A greve contra a ameaça de extinção do Ipag Saúde continua. A decisão foi praticamente unanime na assembleia do sindicato dos professores, que nesta sexta lotou mais uma vez o CTG Aldeia dos Anjos em defesa do plano de saúde que atende 10 mil pessoas entre servidores ativos, inativos, pensionistas e familiares.
Mesmo que nestes tempos binários as patrulhas do pensamento façam parecer reacionarismo ou esquerdopatia ser justo, e como não sou caça-cliques a partir de lacrações de esquerda ou tosquices de direita, é da responsabilidade do bom jornalismo editorial opinar em momentos de crise: a paralisação que chega hoje aos quinto dia caminha para um resultado que não é bom para ninguém.
Perderão servidores, governo e população.
Recomendo a leitura dos dois últimos artigos que escrevi no Seguinte: sobre a greve: Votar extinção do Ipag Saúde agora é bom para todos; deixem os vilões para depois e Justiça nega suspensão da extinção do Ipag Saúde; é hora de resolver isso, ou alunos e servidores perdem. São cronológicos, tem contexto e reforçam a análise de que as coisas vão mal.
Explico.
Se o objetivo do SPMG é não perder a assistência em saúde, uma greve muito longa é ruim para o sindicato, que testa a cada dia sua capacidade de mobilização e o poder de convencimento junto aos alunos, pais e população em geral, sem falar no efeito conexo com a pressão desses eleitores sobre os vereadores de cada comunidade.
Greve cansa.
Uma greve por tempo indeterminado só se justificaria pelo pior: desgastar o governo, empurrar o Ipag Saúde com a barriga e acreditar que o próximo governo que assume em 2021 vai pagar a conta. Mas isso, independentemente de quem for o vilão, ou os vilões, terá custo na vida das pessoas.
Volto a isso. Antes, informo que, nos Jogos Vorazes que contrapõe narrativas de sindicato e governo, a Prefeitura partiu nesta sexta para a ofensiva com panfletos distribuídos nos bairros e vilas explicando os motivos para extinção do Ipag Saúde.
Nos materiais, que não são apócrifos, são assinados como 'Prefeitura de Gravataí', é feito o balanço entre a 'ideologia dos números', que mostra a falência do plano como é hoje, e a 'ideologia política' do prefeito, que nos últimos anos transcrevo na expressão '300 mil habitantes não podem pagar por 5 mil servidores'.
A tradução da informação que está chegando às pessoas é óbvia: além de colaborar para as aposentadorias, você já paga quase metade do plano de saúde de alguns servidores e agora querem que você socialize os prejuízos desse plano.
Mais: com dinheiro que poderia ir para obras e serviços.
Não esqueçam que estamos falando com uma população qua majoritariamente usa o SUS, não tem plano de saúde para si ou familiares.
Neste sábado, um vídeo produzido pela Prefeitura deve circular pelos canais de comunicação do governos e pelo Grande Tribunal das Redes Sociais.
Assim, não seria hora de um acordo entre SPMG, governo e vereadores para votar logo o PL 19?
Caso o governo aprove, o sindicato pode ir a justiça buscar a anulação. Antecipa uma disputa no tapetão que, adiada, pode acontecer enquanto o Ipag Saúde definha, esgota seu orçamento até o meio do ano e não conseguirá prestar os serviços a seus doentes devido ao descredenciamento de hospitais, clínicas, laboratórios, médicos e dentistas.
Os usuários pagarão e não terão serviços. Entende por que isso mexe com a vida das pessoas que usam o plano?
Possivelmente, não há momento melhor do que o agora para o SPMG influenciar o voto dos vereadores, já que professores e outros trabalhadores em educação passaram a semana conversando com alunos, pais e vizinhos, relatando os problemas que enfrentarão sem plano de saúde.
O caso da servidora Lorena, em tratamento de câncer, é um dos mais tristes exemplos que a categoria usa para transportar a polêmica da frieza dos números para as dores da vida real.
Mas, qual é o prazo para luta? Ninguém solta a mão de ninguém mesmo caminhando firme para o precipício?
Em Um Inimigo do Povo, que não farei spoiler por ser daqueles livretos de bolso de fácil e rápida leitura, escrito em atos, como uma peça de teatro, por Henrik Ibsen, dr. Stockmann, o homem que queria salvar a cidade, torna-se persona non grata da sociedade, vítima do monopólio da verdade pela maioria. Antes, era herói. Assim são as contradições humanas. Justos ou injustos, dramáticos ou pragmáticos, argumentos há, de servidores e governo. Inegável é que, a medida que as horas tornam-se dias nesta greve, algum lado arrisca experimentar o que é ser inimigo do povo.
Ou os dois.