polêmica em Glorinha

Grupo do não faz pressão contra aterro na Câmara

Plenário do Legislativo de Glorinha foi tomado na noite de ontem por manifestantes contrários à instalação de um aterro sanitário na cidade

A cidade de Glorinha, a 26 quilômetros do centro de Gravataí (44 quilômetros de Porto Alegre) e com seus 7.588 habitantes (projeção do IBGE para 2016) viveu uma noite atípica, ontem (28/8), durante a sessão semanal da Câmara de Vereadores. O plenário – com 50 lugares – ficou lotado com mais de 100 pessoas, sem contar as que ficaram na escadaria de acesso e na frente do prédio.

Um total de quase 500 pessoas foi protestar contra a instalação de um aterro sanitário no município – informação antecipada com exclusividade pelo Seguinte: na terça-feira passada (22/8) – pela Estre Ambiental, do Paraná, um investimento estimado em R$ 100 milhões com geração de até 1.000 empregos, diretos e indiretos.

A mobilização de menos de 10% da população foi para pressionar os nove vereadores de Glorinha a rechaçar a instalação da empresa, alegando principalmente preocupação com questões ambientais e formação de um cinturão de miséria na cidade, além de reflexos como aumento no tráfego de veículos pesados.

A posição pelo “não” é radical, independentemente da geração de empregos prometidos pela Estre – fora as sistemistas – e dos tributos que podem aumentar em 50% a arrecadação municipal em dois anos e dobrar o orçamento (hoje na casa dos R$ 30 milhões) em quatro anos.

 

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Beleza do local

 

O empresário, um dos líderes do movimento e proprietário de um sítio de cerca de 70 hectares lindeiro ao terreno com aproximadamente 250 hectares comprado pela Estre por – fala-se! – R$ 5,5 milhões para instalação do aterro, José Cleber de Souza, diz “não” por receio de as vertentes e cursos d’água (um arroio e duas sangas) serem contaminados.

E vai mais longe quando externa preocupação com o aumento do tráfego de veículos por dentro da pacata cidade, com cerca de 300 caminhões todos os dias transportando o lixo produzido num raio de até 150 quilômetros de Glorinha, ou cerca de 40 municípios da Região Metropolitana, Vale dos Sinos e do Litoral.

— Imagina esse trânsito todo da Freeway em época de veraneio. Sem falar que vai acabar com a beleza natural do lugar — preocupa-se José Cleber.

Outro contra, o professor de Biologia Leandro Martins, acredita até na formação de um cinturão de miséria em Glorinha, com milhares de pessoas mudando para a cidade em busca de emprego – sem sucesso – ou simplesmente para tentar sobreviver com as falhas de controle da empresa no transbordo do lixo, que é a diferença entre o que é recebido em uma cidade e o que efetivamente entra para ser processado pela empresa.

— Vai encher de catador na volta para pegar o lixo ou o material reciclável que puder para tentar vender — projeta o professor, salientando que uma das unidades da Estre chegou a ser interditada por causa da falta de controle.

— Estão tentando mascarar isso com a promessa de uma usina de reciclagem — acusa Leandro.

Outro argumento do professor é que o terreno adquirido para instalação do aterro sanitário fica dentro de uma Área de Proteção Ambiental (APA), que é o Banhado Grande. Leandro acha que o volume de lixo que irá para o local é muito grande e que isso sugere elevados riscos de grave acidente ambiental.

 

Requerimento

 

Na sessão de ontem do Legislativo de Glorinha, os vereadores Oscar Weber Berlitz, Geani Maria dos Santos e Rafael Schönardie (ambos do PMDB) e João Carlos Soares (PP) apresentaram um requerimento que acabou sendo aprovado por unanimidade, para que o prefeito Darci José Lima da Rosa (PSD) adote as medidas necessárias para impedir a instalação de aterros sanitários no município.

Outro que se manifestou na forma de ofício enviado ao presidente da Câmara, José Flávio Ckless Soares (PP), foi o presidente do Sindilojas de Gravataí, que tem sub-sede em Glorinha, o empresário José Nivaldo da Rosa, com “o objetivo de fazer eco às preocupações dos associados do comércio nesta prestigiosa cidade, quanto à possibilidade de um aterro sanitário em Glorinha".

— Também alertamos para o fato de a empresa Estre, que se propõe a realizar o investimento em Glorinha, tendo já adquirido 230 hectares (sic) em Vila Nova para este fim, é investigada na Operação Lava Jato e tem um histórico de problemas ambientais causados por suas operações em todo o Brasil — escreveu o presidente dos lojistas.

 

De afogadilho

 

O advogado João Batista Linck, também ouvido pelo Seguinte:, disse que o encaminhamento do assunto foi mal feito por parte do Executivo chefiado pelo prefeito Darci Lima da Rosa. Ele lembra que Glorinha tem 90% da sua área territorial dentro da APA Banhado Grande, e entende que antes de qualquer decisão deveria ter sido promovida uma ampla discussão com a comunidade.

— O processo foi feito de afogadilho. Não conversaram com a sociedade para saber se tem interesse ou não — acusa o advogado.

Questionado se há elementos suficientes para embasar uma ação judicial visando impedir a Estre de instalar um aterro sanitário em Glorinha, o advogado João Batista Linck não foi taxativo. Lembrou, entretanto, que a empresa tem que se submeter a – e obter – todos os licenciamentos ambientais junto à Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam).

Até o final desta semana a comissão que mandou fazer dezenas de camisetas com a frase “Salve Glorinha! Lixão aqui não!!!” e que lotou a Câmara – inclusive com pessoas portando cartazes de protesto – deve decidir os próximos passos do movimento e analisar, inclusive, se há sustentação cabível para ingressar com ação na Justiça visando impedir os planos da Estre no município.

 

Veja no vídeo abaixo o que pensam vereadores e lideranças do movimento contra o aterro sanitário em Glorinha.

 

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