CARLOS WAGNER

Imprensa sabe quais são as carências de equipamentos das Forças Armadas?

Em caso de uma agressão estrangeira ao território nacional, qual é o plano de defesa das Forças Armadas? Este é o tipo de preocupação que nós jornalistas nunca tivemos. Mas deveríamos ter. Os tempos mudaram. Retornou a corrida armamentista e cada país é responsável pela sua segurança, como pregou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump (republicano), 79 anos. Vamos aos fatos. Os Estados Unidos não investem em planos para defender os seus vizinhos sul-americanos em caso de invasão estrangeira. Por muitos anos, limitaram-se a participar de manobras militares conjuntas e de alguns convênios de ajuda tecnológica. Desde 1949, a atenção dos americanos está voltada para os países europeus ocidentais, com os quais fundou a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). A principal missão da Otan era evitar a expansão da União Soviética, uma reunião 15 países comunistas, sob a liderança da Rússia, nascida em 1921 e dissolvida em 1991. A URSS, como era conhecida, comandava o Pacto de Varsóvia, aliança militar que reunia os países do Leste europeu, a então chamada Cortina de Ferro. Logo que assumiu o seu mandato, em 20 de janeiro, Trump avisou seus parceiros da Otan que não iria mais gastar dinheiro para protegê-los e os aconselhou que aumentassem os seus gastos militares – há abundância de matérias na internet. Até então, os Estados Unidos eram o xerife do mundo.

A recomendação de Trump para que os aliados aumentassem os gastos militares tocou o alarme ao redor do mundo e foi a senha para o início de uma nova corrida armamentista. No Brasil, cumprindo uma promessa de campanha, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), 79 anos, anunciou investimentos públicos e privados de R$ 112,9 bilhões na indústria de defesa. Qual é o atual estágio destes investimentos? Vasculhei os noticiários em busca de informações sobre o assunto e encontrei pouca coisa. Comecei a nossa conversa citando a defesa do território nacional por considerar que os acontecimentos desta semana são uma boa oportunidade para chamar a atenção para a necessidade de investimentos nas Forças Armadas. Quais os acontecimentos? Até sexta-feira (12), os ministros da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) deverão ler as sentenças do ex-presidente da República Jair Bolsonaro (PL), 70 anos, e de outras sete pessoas que atuaram como ministros e funcionários de alto escalão do seu governo. Os oito estão sendo julgados por cinco crimes, entre eles de terem formado uma organização criminosa para tentar dar um golpe de estado. Os oito fazem parte de um grupo de 37 pessoas (27 militares da ativa, reserva e reformados) que estão sendo julgados pelos cinco crimes. A Procuradoria-Geral da República (PGR) dividiu os acusados em quatro núcleos. Bolsonaro e os sete que serão sentenciados até sexta-feira pertencem ao Núcleo Crucial. Os outros núcleos serão julgados até o final do ano. Aqui cabe uma explicação. Bolsonaro é capitão reformado do Exército, simpatizante e defensor dos militares que deram o golpe de estado de 1964, e que durante os 21 anos que governaram o país se envolveram em torturas e assassinatos de presos políticos. Em 1985, saíram do poder deixado como herança uma administração federal bagunçada e uma hiperinflação. Quando deram o golpe, Bolsonaro era um jovem de 10 anos. Em 2019, ao assumir o seu mandato presidencial, levou mais de 6 mil militares (da ativa, reserva e reformados) para trabalhar no seu governo. Este gesto foi uma tentativa de dividir as Forças Armadas. Tanto que os militares que estavam no governo e não concordavam com as decisões de Bolsonaro eram demitidos e xingados nas redes sociais pelo Gabinete do Ódio, como a imprensa apelidou um grupo de pessoas do círculo pessoal do ex-presidente que atacavam com fake news os seus adversários. Na época, pelo menos 10 generais perderam seus cargos.

Em 2022, Bolsonaro e seu grupo político tentaram dar um golpe de estado e falharam. Toda a história da tentativa do golpe é contada nas 884 páginas do relatório final da investigação da Polícia Federal (PF) que indiciou o ex-presidente e outros 36 pela tentativa de golpe. Relatório aponta que um dos motivos do fracasso foi o fato de que os comandantes do Exército, general Freire Gomes, 68 anos, e da Força Aérea Brasileira (FAB), tenente-brigadeiro do ar, Carlos Almeida, 65 anos, se opuseram ao golpe. Aqui é o seguinte. Somando a corrida armamentista desencadeada por Trump com o fracasso do golpe de Bolsonaro e seus seguidores temos uma grande oportunidade de virar uma página na história das Forças Armadas do Brasil, afastando os seus quadros da disputa política, investindo na profissionalização da tropa e reativando a industria bélica nacional. O país precisa de tropas equipadas e treinadas, porque a agressão estrangeira ao território nacional está em pleno andamento. Ela não é feita por um país, mas por grupos binacionais formados por pistoleiros profissionais que exploram garimpos nas terras indígenas da Floresta Amazônica, de onde extraem ouro, bauxita e madeiras nobres que exportam pelos portos do Pacífico para a Ásia e outras parte do mundo. A presença dos militares nas fronteiras é fundamental para lidar com este problema. Nós brasileiros aprendemos que a atuação dos militares para combater o tráfico de drogas e armas nas grandes cidades brasileiras é inútil e cara. Imagine a situação. Um traficante faz um disparo contra um grupo de combate do Exército. Se os soldados respondem ao fogo, muitos civis vão se ferir e morrer. Nas fronteiras, em especial na Floresta Amazônica, a conversa é outra e a surpresa está do lado das tropas porque os seus contingentes são formados por índios e moradores da região, que conhecem os caminhos da mata como a palma da mão e podem fornecer informações valiosas para os serviços de inteligência.

Uma informação valiosa é uma arma tão poderosa como um míssil. Dito isto, creio que chegou a hora da imprensa virar a página na cobertura sobre as Forças Armadas. Temos que começar a fiscalizar e exigir do governo o investimento na profissionalização das tropas. São escassos os candidatos a cargos executivos e legislativos que incluem nos seus planos de investimentos a defesa do território brasileiro. Em 2026, temos eleições nacionais. A disputa acontecerá em um ambiente inédito. Pela primeira vez um grupo que articulou e tentou executar um golpe de estado sentou-se no banco dos réus. Também é a primeira vez que um presidente dos Estados Unidos retalia o Brasil, taxando em 50% os produtos exportados para o mercado consumidor americano. E coloca como condição para negociar a redução da tarifa a anistia a Bolsonaro e seu grupo de golpistas. Por último, a cereja do bolo. Um dos filhos do ex-presidente, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), 47 anos, abandonou o seu mandato de deputado federal e estabeleceu-se nos Estados Unido, onde montou um grupo de lobby que conseguiu influenciar o governo Trump contra os interesses brasileiros. No Dia da Independência do Brasil, domingo (7), bolsonaristas fizeram manifestações exibindo grandes bandeiras americanas e reivindicando a anistia do ex-presidente. O tarifaço de Trump causou desemprego em vários setores da economia nacional.

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