

Dinho deixou o gramado para a entrada de Aílton. Já era noite! Tempos depois, o mundo conheceu o enredo: “Pedi pro Felipão me tirar e colocar o Aílton”. Será que deu certo? Carlos Miguel, que já cumpria a função de segundo volante, fez um lançamento de “800 metros”. Zé Afonso, o Afonsão, disputou pelo alto…

A câmera da Globo viaja pelo espaço aéreo porto-alegrense. Ao voltar ao enquadramento original, concomitantemente, ajeito o travesseiro para apreciar a história que seria escrita em 3, 2, 1…

Aílton. Aílton. Aílton!!!! De perna esquerda, uma bangornada. Uma bomba. Um tiro. Uma tijolada. Uma flechada. Uma raquetada… Assim como Paulo Nunes, gol assinalado com a “perna ruim”. Ruim pra quem, cara-pálida?

Galvão Bueno e seu grito de gol nada, nada entusiasmado. Baixinho. Protocolar. Quase constrangido. Apenas para que o vazio não tomasse conta da transmissão. Gol da Nigéria nos Jogos Olímpicos de 1996. Gol da França na Copa de 98. A entonação foi a mesma. Minha mãe tinha razão. “É É É É É É É É É É É É É É É É É É É É É É É É É É É É… É DO GRÊMIO”.

No segundo momento da narrativa, sim!
Carlos Eduardo dos Santos limpou um pouco a barra com a Nação de Três Cores e encarnou o bom e velho Galvão Bueno.

Termina o jogo. Vou com a minha mãe para a frente de casa acompanhar a carreata, o foguetório e a justíssima euforia. A Avenida Liberdade, na Santa Isabel, virou Estádio Olímpico. Meu irmão retorna à Teixeira’s House ainda emocionado. Camiseta tradicionalíssima. Boné temático. Bandeira enrolada no pescoço. “Foi de xiripa”, reclamou meu pai.

Meu irmão deu de ombros! Minha mãe acabara de acender uma vela em gratidão a São Jorge. Eu já estava chutando a bola de canhota na parede, à espera das Olimpíadas do Faustão. Tudo isso em 15 de dezembro de 1996. A data em que Aílton quase calou Galvão e que, sem dúvidas, irritou Saulzão.

Parabéns à Nação de Três Cores pelos 122 anos de títulos, voltas olímpicas, taças no armário e imortalidade!

Grêmio é história!!!

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