Conversa de surdos. Pode usar essa expressão? Porque se for grosseira, retiro, afinal, a gente tem que caminhar para frente, tipo catanhão, não como caranguejo. Mas, nos Jogos Vorazes que contrapõe governo e sindicato dos professores sobre o PL 19, que extingue o Ipag Saúde, o plano de saúde que cobre cerca de 10 mil pessoas entre servidores ativos, inativos, pensionistas e familiares, cada ‘lado’ fala sozinho. Em votação de requerimento a que me refiro a seguir, o Ipag Saúde acabou de virar um zumbi do Walking Dead.
Nem me refiro ao prefeito dar entrevista sob tutela da própria assessoria de imprensa e os jornais publicarem, ou a cúpula do sindicato falar só por lives no Facebook, mas o som dos monólogos imperou quando o projeto de lei não foi votado na sessão desta terça, pela Câmara de Vereadores de Gravataí, o governo acenou com reunião da categoria com o prefeito caso a greve fosse suspensa, o que, por óbvio, para quem reconhece greve, o SPMG não aceitou.
Como amanhã, quarta-feira, a cobertura oficial da sessão deve estar nos jornais que não dormiram mais cedo, para quem não tiver preguiça de acompanhar, irei para além na análise: vou até maio, que é quando esgotará o prazo para votação do projeto.
Antes, parênteses: os 45 dias para regime de urgência em projetos foram aprovados na gestão de Rita Sanco (PT) – em 2011, já em processo de golpeachment e tão vilã para os políticos como Dilma Rousseff – como uma garantia para a oposição não ser patrolada pelo governo. Assim, hoje Gravataí deve ser o único lugar do mundo em que ‘urgência’ dura um mês e meio!
Ah, qual tua sugestão? Duas semanas, que correspondem a duas sessões, já estaria mais do que bom, para o governo ou a oposição da vez.
Mas, hoje, que é a ‘pauta-bomba’ de Gravataí, o PL 19, os 45 dias ajudaram o governo e atrapalharam a oposição, hoje emendada como o sindicato dos professores. É da democracia.
Os grevistas, percebendo o esvaziamento da greve – como sempre falo: não é torcida, ou secação, são os fatos, aqueles chatos que atrapalham argumentos, apresentei os números no artigo de ontem Justiça nega nova tentativa de barrar extinção do Ipag Saúde; terça é o dia para votar – queriam votar hoje, perdendo ou ganhando. A presidente Vitalina Gonçalves fez apelo em live, na segunda, no perfil do Facebook do SPMG.
Mas, voltemos, ou avancemos até maio, quando o PL 19, ao que parece, será votado, já que hoje requerimento do vereador Paulo Silveira (PSB), pedindo votação nesta terça, foi derrubado pelos previsíveis 12 votos a 8 (publico a votação ao fim do artigo), o que mostra que, como antecipei há poucas horas no artigo Extinção do Ipag Saúde não será votada hoje; aposta do governo é esvaziar greve, o governo aposta na estratégia de matar a greve no cansaço.
Antes, vamos lá: faço textos longos porque me sinto em compromisso com a história de Gravataí. O que está escrito é o que fica. Não confio em tuitadas. Se alguém só reproduz propaganda, não sou eu. Então, paciência para que eu conclua o raciocínio sobre as consequências políticas inevitáveis do dia de hoje: aconteça quando acontecer, o governo Marco Alba terá dois grandes testes para sua base parlamentar, na votação do PL 19.
Na minha avaliação, uma batalha está ganha, a guerra, dependerá de muita inteligência do general. Algum vereador terá que se imolar pela causa.
Explico, sempre alertando, e é necessário fazer isso nestes tempos binários (em que você ou está com deus ou com o diabo, e não lhe permitem não acreditar em um ou outro, ou nos dois), que não faço neste artigo uma avaliação do certo ou errado (e até posso fazer mais a frente), mas apenas uma leitura política: Marco Alba vai aprovar a extinção do Ipag, por 12 votos a 8, e como não haverá empate, o presidente do legislativo Clebes Mendes (MDB) não precisará votar.
Foi o resultado de agora há pouco, que antecipe há duas semanas no artigo Como vereadores devem votar extinção do Ipag Saúde. O que mudaria a posição dos 12 apóstolos?
Mas, e aí vai informação, não achismo, que certamente chegará ao próprio prefeito: se a justiça aceitar o argumento da ação anulatória que o SPMG vai ingressar na justiça, ou da ação popular que um cidadão bem orientado vai apresentar, ambas apontando o descumprimento do artigo 71 da Lei Orgânica Municipal (LOM), como já tratei no artigo Justiça nega suspensão da extinção do Ipag Saúde; é hora de resolver isso, ou alunos e servidores perdem, Marco Alba precisará alterar a LOM, a ‘constituição municipal’, e precisará de 13 dos 21 votos; o que HOJE não tem.
Dois que já votaram com a base governista nas calendas – Dilamar Soares (PSD), que já foi líder do governo; e Wagner Padilha (PSB) – se comprometeram muito com a oposição na campanha midiático-emotiva feita de forma brilhante pelo SPMG.
Antes, falo do caso Wagner: assinou ação na justiça, junto aos outros sete da oposição, apontando ilegalidade no PL 19 pelo descumprimento do artigo 71. Também fez vídeos, como fazia na época do ‘Tô de Olho no Buraco’, se colocando ao lado dos professores, servidores e familiares que usam o plano de saúde. Mais: tem decisão partidária que o ameaça de expulsão caso não siga o partido, que decidiu pelo voto contra a extinção do Ipag Saúde.
Já Dilamar derrubou as pontes do Parque dos Anjos na sessão desta terça: levantou a massa de grevistas que lotavam o plenário ao trazer relatório do Tribunal de Contas do Estado sobre o qual sustentou que recursos com orçamento destinado para manutenção de prédios públicos, principalmente na área da educação, poderiam ter sido aplicados na manutenção do plano de saúde dos servidores.
Ao fim, quem assistiu à sessão de hoje, que ainda nem terminou, já sabe que, no voto, o Ipag Saúde será extinto por 12 a 8. Mas, se a justiça mandar alterar a ‘constituição municipal’, o governo não tem os 14 votos necessários, ainda.
Mas, é aquela coisa, todo mundo sabe que, como está, o Ipag Saúde faliu, mas o futuro chega tão rápido que às vezes já está atrás da gente.
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